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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O "downgrade" da Base das Lajes

Alexandre Guerra, 16.01.15

 

Um grande balde de água fria, terá sido aquilo que a diplomacia portuguesa e o Governo Regional dos Açores sentiram há uns dias quando o demissionário secretário de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, anunciou o novo plano de reestruturação de algumas infra-estruturas militares na Europa. Entre as várias bases afectadas, está a das Lajes, na ilha Terceira, que terá uma redução significativa do seu contingente militar e civil: dos 900 trabalhadores portugueses, 500 serão despedidos, enquanto o número de militares americanos cairá de 650 para apenas 150. Também alguns equipamentos passarão para o Estado português. Um processo que deverá estar concluído no próximo Outono.

 

É um "downgrade" de tal forma acentuado que terá apanhado alguns observadores de surpresa, já que não se esperava que Washington fosse relegar a Base das Lajes para uma condição geostratégica tão menor. Além disso, iam sendo divulgados alguns sinais que apontavam para consequências bem menos negativas. 

 

Sabia-se que a administração americana pretendia reajustar o contingente das Lajes ao novo quadro dos seus interesses geopolíticos e geoestratégicos no mundo, mas não se esperava que o Pentágono deixasse de considerar aquela base como prioritária na projecção da sua política externa. É disso mesmo que se trata. Em quase 70 anos de ligação dos EUA às Lajes, esta é a primeira vez que Washington a deixa "cair". O argumento é financeiro, com vista à poupança de 29,6 milhões de euros por ano.

 

É uma má decisão. Ao contrário de outras bases militares americanas localizadas na Europa continental que também vão ser alvo de redução de contingente, as Lajes tem a particularidade de ser uma base em termos geográficos sem alternativa. Ou seja, se no território europeu continental, a questão de apoio logístico às forças americanas nunca se colocará, tendo em conta o número de bases que existe e a sua relativa proximidade, o mesmo já não se pode dizer do Atlântico Norte. Washington sabe isso, mas está a jogar na presunção de que o seu principal tabuleiro geoestratégico e geopolítico se deslocou para o Pacífico. Nem mesmo o Médio Oriente parece merecer agora tanta atenção, sobretudo numa altura em que os EUA reduzem a dependência energética dos países produtores daquela região. 

 

A decisão da administração de Barack Obama vai ter consequências económicas muito negativas para a comunidade da Terceira, mas também os EUA poderão vir a pagar cara esta opção, já que a História tem comprovado a importância das Lajes na projecção do poder militar americano nas várias crises que têm eclodido no Atlântico Norte e Médio Oriente ao longo das últimas décadas. E nada faz prever que novas crises não espoletem e coloquem em causa os interesses dos EUA. E quando isso acontecer, as Lajes já não terá a mesma capacidade de resposta.

 

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