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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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A resposta de Stacey Abrams a Trump

Alexandre Guerra, 06.02.19

 

Por pouco, a democrata Stacey Abrams não se tornou na primeira mulher negra a ocupar o cargo de Governadora nos Estados Unidos. Perdeu nas eleições de Novembro para o republicano Brian Kemp, num processo muito disputado e polémico no estado da Geórgia, suscitando, por parte da derrotada e dos seus apoiantes, duras críticas ao sistema eleitoral, nomeadamente ao processo de elegibilidade e de registo nos cadernos eleitorais. O tema não é novo, mas ganhou particular relevância nas últimas eleições intercalares, perante o acentuar da polarização no sistema político americano. Abrams perdeu nas urnas, mas saiu vitoriosa nas hostes do Partido Democrata, transformando-se numa “rising star”, ao ponto de ter sido escolhida para a tradicional “resposta oficial” ao discurso do Estado da União. Normalmente, é um acto que tem pouca repercussão a nível internacional, mas é de enorme importância interna, no que é o posicionamento do partido em relação a determinadas temáticas e tendências. É normal o discurso de resposta oficial ao Presidente ser feito por um “valor” emergente, sendo que este teve a particularidade de, pela primeira vez, ter sido protagonizado por uma mulher negra.

 

Durante cerca de 10 minutos, Abrams falou da sua vida e do esforço dos seus pais na sua educação. Falou no poder da partilha entre os americanos e na crença de que é sempre possível ir mais além. Lembrou que ninguém tem sucesso sozinho e reforçou a importância do conforto dos amigos e dos vizinhos. Um discurso apontado para a solidariedade e espírito de comunidade.

 

Na vertente mais política, foi dura para a liderança republicana, por não perceber os anseios da classe média, deixando para trás muitos dos trabalhadores, sobretudo ao nível da sua protecção laboral. Não deixou de criticar a política de Trump contra os imigrantes ilegais e o seu carácter repressivo na fronteira, especialmente em relação às crianças, ressalvando que “compaixão na fronteira” não é o mesmo que uma “fronteira aberta”. E, numa jogada astuta, Abrams relembrou que até Reagan (e também Obama) percebeu essa diferença.

 

Não podendo deixar de falar na saúde e nos problemas em torno do Medicaid, Abrams referiu o seu caso pessoal, em que o seu pai sofre há muitos anos de cancro da próstata, tendo confessado que se endividou para poder pagar os tratamentos, lamentando que, numa nação grandiosa como os Estados Unidos, os americanos sejam obrigados a escolher entre tomar os medicamentos ou pagar a renda. Alertou ainda para a alta taxa de mortalidade nos nascimentos, sobretudo entre as mulheres negras.

 

Problemas que afligem milhões de americanos, cujo direito de escolherem as políticas que definem as suas vidas não lhes deve ser negado. E é por isso que Abrams, marcada também pela sua experiência nas eleições da Geórgia, alertou para o drama da “supressão do voto”, onde os eleitores são impedidos de exercer o seu direito. Uma causa que a democrata assumiu de corpo e alma, através do movimento Fair Fight Action, defendendo que são os eleitores que escolhem os seus políticos e não os políticos que escolhem os seus eleitores. Terminou dizendo que, embora esteja muito desapontada com o Presidente Trump, não quer que ele falhe. Uma mensagem bonita e forte.