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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Benjamin Netanyahu "liberta-se" dos ultra-ortodoxos

Alexandre Guerra, 12.03.13

 

 

Uma das consequências do espinhoso processo de formação de Governo em Israel actualmente em curso é o afastamento das formações partidárias ultra-ortodoxas do espectro político executivo que, de uma maneira ou de outra, têm marcado presença ou influência nos governos de direita desde a fundação do Estado hebraico em 1948.

 

Benjamin Netanyahu, vencedor das últimas eleições, deverá optar por alianças com partidos mais moderados, libertando-se, assim, dos constrangimentos impostos pelos ultra-ortodoxos. Porque, o problema que se tem colocado ao longo dos anos na coabitação com aquelas formações não é apenas político. É sobretudo um choque permanente entre diferentes modelos de sociedade. Nem "falcões" como Netanyahu se identificam com o paradigma apregoado pelos ultra-ortodoxos. 

 

Além disso, a classe política e a opinião pública em geral começam a demonstrar uma insatisfação crescente perante aquilo que consideram ser a imposição moral e religiosa de um grupo privilegiado de pessoas que vivem à margem da sociedade e que, sob o pretexto do ensino dos valores basilares da Torah, vão obtendo regalias. Financiamentos governamentais ou a excusa de serviço militar obrigatório são apenas alguns exemplos dos benefícios da comunidade ultra-ortodoxa.

 

Actualmente, cerca de 10 por cento dos israelitas são ultra-ortodoxos, um número que deverá aumentar para 15 por cento em 2025. É uma questão sensível, já que a lógica de ensino ultra-ortodoxo assenta quase exclusivamente no estudo da Torah, excluindo áreas de saber como Matemática, Inglês ou ciências. A par desta realidade, os mais velhos continuam a estudar a tempo inteiro graças aos apoios estatais. 

 

Com a comunidade ultra-ortodoxa "fechada" ao resto da sociedade e virada para si mesma, a consequência natural é um maior desemprego e uma taxa de pobreza mais elevada comparativamente ao resto da sociedade.

 

Mas, talvez o principal desafio para os governantes nos próximos tempos seja gerir a fricção crescente entre a comunidade ultra-ortodoxa e o resto da sociedade israelita (já para não falar dos palestinianos).

 

Recentemente, os activistas ultra-ortodoxos defenderam algumas medidas consideradas radicais e que estão a gerar desconforto entre os israelitas, nomeadamente a tentativa de incutir alguns costumes restritivos na indumentária das mulheres judaicas.

 

Ainda mais preocupante e polémica é a medida que prevê práticas consideradas segregacionistas, tal como a utilização de autocarros e passeios exclusivamente para ultra-ortodoxos, estando os palestinianos proibidos de coabitarem naqueles espaços.

 

Netanyahu, talvez já com pouca paciência para os ensinamentos dos ultra-ortodoxos e antecipando futuros problemas, está a tentar libertar o seu novo Governo das amarras dos radicais da Torah, o que também poderá ser visto com alguma esperança pela sociedade israelita mais "mainstream".  

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Obama não faz "bluff" em relação ao Irão, diz Biden

Alexandre Guerra, 04.03.13

 

Joe Biden, vice-Presidente dos Estados Unidos/Chip Somodevilla/Getty Images

 

Joe Biden falou esta Segunda-feira na conferência anual da Aipac, o maior lobby pro-israelita nos Estados Unidos, para dizer palavras que certamente agradaram à comunidade judaica naquele país. O vice-Presidente dos Estados disse que a ameaça de uso da força contra o Irão feita por Barack Obama não é um "bluff".

 

Biden deixou bem claro que a opção militar continua "em cima da mesa" perante a intransigência do Irão em cessar o seu programa nuclear, no entanto, sublinhou que Washington privilegiará sempre a via diplomática. 

 

Ora, mas é precisamente esta hesitação e inacção demonstrada pela Casa Branca em relação a Teerão que a comunidade judaica nos Estados Unidos não compreende. Para os sionistas e judeus mais radicais a solução defendida é uma acção militar preventiva, do estilo de um ataque nocturno às principais instalações nucleares iranianas.

 

É por esta solução que a comunidade judaica faz agora lobby junto de Obama. Resta saber até quando irá resistir o Presidente americano às pressões do lobby judaico, sobretudo se, entretanto, o Irão voltar a desafiar a comunidade internacional com o anúncio de mais etapas no seu programa nuclear. 

 

A bomba ainda está longe, mas o dossier iraniano serve os interesses de Netanyahu

Alexandre Guerra, 04.01.13

 

 

Em Outubro último, e já depois da intervenção cénica do primeiro-minisro israelita, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral das Nações Unidas, o Diplomata escrevia que "qualquer observador mais atento sabe que Israel jamais permitirá que Teerão chegue a um estádio próximo da bomba atómica". E acrescentava ainda "que se até aqui não houve qualquer acção militar israelita, isso deve-se não tanto às pressões de Washington para a contenção, mas sim ao facto de Israel ainda não se sentir verdadeiramente ameaçado com o poder nuclear iraniano".


O Diplomata continua acreditar nesta lógica, reforçada pelas declarações proferidas esta Quinta-feira por Netanyahu, durante o tradicional encontro anual com os embaixadores israelitas colocados no estrangeiro. "Bibi" disse que o Irão ainda não passou a tal "linha vermelha" traçada por Israel. 


Provavelmente, o Irão ainda estará longe de chegar a essa "linha vermelha" que, de acordo com Israel, será quando 90 por cento do processo já estiver concluído. Netanyahu tem dito que isso pode acontecer já na Primavera ou no Verão. O Diplomata dúvida, embora compreenda o "jogo" de Netanyahu, que vai gerindo o dossier nuclear iraniano em conformidade com os seus interesses.

 

A relatividade das palavras no Médio Oriente

Alexandre Guerra, 27.11.12

 

Em Israel o impacto das palavras esbate-se com a dureza da realidade, e aquilo que poderia ser visto como um autêntico disparate em qualquer outra parte do mundo, é interpretado em terras judaicas como mais uma opinião (válida) no meio de tantas outras no que diz respeito ao relacionamento do Estado hebraico com os seus vizinhos inimigos.

 

É por isso que quando Robert Eisenman, conhecido escritor, investigador de assuntos bíblicos e professor de religião, defende no Jerusalem Post a reocupação do Sinai (Egipto) por parte de Israel, não se ouvem vozes de protesto ou de espanto.

 

Eisenman, que não é propriamente um desconhecido, defende na prática a invasão de um Estado soberano, mas nem por isso motiva qualquer reacção inflamada, seja de quem for.

 

As palavras daquele judeu americano são vistas como “normais” no contexto anormal do Médio Oriente. São apenas mais uma perspectiva. Aliás, há algumas bem mais radicais. Há judeus ortodoxos que defendem a expansão dos colonatos e a ocupação de todo o território da Cisjordânia.

 

Mas também do lado palestiniano há quem deseje convictamente que os judeus sejam todos “empurrados” para o Mar Mediterrâneo.

 

E o mais extraordinário é que todas estas opiniões são expressas de forma mais ou menos livre por aqueles lados do globo, seja em jornais, rádios, televisões ou na rua, sem que haja qualquer estranheza ou repulsa, mesmo por parte dos mais moderados ou de entidades com responsabilidades na sociedade.

 

A dúvida em relação ao Egipto: privilegiar o Hamas ou o "status quo" com Israel?

Alexandre Guerra, 16.11.12

 

Atendendo aos acontecimentos violentos das últimas horas no Médio Oriente entre Israel e palestinianos na Faixa de Gaza, vai ser muito interessante observar o posicionamento desta nova liderança política do Egipto face ao conflito, já que é claramente bem mais próxima do Hamas do que o antigo Presidente Hosni Mubarak.

 

Os alarmes de um conflito com o Irão voltam a soar no Médio Oriente

Alexandre Guerra, 19.07.12

 

Sobreviente do atentado de ontem na cidade búlgara de Burgas/Foto: Reuters 

 

Ehud Barak, ministro da Defesa israelita, não tem dúvidas que o atentado que vitimou cinco turistas israelitas, ontem, na cidade balnear de Burgas na Bulgária foi perpetrado pelo Hezbollah sob os auspícios do Irão. Também Avigdor Liberman, chefe da diplomacia hebraica, informou que este ataque tem a impressão digital iraniana. 

 

Por esta altura, o Diplomata tem a certeza que os "falcões" israelitas estão a pressionar o líder do Executivo, Benjamin Netanyahu, para avançar em força contra o Irão. A julgar pelas declarações de "Bibi", aqueles não deverão ter que se esforçar muito para terem a sua vingança. Netanyahu já disse que "Israel vai responder ferozmente contra o terror iraniano".

 

Washington Post confirma que EUA e Israel criaram conjuntamente o vírus Flame

Alexandre Guerra, 20.06.12

 

Há uns dias, era escrito neste espaço que "uma das características do Flame é o seu grau de sofisticação, o que não faz dele um mero acto criminoso, mas sim uma acção deliberada de espionagem só ao alcance de entidades estatais". Apesar de se desconhecer a sua origem "todos os caminhos apontam para Washington ou não fossem os Estados mais afectados pelo Flame fontes de preocupação para a administração americana. Mas para já, está-se apenas no campo da especulação, sem confirmação oficial de qualquer parte". 

 

Hoje, o Washington Post confirma que o Flame (e também o Stuxnet) foi desenvolvido conjuntamente pelos Estados Unidos e por Israel, citando anonimanente fontes oficiais próximas do projecto.

 

Imagens raras de um ataque de colonos judeus a uma aldeia palestiniana

Alexandre Guerra, 21.05.12

 

O primeiro vídeo mostra os colonos judeus a descerem o vale em direcção à aldeia. 

São imagens raras, aquelas que foram divulgadas pela B´Tselem, uma organização humanitária israelita, composta por jornalistas, advogados, académicos e membros do Knesset, a operar nos territórios ocupados da Cisjordânia e Faixa de Gaza. De acordo com as gravações feitas por elementos daquela ONG, vê-se alegadamente um ataque perpetrado por colonos judeus armados a uma aldeia palestiniana.

 

Numa replicação invertida da luta bíblica entre David e Golias os acontecimentos que se vêem nas imagens terão ocorrido no passado Sábado perto da aldeia palestiniana de Asira al-Qubliya, próxima do colonato de Yitzhar.

  

No segundo vídeo já é possível ver com mais detalhe a movimentação dos colonos judeus.
Há muito que existiam relatos deste tipo de ataques por parte de colonos judeus a localidades palestinianas vizinhas de colonatos, mas até agora não existiam provas disso.

 

Num dos três vídeos começa-se por ver os colonos armados a descerem pelo vale em direcção à aldeia palestiniana. Na resposta, alguns palestinianos atiram pedras, ouvindo-se pelo meio o disparo de algumas balas vindas dos colonos judeus.

 

Minutos depois chegam soldados das IDF e homens da Border Police, que se limitar a ficar ao lado dos colonos.

 

Destes confrontos resultou um ferido do lado palestiniano. 

 

Neste terceiro vídeo parece ficar claro a passividade dos soldados israelitas perante o incidente.

Jezabel, pura maldade coberta por um manto de sedução

Alexandre Guerra, 15.05.12

 

 

O profeta Elias confronta a sedutora e maléfica Jezabel

 

Num dos textos anteriores, a propósito da problemática dos judeus se sentirem historicamente perseguidos, o Diplomata referiu que seria “interessante recuar ao século IX a.C para se falar um pouco de Jezabel, uma mulher que tinha tanto de beleza e de sedução como de perversidade e de malvadez”.

 

Tida como a vilã das vilãs de todas as mulheres da Bíblia, a infame das infames, Jezabel era pura maldade coberta por um manto de beleza, que não se coibiu de recorrer a todos os meios para perseguir e eliminar todos aqueles que a desafiaram, nomeadamente, os judeus.   

 

Princesa fenícia que casou com Acab, rei de Israel, no século IX a.C., Jezabel não demorou muito tempo para lançar uma campanha de terror sobre os seus súbditos que, a pretexto de impor o poder do monarca, tinha como principal objectivo a destruição do culto monoteísta dos judeus e a sua substituição pela prática religiosa fenícia, assente na adoração de diversas divindades unidas numa espécie de religião chamada Baal.

 

À semelhança dos judeus, também Jezabel vivia intensamente a religião, no entanto, não estava disposta a permitir que os dois credos convivessem no reino de Israel. Embora Acab tenha cedido à sua mulher na construção de um templo Baal no centro da cidade Samaria, Jezabel não se contentou.

 

Da Fenícia mandou vir sacerdotes e profetas e exigiu ao seu marido que impusesse a Baal como religião oficial do reino de Israel. Acab, fortemente influenciado por Jezabel, cedeu ao poder maléfico da mulher e permitiu que se iniciasse uma campanha de extermínio a centenas de sacerdotes judeus.

 

É muito provável que este seja o primeiro exemplo de extermínio sistemático contra o povo judeu ordenado pelo seu próprio Estado.

 

A resistência judaica surgiu na figura do profeta Elias, que poderia ser visto como um ortodoxo. No confronto bíblico entre Elias e Jezabel, Yahewh (Jeová), o deus dos judeus, terá manifestado, através de um fogo intenso enviado dos céus, a sua fúria contra a mulher de Acab.

 

Receosa, Jezabel recorreu mais uma vez aos seus dotes de manipulação e exigiu ao rei que ordenasse a sentença de morte de Elias. Este fugiu para o monte Sinai.

 

Os anos passaram e Acab morreu, assim como o seu filho mais velho, Acazias. Jezabel passou a governar através do seu filho mais novo, Jorão. O reino de terror tinha continuado, mas a revolta judaica estava em curso, desta vez feita por Eliseu, sucessor de Elias.

 

Num claro desafio ao poder de Jezabel, Eliseu coroou Jeú, comandante das forças de Jorão. Este viria a ser morto com uma flecha no coração disparada por Jeú.

 

Porém, faltava Jezabel que, aos olhos de Jeú, já tinha encontro marcado com a morte. O recém empossado rei dirigiu-se ao palácio real de Jezreel para a vingança mortal.

 

Jezabel, sabendo da vinda de Jeú e confiante na sua beleza fatal, começou a arranjar-se, penteou o cabelo de forma sedutora, aplicou pó negro nas pálpebras, com o intuito de seduzir o assassino do seu filho. Mas Jeú, que há muito sabia das capacidades de Jezabel, chegou ao palácio e pediu aos eunucos que a atirassem pela janela.

 

De forma violenta, o corpo de Jezabel caiu no chão e conta a Bíblia que o seu sangue salpicou as paredes e os cavalos que estavam perto. Os cães devoraram o seu corpo, ficando apenas o crânio, as mãos e os pés.

 

A mulher fatal tinha assim um fim horrendo, aquela que terá sido a responsável pela primeira perseguição de extermínio ao povo judeu.