Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Crise dos refugiados? O melhor é Bruxelas começar a ligar para o Kremlin

Alexandre Guerra, 19.09.15

 

Enquanto os líderes europeus estão sem qualquer estratégia comum para fazer face à crise dos migrantes/refugiados, deixando transparecer um lamentável espectáculo de vazio político para o resto do mundo, optando por uma táctica de "cada um por si", Moscovo percebeu há bastante tempo que qualquer solução para este assunto terá sempre que passar por Damasco e não por Berlim, Budapeste, Roma, Atenas ou Zagreb. O que estas chancelarias europeias estão neste momento a fazer é a colocar "pensos rápidos" numa ferida profunda a céu aberto.

 

O líder russo Vladimir Putin tem aproveitado a distracção europeia para ir reforçando a sua presença política e militar na Síria, tornando-se num actor incontornável em qualquer futuro processo negocial entre a União Europeia e o regime de Damasco. Aliás, nos últimos dias, Moscovo tem surgido como o interlocutor privilegiado do Departamento de Defesa norte-americano, tendo Washington já percebido que, mais uma vez, não pode contar com a União Europeia para qualquer acção concertada mais afirmativa. O melhor mesmo é a Casa Branca ligar directamente para o Kremlin. 

 

A geopolítica da crise grega

Alexandre Guerra, 11.02.15

 

Para os EUA, a questão da Grécia deixou de ser um assunto meramente europeu sobre “quem paga o quê a quem”, para passar a ser um assunto geoestratégico, a partir do momento em que Atenas, mais concretamente o seu ministro da Defesa, diz que o seu país precisa de um “plano B” e que poderá vir a pedir um empréstimo à Rússia. Aqui, Washington passa a seguir este assunto com toda a atenção, já que a Grécia é, e sempre foi, um importante membro da NATO, sobretudo naquela região da Europa.  

 

É importante sublinhar que a Grécia é um país ortodoxo, tal como o Chipre, que, através do seu Presidente, já veio dizer que está em negociações com a Rússia, para permitir que este país utilize portos e espaço aéreo cipriota em manobras militares com fins humanitários ou em situações de emergência. Nicosia prepara-se, assim, para renovar o acordo de cooperação militar com Moscovo, o que está a levantar sérias preocupações no Reino Unido, que utiliza duas bases no Chipre ao abrigo de um acordo de 1960. Tudo isto faz da questão grega um assunto bem mais vasto do que aquele que à partida parece ser.

 

O que dirá Putin amanhã?

Alexandre Guerra, 17.12.14

 

Foram precisos alguns meses, mas as consequências do "cerco" económico e financeiro que a União Europeia e os Estados Unidos estão a fazer à Rússia sentem-se, finalmente, de forma estrondosa. Sobre o Presidente Vladimir Putin abate-se uma autêntica tempestade perfeita, que conjuga não apenas a fuga de capital estrangeiro e a desvalorização do rublo para níveis preocupantes, como também a queda acentuada do preço do petróleo, que obrigará o Kremlin a rever o orçamento para 2015, elaborado na premissa de que o barril de petróleo se situaria entre os 80 e 90 euros.

 

O discurso de Putin sobre o estado da Nação no passado dia 4 foi fraco e não trouxe quaisquer ideias para travar a espiral económica e financeira que o país atravessa. Entretanto, já passaram mais de duas semanas e os acontecimentos pioraram, o que vai obrigar Putin a reagir de forma veemente na mensagem a transmitir os cidadãos e aos agentes económicos. Por isso, é com expectativa que se aguarda o que vai dizer o Presidente na tradicional conferência de imprensa de Fim de Ano, agendada para esta Quinta-feira. 

 

Anna Chapman volta a colocar os seus dotes ao serviço da Mãe Rússia

Alexandre Guerra, 26.11.14

 

Quando Anna Chapman se tornou uma "estrela" da espionagem internacional, e já lá vão mais de quatro anos, o Diplomata fazia eco daquilo que a imprensa americana considerava ser uma beleza escaldante num corpo “Victoria’s Secret”. Quase um ano depois, e com o Diplomata sempre atento às suas movimentações, Chapman, já na condição de simples "civil", dava a sua primeira entrevista, revelando aquilo que iria fazer. Agora, Anna Chapman volta a colocar os seus "dotes" ao serviço da Mãe Rússia, promovendo o Exército russo e dando "moral" às tropas através de um vídeo institucional.

 

 

Clima económico degrada-se na Rússia e investidores abandonam o país

Alexandre Guerra, 05.11.14

 

Os investidores internacionais estão a abandonar a Rússia e já retiraram daquele país 75 mil milhões de dólares só no primeiro semestre deste ano. A crise na Ucrânia e as consequentes sanções económicas impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos estão a contribuir para a degradação do clima económico e de confiança.

 

Desde o início do ano que o rublo desvalorizou 20 por cento. Os principais motores económicos russos já estão a sofrer o impacto da redução de investimento e torna-se cada vez mais difícil o acesso a material tecnológico para o sector da energia. Os preços dos alimentos estão a subir, nomeadamente da carne e dos vegetais, enquanto o turismo vai-se ressentindo de forma acentuada, ao ponto de já ter levado à falência dezenas de operadores durante este Verão.

 

A queda do preço do petróleo está a agravar a conjuntura interna e o equilíbrio orçamental.    

 

Para colmatar a ausência de liquidez nos cofres do Estado, o Governo já se apropriou de partes de alguns fundos de pensões por modo a injectar capital em empresas estatais. Por sua vez, o Banco Central russo, só no passado mês de Outubro, despendeu 3,2 mil milhões de dólares em “forex interventions” para travar desvalorização do rublo.

 

Com a previsão de um crescimento praticamente nulo para este ano, os analistas estimam que a Rússia possa entrar já num período de recessão ainda último trimestre deste ano. No entanto, é pouco provável que o Presidente Vladimir Putin altere a sua política a curto prazo, valendo-se das altas taxas de aprovação junto da opinião pública.

 

A degradação do clima económico e de negócios manter-se-á nos próximos tempos, agravado pela perseguição política que o Presidente Vladimir Putin mantém contra a elite empresarial do país. Vladimir Yevtushenkov que, segundo a revista Forbes, é o 15º homem mais rico da Rússia, foi a mais recente vítima do Kremlin, tendo sido detido em meados de Setembro sob a acusação de lavagem de dinheiro. No entanto, a verdadeira razão, dizem algumas fontes, foi a recusa de Yevtushenkov ceder a sua participação na empresa petrolífera, Bashneft. Aquele magnata russo encontra-se neste momento em prisão domiciliária, pelo menos até 16 de Novembro.

 

Os alinhamentos geoestratégicos e geopolíticos do futuro

Alexandre Guerra, 02.09.14

 

Putin com Alexei Miller (dir.) da Gazprom e Zhang Gaoli (esq.), ontem em Namsky Highway/Foto: (RIA Novosti / Alexey Nikolsky)

 

Poucos deram atenção, mas ontem ocorreu um facto revelador daquilo que poderão ser os alinhamentos geoestratégicos e geopolíticos dos próximos anos na Ásia, com base na interdependência complexa entre os Estados. O Presidente russo, Vladimir Putin, e o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Gaoli, estiveram presentes no início da construção do novo gasoduto que vai ligar os dois países.

 

As obras arrancaram na Sibéria e pela primeira vez a parte oriental da Rússia vai estar toda ligada por um gasoduto que chegará à China. O "Power of Siberia", nome pelo qual o gasoduto é conhecido, era uma obra há muito ambicionada pelos dois países. São 4000 quilómetros e trata-se do maior projecto do mundo deste género. O gasoduto deverá começar a funcionar em 2019 e será um elo forte nas relações entre Pequim e Moscovo. 

 

Por um lado, a China consegue uma fonte de energia segura e eficiente e, por outro, a Rússia garante a diversificação do seu mercado exportador, passando a depender menos da Europa. 

 

 

Duas pequenas histórias de excessos

Alexandre Guerra, 02.06.14

 

Fazendo lembrar os tiques dos Estados autoritários e totalitários de outros tempos, a Rússia embarcou numa aventura de proporções gigantescas, quando se lançou na missão de realizar recentemente os mais ambiciosos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi. Tudo numa lógica de projecção de "soft power", com o objectivo de mostrar ao mundo uma nova Rússia, reerguida dos escombros soviéticos, supostamente mais poderosa e de cariz global. Ora, não só aquele projecto assumiu custos exorbitantes, tornando-se nos jogos olímpicos mais caros de sempre, como se revelou desastroso para os intentos de Vladimir Putin, pondo a descoberto muitas das fragilidades da Rússia.    

 

Os Jogos Olímpicos de Sochi tiveram um orçamento quase cinco vezes superior ao do Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil. E por falar no Brasil, também os governantes daquele país, numa ânsia de mostrar ao mundo o seu poderio emergente, lançaram-se numa tarefa hercúlea (e quase impossível) de organizar praticamente em simultâneo o Mundial 2014 e os Olímpicos 2016. 

 

Tal como aconteceu na Rússia, também no Brasil os efeitos têm-se revelado perversos para os objectivos dos governantes brasileiros. E dificilmente essa imagem sairá melhorada. Pelo contrário. Com a chegada de milhares de turistas e adeptos às cidades brasileiras da Copa nos próximos dias, os problemas de infraestruturas, de saneamento, de vias de comunicação, de segurança, entre outros, deverão sentir-se de forma mais acentuada.  

 

A questão é saber como o Governo de Dilma Rousseff irá gerir esta crise em plena Copa do Mundo. Ironicamente, o seu grande aliado será a equipa canarinha, que, enquanto ganhar, distrairá os brasileiros do seu quotidiano.

 

Desta vez, os líderes europeus tiveram alguma sorte

Alexandre Guerra, 10.04.14

 

No meio de toda esta crise entre a Ucrânia e a Rússia, os líderes europeus têm pelo menos uma razão para respirar de alívio: o início da Primavera. Com a chegada do bom tempo e a menor necessidade dos europeus recorrerem ao consumo de gás natural para aquecimento, o Kremlin vê enfraquecer uma das suas principais "armas" de pressão político-diplomática.

 

O presidente Vladimir Putin já veio avisar a Europa, através de uma carta enviada os seus líderes, que poderão haver cortes no fornecimento de gás natural, tendo em conta os atrasos de pagamentos da Ucrânia à fornecedora Gazprom.

 

São avisos (leia-se ameaças) que a Europa deve levar a sério, é certo, até porque no passado já houve crises energéticas, precisamente, por causa do corte do abastecimento de gás natural por parte da Rússia. No entanto, o efeito pretendido por Putin não terá os mesmos resultados se esta situação estivesse a acontecer em pleno pico do Inverno, como foi o caso das crise anteriores.

 

Desta vez, e apesar de todos os erros que a Europa tem cometido neste processo, os líderes europeus tiveram alguma sorte com os timings desta crise. Para já, têm alguns meses de menor dependência energética da Rússia, os quais poderão aproveitar para resolver ou, pelo menos, estabilizar a situação dos pagamentos entre a Ucrânia e a Gazprom.

 

Uma entrevista desconcertante

Alexandre Guerra, 02.04.14

 

Victor Yanukovych deu hoje uma entrevista à Associated Press e à NTV no mínimo desconcertante. Diz o ex-Presidente deposto da Ucrânia, e que se refugiou na Rússia com a cobertura do Kremlin, que "errou" ao pedir às forças russas para entrarem na Crimeia. Vai mais longe ao considerar a anexação daquele território na Rússia como uma "tragédia". E acrescenta ainda que se ele se tivesse mantido no poder em Kiev nada disto teria acontecido e a Crimeia continuaria a fazer parte da Ucrânia. Uma situação que, aliás, Yanukovych esperava ver reposta.

 

Ora, assim à primeira vista dir-se-ia que esta entrevista desafia a lógica de alinhamento político entre Yanukovych e o Presidente Vladimir Putin até aqui percepcionada pelos analistas.

 

Perante este novo quadro, tentam encontrar-se explicações racionais. Por exemplo, David Stern, correspondente da BBC News em Kiev, coloca as coisas do seguinte modo: Ou as declarações de Yanukovych são uma "estratégia engenhosa" para impulsionar a sua reputação junto dos seus conterrâneos, ou então, uma "asneirada de proporções gigantescas".