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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Por quem o ministro dobra (cont.)

Alexandre Guerra, 14.02.12

 

 

O autor destas linhas escreveu ontem este texto pressupondo que algumas análises e comentários duvidosos que se lêem e ouvem por aí partem mais de uma lógica de má vontade e de enviesamento ideológico do que propriamente de uma ignorância pura e dura. Mas hoje teve conhecimento deste triste e decadente momento durante um debate da SIC N no passado dia 10.

 

Afinal, o Diplomata pressupôs mal, porque parece que a ignorância é reinante nestas classes de "iluminados" políticos, jornalistas, académicos, comentadores e afins.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 12.12.11

 

"O mundo inteiro está a ser guiado por declarações idiotas de alguns decisores europeus. [...] O problema na Europa não é realmente uma crise de dívida, é uma crise sobre estrutura de liderança... A Europa precisa de se organizar e mostrar que tem uma liderança própria."

 

Jim O'Neill, presidente da Goldman Sachs Asset Management citado pelo jornal i

 

Os tempos da História e as suas "crises"

Alexandre Guerra, 06.12.11

 

No período em que José Manuel Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia, andava pelos Estados Unidos a tirar o seu doutoramento em Georgetown e se prepara para vir a ser um dia primeiro-ministro de Portugal, o autor destas linhas chegou a ouvi-lo citar, por uma ou duas vezes, algumas estrofes da música Zooropa do álbum homónimo dos U2 (diga-se de passagem, repositório dos últimos resquícios da genial criatividade musical daquela banda que tinha atingido o corolário com Achtung Baby, dois anos antes).

 

Considerações artísticas à parte, Barroso lá dizia: “Zooropa… Don't worry baby, it's gonna be alright. Zooropa… Uncertainty can be a guiding light.” Disse-o, por exemplo, em Novembro de 1997, durante um colóquio com o nome de “Portugal na Transição do Milénio”.

 

O agora líder da Comissão Europeia mostrava-se na altura desiludido com o rumo da Europa, em parte consubstanciado no então novíssimo Tratado de Amesterdão, assinado em Outubro de 1997.

 

Na sua intervenção por ocasião do debate na Assembleia da República para a aprovação do Tratado de Amesterdão, a 6 de Janeiro de 1999, Barroso dizia que “sem embargo de desenvolvimentos positivos, ele representa uma certa frustração e fica-se, sem dúvida, com um sabor a pouco em termos de ambição europeia”. Salientava ainda: “Ficamos com a impressão de reformas mais uma vez adiadas. Ficamos com a consciência de que a Europa continua à procura de um caminho. […] Não pode, pois, honestamente dizer-se que o Tratado de Amesterdão esteja à altura dos desafios que a Europa hoje enfrenta.”

 

Mais à frente dizia que na União Europeia não existia “uma vontade política proporcional à dimensão dos desafios que os europeus enfrentam”. Acrescentaria ainda que “actualmente [1999], os líderes europeus vão, na sua maioria, atrás das sondagens, em vez de procurarem ir à frente das respectivas comunidades políticas”. E já quase a concluir: “Que faremos com esta Europa? Para onde vamos? O que quer a Europa, se é que quer realmente alguma coisa? A verdade é que a União Europeia parece cada vez mais à deriva. Sem um propósito claro. Sem uma linha de rumo. Sem uma verdadeira visão estratégica.”

 

Ora, estes tempos de excepcional “crise” que se viviam no final dos anos 90 não eram afinal tão excepcionais quanto isso, bastando apenas recuar até ao início da mesma década e encontrar mais um momento de “crise” para a Europa.

 

Na ressaca do Tratado de Maastricht, mais concretamente em Julho de 1993, o mesmo Durão Barroso escrevia num artigo de opinião no Die Ziet seguinte: “Tenho para mim que é nos momentos mais difíceis que a validade dos projectos políticos pode ser de facto posta à prova. Ora justamente o projecto de construção vive numa fase marcada pela incerteza, pelo cepticismo e até pela desconfiança. De facto, é inquestionável que em muitos países europeus se nota hoje um pessimismo crescente.” E notava que “como pano de fundo, a recessão económica internacional tornou mais evidente a perda de competitiva em relação” aos concorrentes mundiais da Europa.

 

Enfim, certamente que se continuasse a regredir no tempo muitos seriam os discursos alinhados por este diapasão, porque a verdade é que poucos serão os períodos da construção do edifício europeu em que os tempos fossem de tranquilidade e de prosperidade, pelo menos à lupa dos políticos e dos líderes.

 

Tal como daqui a 20 anos, a autor destas linhas apostaria que a Europa, dirão então os seus governantes, estará numa crise de identidade, sem rumo, sem liderança ou qualquer coisa deste género.

 

Independentemente das conjunturas históricas, os homens têm uma tentação e tendência para assumirem a excepcionalidade do seu próprio tempo (isto dará um dia um texto interessante sobre Hegel, Marx, Fukuyama, Kojève, Políbio…) e, por vezes, esta assumpção poderá toldar a sua objectividade do pensamento e o seu espírito crítico em determinado momento.

 

Como aliás, actualmente acontece, na modesta opinião do autor destas linhas, onde os problemas são mais que muitos, é certo, mas a sua leitura e o respectivo enquadramento na linha da História não parece estar a ser feito de uma forma equilibrada e pragmática.

 

Mas, para isso acontecer é preciso, antes de mais, conhecer e ter a sensibilidade histórica, porque só assim se pode ter uma perspectiva verdadeiramente objectiva e focada no essencial, liberta das questões acessórias, que daqui a alguns anos não serão mais do que notas de rodapé da História.  

 

Nota: Durão Barroso foi aqui visado enquanto objecto de estudo, como poderia ter sido outro qualquer político ou líder. Tratou-se apenas de uma questão de maior disponibilidade no acesso à informação.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


É de heróis que a Europa precisa

Alexandre Guerra, 17.11.11

 

 

Os profetas que por aí andam falam na actual "crise europeia" como se fosse a "mãe" de todas as crises. Uma crise de tal maneira avassaladora, dizem eles, que pode ameaçar os alicerces da construção europeia. É um ponto de vista, embora algo distorcido daquilo que se vai aprendendo com a História.

 

Numa das deambulações por coisas que valem mesmo a pena ouvir, o Diplomata recuperava o "Heroes", o segundo trabalho de David Bowie da famosa "Berlin Trilogy", feita em parceria com Brian Eno. Lançado em 1977, este álbum foi gravado em Berlim Ocidental a poucos metros do Muro, no famoso Hansa Tonstudio. Aliás, no próprio álbum lê-se "recorded at Hansa By The Wall".

 

Esta frase não era meramente informativa, tinha também uma conotação simbólica, num álbum que tentou captar o espírito de uma cidade dividida, símbolo de uma Europa permanentemente em tensão, separada por uma "Cortina de Ferro", com forças convencionais espalhadas por vários países prontas a atacar e sob o espectro da ameaça nuclear. Esta sim, no entender do autor destas linhas, era uma Europa que estava verdadeiramente perante um desafio de proporções históricas.

 

Mas, mesmo nesta Europa de incertezas, que nos momentos mais "quentes" da Guerra Fria chegou a temer uma Terceira Guerra Mundial, a música "Heroes" homenageia os heróis e repudia os fatalistas. Heróis personificados em duas pessoas apaixonadas que, contra todas as adversidades (e não se está a falar dos "mercados"), vivem o seu momento de felicidade, por um dia, junto do Muro. Um sinal de esperança mas também de desafio ao que muitos aceitavam ser uma realidade consumada e determinista.

 

O Cisne Negro (1)

Alexandre Guerra, 01.09.11

 

 

De tudo o que se tem escrito sobre a crise financeira internacional e as revoluções árabes que nos últimos meses eclodiram no Médio Oriente e no Magrebe, não deixa de ser irónico que um dos artigos mais interessantes que o Diplomata leu sobre esta matéria tenha vindo da pena de um professor em Engenharia de Risco no Instituto Politécnico da Universidade de Nova Iorque, com a colaboração, é certo, de um outro professor em Economia Política da Universidade de Brown.

 

A abordagem que os dois autores fazem àquela problemática é verdadeiramente refrescante e ao ler-se o seu artigo (Foreign Affairs, Maio/Junho) fica se com uma perspectiva sólida e científica relativa ao enquadramento que ajuda a explicar o surgimento de fenómenos repentinos, tais como as revoltas das ruas árabes ou, até mesmo, a emergência inesperada da crise financeira internacional em 2008.

 

Para isso, os autores recorrem sobretudo ao paradigma da engenharia de risco, como forma de antecipar comportamentos de estruturas ou sistemas.

 

Nassim Nicholas Taleb e Mark Blyth evitaram seguir os modelos comuns de análise que têm sido utilizados e optaram por aplicar os princípios da engenharia, partindo do pressuposto que a crise financeira internacional ou as revoltas dos países árabes apresentavam indícios de risco semelhantes àqueles que podem ser detectados antecipadamente em estruturas ou sistemas.

 

Dizem os autores que um dos pontos comuns em ambas as “crises” é a assumpção (errada) à posterior de uma certa impotência perante algo que era desconhecido e imparável.

 

Ora, para os autores do artigo este é um dos maiores mitos que tem estado por detrás de muitas análises feitas a estes casos. A verdade é que em ambas as situações os sinais de fractura estavam lá, embora esbatidos por uma normalidade artificial.

 

A tentação política de suprimir artificialmente a volatilidade de sistemas, com o objecto de forçosamente de se manter um determinado status quo, conduz a situações potencialmente explosivas.

 

O que aconteceu com a crise financeira internacional e agora mais recentemente com as revoltas nas ruas árabes são consequências da contenção em alta pressão feita sobre esses mesmos sistemas.

 

Como escrevem Taleb e Blyth, “sistemas complexos aos quais foram suprimidos artificialmente a volatilidade tendem a tornar-se extremamente frágeis, ao mesmo tempo que não exibem riscos visíveis”.

 

Na realidade, estes sistemas tendem a ter um comportamento calmo e a não exibir variações significativas, à medida que os riscos se vão acumulando silenciosamente.

 

Uma tendência que a médio e a longo prazo pode ter efeitos devastadores, como agora se comprova, mas que o poder político teima em manter, pensando que está a promover uma maior estabilidade nas suas comunidades. Porém, ao interferir-se artificialmente nestes sistemas, o mundo torna-se menos previsível e mais perigoso.

 

Estes sistemas ficam potencialmente propensos àquilo que Taleb chama de “cisnes negros”, acontecimentos de grande escala, que podem ser negativos ou positivos, e que fogem à normalidade estatística, sendo largamente imprevisíveis para o observador. Aliás, Taleb notabilizou-se precisamente pelo desenvolvimento da teoria do "cisne negro", com o livro The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable.  

 

A história não se repete, mas…

Alexandre Guerra, 09.01.11

 

Ao caracterizar o impacto da “abundância de crédito por endividamento e a “promoção de trabalhos públicos de infraestruturas” na segunda metade do século XIX em Portugal, Jaime Nogueira Pinto escreve no seu mais recente livro, Nobre Povo – Os Anos da República, que o País estava em “riscos de bancarrota”.

 

“A dívida pública aproximava-se dos seiscentos mil contos, o deficit orçamental rondava os quinze mil e a balança comercial tinha um saldo negativo de vinte e três mil. Os mercados de Londres e Paris fechavam-se a novos empréstimos e o Banco Lusitano e o Banco do Povo iam à falência. Até companhias de referência, como os Caminhos de Ferro portugueses e o Montepio Geral, apresentavam sérias dificuldades financeiras.”

 

A esta conjuntura juntou-se o tristemente célebre Ultimatum britânico de 1890 que veio fragilizar, ainda mais, a credibilidade do País na comunidade internacional. E nem mesmo o “drástico programa de reformas [financeiras]” de Oliveira Martins, que contemplava, entre outras coisas, a redução dos vencimentos dos funcionários públicos e o aumento das contribuições fiscais, ajudou a melhorar a imagem de Portugal no estrangeiro. “Os titulares estrangeiros da dívida portuguesa pediram garantias de controlo directo de algumas receitas”, escreve Jaime Nogueira Pinto.

 

Uma leitura histórica interesse relativa a um período que jamais se voltou a repetir, mas que não deixa de ter semelhanças com a difícil situação que Portugal vive nos dias de hoje.

 

Isto é novidade... o NYT fala na Grécia e na Irlanda, mas não "arrasta" Portugal

Alexandre Guerra, 18.12.10

 

O New York Times dava hoje destaque na sua edição on line a um artigo sobre a difícil situação do mercado imobiliário em Espanha, analisando as consequências para o sistema bancário daquele país. Ao ler o referido artigo o Diplomata depara-se a determinada altura com a seguinte frase:"Just how big a loss the banks are facing is unknown, at least publicly, and that has investors worried — the cost of financing Spain’s debt rose 18 percent in the last month alone. But the potential costs of failure go far beyond that. Spain’s economy, the fifth largest in Europe, is much bigger than Ireland’s or Greece’s, and a bailout of its banks could be far more costly, an event that could push the government into default and end up dooming the euro itself."

 

Ora, o interessante desta frase, e contrariando uma tendência dos últimos tempos, é que pela primeira vez, em muitas semanas, o Diplomata lê um artigo sobre "crise financeira" na Europa, no qual Portugal  não é "arrastado" atrás da Irlanda e da Grécia. Neste caso, o NYT parece ter feito uma distinção entre a conjuntura portuguesa e a dos outros países europeus mais afectados pelo turbilhão financeiro.

 

Perante isto, é caso para o autor destas linhas se interrogar se este não será o resultado da ofensiva de Public Relations que o Governo português tem encetado junto da comunidade internacional e dos mercados, para passar uma mensagem de diferenciação relativamente à conjuntura da Grécia e da Irlanda. Ou se, por outro lado, é apenas uma mera opção jornalística com base na análise de critérios financeiros entre os três países.   

 

Seja como for, não deixa de ser curioso que há poucos dias, o mesmo NYT lá metia Portugal no mesmo "pacote" da Grécia e da Irlanda: "Debt from Greece, Ireland and Portugal is considered risky, raising the possibility that the central bank could suffer losses that exceeded the amount of its capital. Any losses would be in the future, though, because the bank policy of holding on to debt until it matures."

 

Para rever o Combate de Blogs sobre a crise do euro e a "fuga" do Wikileaks

Alexandre Guerra, 01.12.10

 

 

A crise do euro e as fugas do Wikileaks foram os temas debatidos na última edição do programa da TVI24, Combate de Blogs, apresentado pelo Filipe Caetano e com a participação do Tomás Vasques, do Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos, do Nuno Ramos de Almeida do 5 dias, do Miguel Morgado, do Cachimbo de Magritte e do convidado O Diplomata.