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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Os falsos argumentos da guerra

Alexandre Guerra, 01.01.09




Estragos provocados por um Qassam numa casa em Sderot



Nos últimos dias a imprensa tem referenciado diariamente os rockets Qassam lançados pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza contra algumas cidades e localidades em Israel.

O próprio Governo hebraico apresentou este argumento para justificar a actual operação militar no enclave palestiniano, fazendo relembrar a razão algo ingénua dada para invadir o Líbano no Verão de 2006: o rapto de dois soldados das forças de defesa israelitas (IDF) pelo Hezbollah.



Efectivamente, os rockets Qassam não representam por si só uma ameaça significativa ao Estado de Israel que justifique uma acção massiva como resposta. No entanto, é um excelente factor para ser utilizado como pretexto ou "casus belli". Da mesma forma que ao analisar-se a história do Estado hebraico se constata que o rapto de dois soldados pelo Hezbollah nao seria algo inédito nem merecedor de uma operação como aquela que as IDF lançaram a 12 de Julho de 2006, e que se revelou um autêntico desastre militar. 



Porém, há dois anos, tal como agora, os episódios referidos serviram de argumentos para espoletar estratégias que, bem ou mal, o Governo hebraico considerou serem vitais para a existência de Israel. Curioso é o facto de ambos os casos (O primeiro revelou-se um falhanço total. O segundo não está a ir no bom caminho) terem em comum, em termos de liderança política, o primeiro-ministro, Ehud Olmert. 



O problema é que perante as razões apresentadas para justificar as iniciativas militares de Israel, a resposta é totalmente desproporcional. Obviamente que tudo se altera quando se alarga a perspectiva de análise do conflito israelo-palestiniano.



Para melhor se compreender este enquadramento basta analisar com mais pormenor os acontecimentos de 2006 e os deste Natal. Quando o Hezbollah raptou dois soldados das IDF e Israel criou um "caso" em redor deste assunto para lançar uma operação sobre o Líbano, estava a contornar o facto de ser uma prática corrente o rapto e a troca de prisioneiros entre aquele movimento xiita e o Estado hebraico.



No que diz respeito ao lançamento dos rockets Qassam, nomeadamente à sua actividade nos dias que antecederam o Natal, trata-se mais uma vez de uma questão acessória no quadro da ameaça estratégica que o Hamas representa para Israel.



Ao analisar-se o historial dos rockets Qassam lançados pelo Hamas contra Israel facilmente percebe-se que este é um assunto que no contexto do conflito do Médio Oriente é pouco relevante. Efectivamente, há a lamentar a morte de 15 civis israelitas (a
BBC News refere 13) desde 2002, como consequência daqueles ataques, no entanto, na realidade da Palestina é algo que não pode ser considerado substancial.



Pelo contrário, são números incompatíveis com o ruído mediático que se está a fazer à volta dos ataques dos rockets Qassam. Sobre estes engenhos, o Diplomata sugere uma visita ao 
GlobalSecurity.org.



De acordo com aquele site, o primeiro rocket lançado contra Israel da Faixa de Gaza foi a 5 de Março de 2002. A organização não governamental 
The Israel Project (TIP) informa que desde 2003 foram disparados de Gaza 9300 morteiros e rockets. Só este ano foram registadas 3200 ocorrências, sendo que durante o cessar-fogo, de 19 de Junho a 19 de Dezembro, se verificaram 543.



Perante estes números, facilmente se percebe que os Qassam, independentemente da sua versão, são engenhos rudimentares com pouca capacidade de alcance (não mais de 10 quilómetros no modelo mais avançado),  não tendo comparação com a potência dos Katyusha usados pelo Hezbollah no Sul do Líbano, que podem atingir um alvo a mais de 20 quilómetros. Neste
vídeo pode-se ver que os estragos provocados por um rocket Qassam são ligeiros, suscitando apenas alguma agitação na localidade.  



De acordo com a informação aqui referida, conclui-se que as operações israelitas de 2006 e 2008 podem ser, eventualmente, legítimas, mas nunca à luz dos argumentos apresentados. Alexandre Guerra