Washington e Moscovo reacendem discurso de outros tempos
Os conturbados anos 1989-91 arrastaram a Guerra Fria para os livros de História, mas nos últimos tempos Washington e Moscovo têm recorrido a um vocabulário e a um estilo que já não era ouvido desde essess tempos. De um momento para o outro, voltou-se a falar da problemática das forças convencionais na Europa, um assunto que se pensava "arrumado" há bastante tempo.
E o problema é que essa mesmo assunto tem sido abordado de uma forma bastante estratégica e não na óptica do controlo de armamentos. Embora hajam outros factores envolvidos, uma das razões que originou um reacendimento desta temática foi a intenção da administração norte-americana querer utilizar a República Checa e a Polónia para instalar componentes do seu sistema antimíssil.
Perante este cenário, Moscovo ameaçou retirar-se do CFE, um dos principais tratados de controlo de armamentos do pós-Guerra Fria que visava reduzir substancialmente as forças convencionais na Europa. Ameaça que está prestes a cumprir, referindo que houve Estados que nunca o ratificaram e outros nem chegaram mesmo a assiná-lo.
O Presidente Vladimir Putin foi ainda mais longe, na terça-feira, ao referir que as forças estratégicas da Rússia deviam estar prontas "para responder de forma a dar uma resposta adequada a um agressor". Num discurso perante uma plateia de generais, o líder russo estava a referir-se à NATO, organização que acusou de estar a ter uma atitude musculada e de estar a ameaçar as fronteiras russas. Relembre-se ainda que em Agosto último, o Presidente Putin referiu que face às ameaças de segurança viu-se obrigado a retomar as patrulhas áreas de bombardeiros à volta do mundo, como acontecia nos tempos da Guerra Fria.
Do lado americano, também existem movimentações que se enquadram mais nos tempos de uma Europa dividade entre aliados e inimigos do que propriamente numa Europa pós- Guerra Fria. O secretário de Defesa, Robert Gates, anunciou que vai manter os cerca de 40 mil soldados americanos na Europa, sobretudo na Alemanha e na Itália, contrariando assim o plano do seu antecessor, Donald Rumsfeld, que queria uma redução substancial de efectivos no continente europeu.
Nesta altura, o número já devia ser metade, porém, Gates diz que, por agora, o contingente vai-se manter estacionado na Europa, argumentando com o facto de nos Estados Unidos ainda não estarem criadas as condições para acolher tantos soldados nos quartéis.
O "global posture review" previa que no final de 2008 estivessem na Europa apenas 28 mil soldados, um objectivo que não deverá ser cumprido, sobretudo numa altura em que o Velho Continente volta a ser palco de movimentações militares convencionais e, aparentemente, estratégicas. Alexandre Guerra