Por que não se calam os líderes mundiais, nem que seja apenas por uma semana?
O reputado historiador da Universidade de Yale, Paul Kennedy, foi dos poucos analistas que escreveu algo verdadeiramente inteligente relativamente à tão polémica frase do Rei Juan Carlos "Por qué no te callas?" dirigida ao Presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Kennedy é uma referência no estudo das Relações Internacionais, tendo inclusive uma obra de grande importância, "Ascensão e Queda das Grandes Potências", tendo, por isso, feito um enquadramento numa perspectiva sistémica e não centrado nas relações Espanha-Venezuela ou na pessoa de Hugo Chávez.
Deste modo, o resultado do seu trabalho analítico, que o Diplomata pôde ler no El País há uns dias, é certeiro: "Não só Chávez deveria escutar a exortação do Rei de Espanha. Outros políticos, como Bush, Sarkozy e Ahmadinejad, também têm demasiada lábia. Os chineses, pelo contrário, são discretos e conseguem muito."
Kennedy chega a esta conclusão através de um pressuposto simples, mas incontornável: a maioria dos líderes das principais potências mundiais falam de mais, seja através de comunicados, de conferências de imprensa, de entrevistas ou de discursos. Todos têm sempre algo a dizer sobre os acontecimentos da política internacional, sendo que muitas das vezes as suas mensagens inócuas são potenciadas várias vezes ao dia.
As inúmeras e constantes declarações sobre a guerra ao terrorismo do Presidente George W. Bush são dadas como exemplo por Paul Kennedy. Mas, existem outros políticos "hiperactivos" que nunca estão calados e pouco ou nada ganham com isso. Nicolas Sarkozy, Vladimir Putin ou Mahmoud Ahmadinejad não passam um dia sem se pronunciarem sobre algo. Ao contrário do que fazem os chineses, que agem de forma discreta, muitas das vezes nos bastidores de modo a conseguirem alcançar os seus objectivos.
Para Paul Kennedy, os chineses aprenderam melhor os ensinamentos daquele que foi um dos grandes dirigentes dos últimos dois séculos, Otto Van Bismarck. Mais do que as palavras, o chanceler alemão ficou conhecido pelas suas habilidades na arte de governar, sobretudo através da diplomacia e da negociação. A tranquilidade é outras das características que lhe era reconhecida e que se pode encontrar igualmente nos líderes chineses.
Embora as exigências mediáticas dos séculos XIX e XXI sejam incomparáveis, assim como as realidades de comunicação entre a China actual e as sociedades democráticas, a verdade é que Bismarck deixou uma importante lição para os líderes actuais, de que às vezes o "silêncio é ouro".
É por isso que Kennedy afirma que os políticos contemporâneos fariam um favor enorme às suas opiniões públicas se conseguissem estar calados nem que fosse apenas por uma semana. Alexandre Guerra