Os ensinamentos de Adam Smith ainda podem dar jeito
Alexandre Guerra, 19.01.09
Já dizia Adam Smith, na sua célebre obra "Riqueza das Nações", "que pouco mais é necessário para levar um Estado do mais ínfimo barbarismo ao mais elevado grau de opuluência, do que paz, impostos leves e uma administração razoável de justiça; tudo o resto é resultado do curso natural das coisas. Todos os governos que contrariam esse curso natural, que façam as coisas a caminhar noutra direcção ou que procuram travar o progresso da sociedade num determinado ponto, são antinaturas e, para se manterem, são obrigados a ser despóticos e tiranos".
Estas palavras viram a luz do dia em Março de 1776, mas não deixam de fazer sentido mais de dois séculos depois. E o mais preocupante é precisamente essa constatação, porque ao fazer-se um exercício simples percebe-se o seguinte:
Em três requisitos, Portugal falha claramente dois. Está longe de ter "impostos leves" e dificilmente se pode falar em "administração razoável de justiça". Ora, resta apenas a paz que, apesar de tudo, ainda caracteriza Portugal.
A The Economist veio adensar ainda mais as nuvens negras que pairam sobre Portugal, reforçando a falta de confiança nas políticas reformistas e anticrise do Governo, tal como a Standard&Poors já o tinha feito.
Mas, não se julge que o problema e a responsabilidade são só do Governo. Na verdade, são de todos. É certo que uns podem ter mais protagonismo e responsabilidade que outros, mas mesmo assim, o esforço terá de ser conjunto.
É por isso que os ensinamentos de Smith, embora distantes no tempo, ainda podem servir para alguma coisa.
Por vezes, a simplicidade nos paradigmas é o melhor caminho a seguir. Mais do que as reformas estratégicas de enorme complexidade, do que os planos anticrise, do que os choques e os planos tecnológicos, do que os investimentos públicos que todos os governos tentam implementar, a resposta para o progresso poderá, por vezes, assentar em princípios mais simples, porém mais sólidos.
Este autor já se contentava se Portugal, além da paz, tivesse "impostos leves" e uma "administração razoável de justiça". Alexandre Guerra