Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Mais um conto africano

Alexandre Guerra, 24.03.13

 

Rebeldes do movimento Séléka/Foto:Sia Kambou/AFP/Getty Images 

 

A República Centro Africana (CAR) caiu finalmente nas mãos dos rebeldes, ou seja, a capital Bangui foi tomada pelo movimento Séléka, obrigando o Presidente François Bozizé a fugir do país para a vizinha República Democrática do Congo (RDC). O acordo alcançado em Dezembro e que instituiu um Governo de unidade nacional durou pouco tempo. 

 

Como vem sendo habitual nestes conflitos africanos, e segundo as Nações Unidas, mais de 170 mil pessoas abandonaram as suas casas, sendo que muitas delas terão atravessado a fronteira para o Chade e para a RDC. Há relatos de mortes, torturas e violações.

 

Trágicos acontecimentos que vêm confirmar aquilo que o Diplomata tinha antecipado para este ano de 2013. Países como a CAR, a Nigéria, a RDC ou o Uganda vão continuar a ser fustigados pelos conflitos étnicos, inflamados por alguns movimentos religiosos, como é o caso do LRA de Joseph Kony.

 

Além disso, os conflitos naquela região africana têm uma tendência para se regionalizar, já que é comum a intervenção de vários estados, mesmo que esta possa ser camuflada. Por exemplo, o Presidente Bozizé contou sempre com o apoio do Chade, país que o ajudou a chegar ao poder em 2003 através de um golpe de Estado. 

 

Por outro lado, o Governo em Bangui tem acusado os rebeldes do movimento Séléka de terem nas suas trincheiras mercenários do Sudão, Nigéria e do próprio Chade. O que é perfeitamente plausível.

 

Quanto às implicações imediatas... O Chade liderado pelo Presidente Idriss Deby poderá ter uma situação grave para resolver, já que ficou sem o seu aliado, o que poderá criar problemas ao nível do controlo de fronteiras. A África do Sul, potência africana que tem tentado mediar aquele conflito, vê-se perante o falhanço da sua missão. A França, antiga potência colonial, já deu sinais que não terá uma intervenção tão enérgica na CAR, como teve no Mali, estando apenas a reforçar o número de soldados para assegurar a protecção dos cidadãos franceses naquele país africano.

 

As Nações Unidas devem ficar-se nos próximos tempos pela declaração deste Domingo do Conselho de Segurança, que basicamente demonstra a "preocupação" daquela organização pelos mais recentes acontecimentos na CAR e apela às "partes" que se entendam. Quanto muito poderá haver um reforço da força militar regional sob a égide da Comunidade Económica dos Estados da África Central (ECCAS). 

 

A médio e a longo prazo vai ser interessante ver os alinhamentos de países como a China, Rússia, França ou Estados Unidos, tendo em consideração que a CAR é um país com reservas consideráveis de ouro, diamantes e urânio.