Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Nem a Tunísia manteve a sua "Primavera"

Alexandre Guerra, 07.02.13

 

A "Primavera" tunisina, à semelhança do que tem acontecido noutros países do Magreb e do Médio Oriente, está a transformar-se num "Inverno" manchado com sangue. Neste caso em concreto o de Chokri Belaid, um importante activista de 48 anos e destacado militante da aliança da oposição Frente Popular, assassinado à porta de sua casa, supostamente, por membros radicais islâmicos.

 

Chokri dedicou parte da sua actividade cívica e política a combater o antigo regime do Presidente Ben Ali e a denunciar o extremismo dos movimentos islamitas. Muitos tunisinos não hesitaram em atribuir a morte de Chokri ao Governo liderado pelo partido islamita Ennahda.

 

Os protestos têm sido de tal forma ruidosos que o primeiro-ministro tunisino foi obrigado a anunciar a dissolução do Governo e a formar um Executivo de salvação nacional composto tecnocratas e apartidários. Uma tensão que se instalou na sociedade tunisina a partir do momento em que a "Primavera Árabe" permitiu a emergência de movimentos mais extremistas na cena política do país. 

 

Os primeiros tempos ainda foram de relativa acalmia, como aliás o próprio Diplomata reconheceu, mas percebe-se agora que também na Tunísia os islamitas radicais têm conseguido alargar a sua autoridade nas estruturas do Estado, tal como aconteceu no Egipto.

 

A 15 de Maio de 2011, o Diplomata escrevia neste espaço que "os líderes ocidentais, numa euforia cega e desmedida, abraçaram aquilo que consideravam ser uma espécie de "Primavera" árabe, esquecendo-se do realismo político e ignorando todos os ensinamentos da História dos povos.

 

De uma forma ingénua, a opinião pública na Europa e nos Estados Unidos foi atrás e pensou que tudo ia ser como na Tunísia, com as pessoas a virem pacificamente para a rua a exigir a queda dos seus "ditadores", e a clamarem, entusiasticamente, por democracia ao som de cânticos e de "vivas" ao Exército.

 

Uma história bonita, mas longe da dura realidade do Médio Oriente e do Magrebe. A verdade é que no Egipto já tinham surgido alguns sinais preocupantes de que esta "febre" revolucionária repentina podia acabar mal para alguém.

 

É então na Líbia que estala um verdadeiro processo revolucionário e reaccionário e com tudo o que isso acarreta. Para quem ainda não tenha reparado, a NATO está com um verdadeiro problema em mãos e não sabe como resolvê-lo. Na Síria, os contornos ameaçam ser ainda mais sangrentos, começando a vislumbrar-se situações aterradoras".

 

Ora, hoje constata-se que nem a Tunísia conseguiu resistir à degeneração daquilo que os mais ingénuos consideravam ser um inevitável caminho triunfante para a democracia.