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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Portugal fez bem

Alexandre Guerra, 06.12.12

 

Portugal fez bem em votar favoravelmente, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a elevação do estatuto da Palestina para “Estado observador não membro” daquela organização. Portugal foi assim um dos 138 países que subscreveram aquela proposta. Apenas nove votaram contra. Registaram-se 41 abstenções.

 

A diplomacia portuguesa, em nome da coerência com a linha que tem adoptado ao longo dos anos, na defesa de uma solução para o Médio Oriente assente no princípio dos “dois Estados”, não tinha outro caminho a tomar. Mesmo que isso implicasse (como implicou) um desalinhamento total com a posição de Washington, um aliado natural de Portugal, com o qual tem havido uma harmonia intocável em matéria de política externa.

 

A preocupação de preservar essa harmonia ficou aliás bem patente em Outubro do ano passado, quando os membros da Assembleia Geral foram chamados a votar a admissão da Palestina na UNESCO. Na altura, Portugal absteve-se, mas sem apresentar argumentos que sustentassem a sua decisão.

 

A interpretação do Diplomata é simples: Portugal encontrava-se numa encruzilhada. Se, por um lado, queria evitar desalinhar-se com Washington, por outro, Lisboa acreditava (e acredita) genuinamente na Palestina enquanto Estado independente, como parte da solução para o Médio Oriente.

 

E foi perante esta encruzilhada que Portugal acabou por abster-se no ano passado, ficando numa espécie de “meio caminho”, tentando não contrariar frontalmente Washington e ao mesmo tempo não trair totalmente a sua visão da política externa em relação à Palestina.

 

A investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-UNL), Ana Santos Pinto, num pertinente artigo do jornal Público, chamava a atenção precisamente para a evolução da posição de Portugal em apenas um ano. E analisa ainda a importância do recente voto português na Assembleia Geral quando enquadrado nas relações político-diplomáticas com os Estados Unidos, já que desta vez se assistiu a uma bipolarização entre Lisboa e Washington.