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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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A "doutrina Begin"

Alexandre Guerra, 01.10.12

 

 Caça F-16 israelita

 

Benjamin Netanyahu encenou, na passada semana, um espectáculo que terá agradado à maioria dos embaixadores presentes na Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi certamente do agrado da imprensa internacional, a julgar pelo destaque que deu ao primeiro-ministro hebraico, que mostrou um desenho de uma bomba para exemplificar a “linha vermelha” que Israel não vai permitir que o Irão atravesse no que diz respeito ao seu programa nuclear.

 

Aquilo que Netanyahu disse não é uma novidade, já que qualquer observador mais atento sabe que Israel jamais permitirá que Teerão chegue a um estádio próximo da bomba atómica.

 

Se até aqui não houve qualquer acção militar israelita, isso deve-se não tanto às pressões de Washington para a contenção, mas sim ao facto de Israel ainda não se sentir verdadeiramente ameaçado com o poder nuclear iraniano.

 

Porque, a partir do momento em que os serviços de “intelligence” israelitas reunirem informação que coloque o Irão na iminência de alcançar a bomba atómica, Israel atacará cirurgicamente as várias instalações nucleares iranianas, sem qualquer aviso prévio, incluindo a Washington, que só deverá ter conhecimento da operação quando esta já estiver em curso.

 

A Mossad está atenta ao Irão, tal como sempre esteve em relação aos programas nucleares da Síria e do Iraque, tendo agido preventiva e militarmente contra estes dois países a partir do momento em que se sentiu efectivamente ameaçada.

 

Em 1981, o primeiro-ministro Menachem Begin deu ordem para que oito caças F-16 destruíssem o reactor nuclear de Osirak, no Iraque, que Israel acreditava produzir plutónio para ogivas. Secretamente e contra a vontade de Washington, Begin não hesitou. Estava lançada a “doutrina Begin”, que assenta no seguinte princípio: “The best defense is forceful preemption." Para Begin, nenhum adversário de Israel deveria adquirir armas nucleares.

 

Em 2007 seria a vez de Ehud Olmert pôr em prática a “doutrina Begin”, desta vez contra a Síria. Ainda recentemente, a New Yorker explicava como Israel tinha bombardeado secretamente o suposto reactor nuclear de Al Kibar sem que ninguém desse por isso e o assumisse posteriormente.

 

O ataque resultou de uma operação da Mossad em Viena, em Março de 2007, na qual recolheu “intel” na casa de Ibrahim Otham, o director da Comissão Síria de Energia Atómica. As provas recolhidas, incluindo fotos do local do reactor, eram conclusivas. Washington foi informado, mas o Presidente George W. Bush não ficou muito convencido.

 

Olmert, por seu lado, tinha poucas dúvidas e a 5 de Setembro, pouco antes da meia noite, quatro F-15 e quatro F-15 levantaram voo de bases israelitas com destino à Síria.

 

Através de mecanismos electrónicos, os israelitas “cegaram” o sistema de defesa anti-aéreo sírio, entre as 00:40 e as 00:53, o suficiente para entrarem no espaço aéreo do inimigo sem serem vistos e lançaram várias toneladas de bombas sobre o alvo. Hoje, cinco anos depois, ninguém fala no assunto ou o reconhece, seja Israel ou a Síria.

 

O Irão poderá ser o próximo alvo da “doutrina Begin”, embora Israel reconheça tratar-se de uma operação mais complexa do que as duas anteriores.

 

Uma coisa é certa, a encenação de Olmert na passada semana na Assembleia Geral poderá ter servido para sossegar a Casa Branca e dar mais algum tempo ao Presidente Barack Obama, numa altura em que está em plena campanha eleitoral. Mas que ninguém duvide, a partir do momento em que a Mossad tiver dados conclusivos que apontem para uma ameaça nuclear iminente vinda do Irão, os caças bombardeiros israelitas voltarão a levantar voo em segredo. A grande questão é saber se a Casa Branca será informada antes ou depois de descolarem em direcção ao alvo.