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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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A guerra da droga no "backyard" americano

Alexandre Guerra, 15.09.12

 

 

Poucas pessoas deverão ter essa noção, mas até Janeiro deste ano já tinham morrido quase 48 mil pessoas no México em violência relacionada com o tráfico de droga, desde 2006, altura em que o então Presidente Filipe Calderón iniciou uma campanha militar contra os vários cartéis, mal tomou posse.

 

Depois da guerra ao narcotráfico levada cabo na Colômbia durante, sobretudo, a década de 90, e que resultou no enfraquecimento dos cartéis de Cali e de Medellín, o México tornou-se na principal plataforma de produção e distribuição de droga para os Estados Unidos. A Ciudad Juárez, na fronteira com o Texas, tem sido nos últimos anos o símbolo mais evidente dessa realidade, marcada por violência, seja entre cartéis rivais ou entre estes e as forças de segurança.

 

Actualmente, existem vários cartéis a operar no México com diferentes características e dimensões. Ficam aqui os mais importantes.

 

Sinaloa é actualmente o mais poderoso cartel, assente numa estrutura tradicional, liderado por Joaquín “El Chapo” Guzmán Loera. Los Zetas, mais pequeno em dimensão do que o Sinaloa, é o outro dos maiores cartéis do México, sendo conhecido pela sua violência, dizendo-se que costuma desmembrar as suas vítimas quando ainda estão vivas. Foi fundado por ex-soldados e além da droga, dedica-se à extorsão, raptos e tráfico humano.

 

 

Existe também o cartel do Golfo, bem armado e um dos mais poderosos dos últimos anos, embora se diga que tenha andado a perder força. Já o cartel de Juárez continua a ser importante pela área que controla, visto ser um “corredor” para a passagem de droga para os Estados Unidos. Por outro lado, o cartel de Tijuana está hoje longe de ser a organização poderosa que foi nos anos 90.

 

Há ainda o cartel de Beltrán Leyva que resulta de uma cisão da organização de Sinaloa, composto por vários grupos de assassinos que conseguem através da intimidação e da violência infiltrar “fontes” nas estruturas políticas e policiais.

 

Quando em Dezembro de 2006 Filipe Calderón iniciou a sua guerra aos cartéis da droga recorreu a milhares de soldados do Exército, mas contou igualmente com a ajuda norte-americana, nomeadamente através da Merida Initiative, lançada no tempo de George W. Bush, com um orçamento de 1,4 mil milhões de dólares. Anos mais tarde, já sob o mandato do Presidente Barack Obama, procedeu-se a um reajustamento do modelo de cooperação entre os dois países, mantendo-se no entanto, muitos dos projectos da Merida Initiative.

 

Uma das novidades passou a ser a utilização, no ano passado, por parte do Pentágono de drones a alta altitude para recolher “intelligence” em território mexicano e depois ser transmitida às autoridades daquele país.  

 

 

Uma das grandes dúvidas que se coloca é saber qual a estratégia que o novo Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, irá adoptar na guerra ao narcotráfico. Provavelmente, não irá alterar a estratégia em curso, até porque os estudos de opinião revelam que cerca de 70 por cento das pessoas exigem “mão pesada” contra os “narcos” e a pena de morte como sentença.

 

O que não deixa margem para dúvidas é o desafio que Nieto terá pela frente para “limpar” a corrupção das estruturas do Estado e do Governo.

Note-se que um dos grandes problemas com que as autoridades mexicanas se têm defrontado é a corrupção enraizada nas estruturas de Governo e do Estado. Seja a um nível mais inferior, como polícia ou poder político local, seja num grau mais elevado da hierarquia. Por exemplo, no passado mês de Maio, o Governo anunciou a detenção de três generais de alta patente, sendo que um deles chegou mesmo a ser o número dois no Ministério da Defesa.

 

Estes generais estavam ao serviço dos cartéis de droga, tendo como missão facilitar o tráfico, ou seja, o transporte da mercadoria para fora do país, e ao mesmo tempo filtrar e desviar toda a informação vinda das autoridades americanas, nomeadamente do DEA, que pudesse pôr em causa os esforços dos narcotraficantes.