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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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A velhinha que transformou Jesus Cristo num "macaco"

Alexandre Guerra, 22.08.12

 

O antes e o depois do restauro ao Ecce Homo

 

Quantas vezes ouviu a célebre frase do “faça você mesmo”? Certamente que muitas e, provavelmente, já a terá levado à prática por diversas ocasiões, sobretudo nestes tempos de crise, onde cada euro poupado é um euro ganho.

 

Mas atenção caro leitor, se é verdade que o seu empenho é meritório e louvável, pense bem antes de se meter por territórios desconhecidos, arriscando-se a fazer “borrada” (perdoe-me o leitor a linguagem mais brejeira).

 

Pois, foi literalmente isso que aconteceu numa operação de restauro espontâneo levado a cabo por uma velhinha de 80 anos em Espanha que, perante a deterioração do fresco Ecce Homo, de Elías García Martínez, meteu mãos à obra, e em apenas duas horas, espante-se o leitor, transformou Jesus Cristo em algo parecido com um "macaco bastante peludo na cabeça" (é uma interpretação do correspondente da BBC News e não deste vosso autor)

 

Perante tal “profanação” ou "intervenção artística" (dependendo da perspectiva) daquela obra do Santuário da Misericórdia, que fica situado num topo do monte na localidade de Borja, Saragoça, os alarmes soaram em toda a Espanha.

 

Ninguém dúvida das boas intenções da senhora Cecilia Giménez, residente na paróquia do Santuário, que já veio dizer que o “fez com toda a boa fé do mundo”, para poder meter a igreja mais bonita. Além disso, disse que não fez nada às escondidas porque toda a gente que ia entrando no Santuário a via a pintar. Cecilia Giménez escreveu mesmo uma legenda por debaixo do fresco que dizia: "Este es el resultado de dos horas de trabajo a la Virgen de la Misericordia".

 

Mas o mais irónico desta história, e como referia o El País, desde o meio da manhã desta Quarta-feira já toda a Espanha conhecia o Santuário da Misericórdia e sobretudo o Ecce Homo, uma obra do início do século XIX que não é particularmente valiosa.

 

Ou melhor, não era particularmente valiosa. Porque, depois da intervenção transformista levada a cabo pela senhora Cecilia Giménez, o Ecce Homo é, agora, uma verdadeira obra de arte, certamente com valor de mercado. 

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.