Gore Vidal, um "gentleman bitch" que escreveu magistralmente sobre sexo
Gore Vidal nos "2005 Literary Awards" em Los Angeles, 9 de Novembro de 2005/Foto: Reuters/Mario Anzuoni
De Gore Vidal, que morreu esta Terça-feira aos 86 anos, o Diplomata conhece pouca obra, embora esteja perfeitamente ciente da importância incontornável que teve numa certa abordagem literária contemporânea.
Escritor multifacetado e eclético, que escreveu em diferentes formatos, Vidal era uma figura interventiva nos problemas da sociedade, com uma paixão pela política e uma sedução pela notoriedade. Tinha ainda uma forma provocadora e polémica de “atacar” algumas das temáticas em que trabalhava.
Provavelmente, nenhuma delas terá suscitado tanto prazer (o leitor desculpe o trocadilho fácil) como a da sexualidade. Ou talvez melhor dizendo, a temática do sexo. Aliás, como lembra o New York Times, foi o próprio Vidal a assumir que não era um sentimentalista ou um romântico: “Love is not my bag.”
E aos 25 anos já Vidal tinha tido mais de 1000 encontros sexuais. Algo que assumia de forma descomplexada e divertida. E era com elegância que o escritor escrevia sobre sexo, ou não fosse ele um “gentleman bitch” (palavras do próprio).
Foi já há alguns anos que o autor destas linhas leu pela primeira vez um brilhante texto de Vidal, num prefácio de uma obra fotográfica sobre as “porno stars” americanas e a sua influência na cultura Pop daquele país.
Precedido por uma foto de Jenna Jameson na capa do livro, o prefácio de Vidal começa com uma espécie de piada erótica, uma forma de comunicação que ele considera ser ancestral e reveladora dos costumes da vida privada.
Conta então Vidal esta história já antiga: “Um jovem casal está a fazer sexo casual e desprendido até que ambos atingem um (improvável) orgasmo simultâneo. A terra move-se, como Hemingway aludia. Então ela suspira: ‘Eu digo-te em quem estava a pensar se tu me disseres em quem estavas a pensar.’
Desta forma simples e humorística, mas reveladora de uma destreza intelectual invulgar, Vidal explicava aquilo a que chamava de “ultimate intimacy” de outros tempos. Um exercício só ao nível de um comunicador de excelência.