A pirataria parece estar a compensar as gentes da Somália
Ao comparar-se as duas fotografias acima, a da esquerda tirada em Fevereiro de 2002 e a da direita captada em Junho de 2009, ambas do centro de Garowe, Somália, facilmente se chega à conclusão de que houve uma evolução positiva na organização do território em termos da sua malha urbana.
Legitimamente, o leitor poderá pôr em causa a assumpção do Diplomata com base em apenas duas fotografias, mas de facto não se trata de uma extrapolação excessiva do efeito visual. Houve, efectivamente, um progresso económico naquela região da Somália, de acordo com um estudo recente do think tank Chatam House.
O mesmo estudo revela que nos últimos anos se tem verificado mais investimento nalgumas áreas urbanas somalis, embora esta dinâmica não se repercuta nas zonas costeiras.
E o mais interessante de tudo isto é que tal crescimento se ficou a dever à pirataria, uma actividade em franca expansão nos últimos anos nas águas da Somália e que tem rendido muito dinheiro a algumas gentes daquele país.
Estima o estudo da Chatam House que os piratas terão recebido em 2009 cerca de 70 milhões de dólares em resgates, cinco vezes mais que o orçamento da região semi-autónoma da Puntlândia.
Um outro estudo das Nações Unidas refere que 30 por cento do dinheiro dos resgates vai directamente para os piratas, 10 por cento é para pagar aos ajudantes em terra, outros 10 por cento são para subornos junto de alguns decisores da comunidade e os restantes 50 por cento são canalizados para financeiros ou promotores de actividades.
Por exemplo, uma das conclusões curiosas do estudo da Chatam House tem a ver com o aumento do consumo de electricidade que se verificou em centros urbanos como Garowe ou Bosasso, resultado do crescimento da actividade económica.
Outro dado interessante é a constatação de que a média de ordenados tem vindo a aumentar nas províncias com maior incidência de piratas.