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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Morte de Hussein há 1300 anos é pretexto para xiitas e sunitas alimentarem divisões

Alexandre Guerra, 08.12.11

 

Imã Hussein na Batalha de Karbala (680) numa luta desigual, acabando por perecer nas mãos dos inimigos/Brookly Museum 

 

O Ashura, celebrado na passada Terça-feira nalguns países muçulmanos, trouxe à luz do dia o conflito crónico entre os dois principais ramos do Islão, xiita e sunita. Em apenas um dia, foram emitidos vários sinais, em diferentes locais e por diferentes intervenientes, que agudizaram o estado de animosidade histórica entre xiitas e sunitas.

 

No Afeganistão, vários atentados suicidas coordenados em Cabul, Kandahar e Mazar-i-Sharif provocaram a morte de pelo menos 59 crentes xiitas que celebravam o Ashura. Uma data importante para aquele ramo do Islão, porque assinala a morte de Hussein, neto de Maomé e considerado pelos xiitas o sucessor do profeta.

 

Apesar da extrema violência que tem assolado o território afegão, é a primeira vez que ocorre um atentado sectário deste género. Embora a minoria xiita tenha estado sob pressão durante o regime taliban, nunca tinha sido alvo de actos violentos direccionados.

 

E, de facto, os taliban rejeitaram de imediato qualquer responsabilidade nos atentados, o que se confirmou na Quarta-feira, com a reivindicação do ataque por parte de um pequeno grupo terrorista baseado no Paquistão. O Lashkar-e-Jhangvi (LeJ) tem ligações fortes à al-Qaeda, de base sunita, e também aos taliban.

 

Não são ainda claras as razões que levaram aquele grupo a atacar a comunidade xiita no Afeganistão, mas alguns observadores falam na possibilidade de se estar a incitar o sectarismo no País, eventualmente, com o objectivo de fragilizar a actual liderança política do Presidente Hamid Karzai e o modelo de governação daquele Estado.

 

O jornal paquistanês Dawn interrogava-se precisamente sobre essa possibilidade e referia que as autoridades afegãs acreditam que estes atentados tinham como objectivo reforçar a insurreição que se prolonga já há dez anos, altura em que os Estados Unidos decidiram invadir o Afeganistão.

 

Uma coisa é certa, sublinhava o mesmo Dawn, os atentados de Terça-feira importaram do Iraque e do Paquistão um estilo de violência sectária até então inexistente no Afeganistão.

 

Ainda nesta lógica de guerra intestina islâmica entre xiitas e sunitas, da Síria vieram sinais reveladores de que os tempos vindouros poderão trazer ainda mais violência sectária. Dominada há décadas pela minoria alauita (xiitas), a Síria é um país predominantemente sunita, embora, por razões óbvias, tenha mantido relações estreitas com o regime xiita do Irão e partilhe com este o apoio a movimentos como o Hezbollah ou o Hamas.

 

Curiosamente, também na Terça-feira, um dos líderes sunitas da oposição ao regime de Bashar al-Assad veio cavar ainda mais as trincheiras.  Burhan Ghaliun, líder do recém criado Conselho Nacional Sírio, avisou que se a Síria vier a ser liderada por si cortará as relações com o Irão, com o Hezbollah e com o Hamas.

 

Reagindo a estas palavras, e também por ocasião da celebração do Ashura, mas desta vez no Líbano, o líder xiita do Hezbollah, Hassan Nasrallah, veio manifestar o seu apoio a Bashar al-Assad. Numa rara aparição pública e falando para milhares de pessoas num bairro a sul de Beirute, um bastião xiita, Nasrallah aproveitou ainda para atacar Ghaliun.