Rever The Killing Fields é relembrar os anos de terror dos khmer vermelhos
Rever The Killing Fields (Terra Sangrenta), o espectacular filme de 1984 baseado numa história verídica, realizado por Roland Joffé e que mereceu três Óscares da Academia, é relembrar um dos conflitos mais sangrentos (e também mais esquecidos) dos últimos quarenta anos.
Após anos de guerra civil e com a chegada dos khmers vermelhos à capital Phnom Penh, o Cambodja viveria entre 1975 e 1979 anos de verdadeiro terror e de extermínio em massa.
Sob o regime do sanguinário Pol Pot estima-se que possam ter morrido 1,7 milhões de pessoas, fosse por assassinato, à fome ou devido a doença.
Todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estivessem associados ao antigo regime, fossem intelectuais, artistas, ou cambojanos de etnias estrangeiras, tais como vietnamita ou tailandesa, budistas ou cristãos, foram perseguidos e mortos, naquilo que muitos consideram ser o pior genocídio dos anos da Guerra Fria.
Durante pouco mais de três anos, reinou uma lógica comunista de partido e pensamento únicos. Assistiu-se à destruição do modelo social vigente, incluindo o papel da família enquanto factor de agregação da sociedade. O Estado iniciou um programa de formatação intelectual das crianças sob o novo paradigma de pensamento, transformando-as em “soldados” implacáveis ao serviço do regime.
Pol Pot quis começar tudo de novo, a partir do “Ano Zero”, eliminando os resquícios do passado. Inspirado pela “Revolução Cultural” de Mao Zedong e empenhado em dar seu “grande salto em frente”, Pol Pot levou o processo de “purificação” cultural, política e social ao extremo. Também a reforma agrária se transformou num processo dramático e doloroso, gerando autênticos campos de trabalhos forçados e de escravatura.
Quando em 1979 os vietnamitas invadem o Cambodja, o regime dos khmers desaba e Pol Pot, com todo o seu estado maior, refugia-se na selva, na zona fronteiriça da Tailândia com o Cambodja, onde durante os anos seguintes vai operar contra o novo Governo de Phnom Penh.
Pol Pot, que acabou por perder o controlo dos khmers vermelhos no final da década de 90, morre em Abril de 1998, depois de ter sido detido por facções concorrentes. A causa de morte terá sido ataque cardíaco, embora existam suspeitas de que possa ter sido envenenado.
Apesar da brutalidade do regime, aos olhos da lei internacional não tem havido consenso quanto à utilização do conceito de genocídio. Seja como for, o Governo do Cambodja e as Nações Unidas criaram um tribunal híbrido, sedeado em Phnom Penh, com o objectivo de julgar antigos responsáveis dos khmers vermelhos, e que teve a sua primeira sessão em 2007, aplicando as leis internacionais e cambojanas.
O primeiro julgamento começou em 2009, sentando no banco dos réus, o antigo director do tristemente célebre complexo S-21, Kaing Guek Eav. Um ano mais tarde foi considerado culpado por crimes contra a humanidade, sentenciado a 35 anos de prisão. Espera-se agora que este ano sejam julgados mais quatro líderes khmers.
Hoje, muitos dos campos da morte, onde foram depositados milhares de corpos, estão espalhados pelo país, assinalados como locais de reflexão e de homenagem.
O termo “killing fields” foi utilizado pela primeira vez pelo jornalista cambojano Dith Pran, para descrever o que tinha visto quando conseguiu escapar ao regime de Pol Pot.
O filme The Killing Fields conta a história verdadeira de Pran e da sua relação de amizade e de confiança com o jornalista do New York Times, Sydney Schanberg, que em 1976 viria a ganhar o prémio Pulitzer precisamente pela sua cobertura da guerra do Cambodja.
A antiga colónia francesa, que se tornou independente em 1953, é hoje um dos países mais pobres do mundo, com 15 milhões de habitantes, que procura estabilidade, sobretudo através do crescimento económico, onde regista uma das mais altas taxas da Ásia. O vestuário e o turismo são as áreas que mais receitas geram para o Estado em termos de exportação.