As "primaveras" árabes (2)
Rebeldes líbios na cidade de Yafran/Foto: Youssef Boudlal/Reuters
Quando a Europa revolucionária fervilhava em 1848, também o Médio Oriente era assolado por uma vaga de revoltas, provocando autênticos terramotos políticos, relembra na última edição da Foreign Affairs, Jack A. Goldstone, professor na George Mason University’s School of Public Policy.
As razões por detrás destas revoluções não eram exactamente as mesmas das europeias, sendo que em países como Marrocos e Oman, o elevado preço dos alimentos ou as altas taxas de desemprego levaram as pessoas para a rua. Na Europa, as motivações foram sobretudo políticas e ideológicas.
Seja como for, é interessante constatar que existe algum paralelismo entre as revoltas que nos últimos meses se abateram sobre alguns Estados do Médio Oriente (e que muitos analistas e jornalistas insistem em classificar de inéditas) e aquilo que aconteceu em 1848 na mesma região.
No entanto, Jack Goldstone identifica uma diferença importante. Diferença que não tem a ver com os factores que espoletaram as revoluções, mas antes com os alvos a quem se dirigiam.
Em 1848, os povos de alguns países do Médio Oriente insurgiram-se contra as monarquias tradicionais, porque era essa a natureza dos seus regimes.
Ora, em 2011 os alvos da contestação são sobretudo “’sultanistic’ dictatorships”, regimes que assentam na figura de uma só pessoa, empenhada na concentração de poderes e de riqueza, na criação de uma rede dependente de interesses, na despolitização e empobrecimento da sociedade e na sua perpetuação na liderança.
Como já aqui ficou demonstrado, as revoltas de rua do Médio Oriente dos últimos meses não são uma realidade inédita. Porém, é inegável que pela primeira vez o povo ousou desafiar o poder do regime dos “sultões”, nalguns casos encontrando pouca resistência, como aconteceu na Tunísia ou no Egipto, noutros, deparando-se com movimentos reaccionários violentos, como se está a verificar na Líbia e na Síria.