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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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As pessoas devem tentar conhecer os "fantamas" que representam o seu medo

Alexandre Guerra, 06.05.11

 

Mia Couto (esq.) acompanhado por Charles Kupchan e Figueiredo Lopes, esta manhã.

 

De forma crua e directa, uma das "fontes de medo" das sociedades europeias é a questão da imigração, disse Charles Kupchan, na sua intervenção no primeiro painel desta Sexta-feira, sobre “Ameaças Globais – Desafios para a Segurança Humana”.

 

Quando se fala de ameaças globais, Figueiredo Lopes, Presidente da EuroDefense-Portugal e antigo ministro da Defesa, não tem dúvidas, quando diz que o futuro passa pelo aprofundamento do multilateralismo. Um registo de certa forma partilhado por Alex Bennet, co-fundadora do Mountain Quest Institute e Antiga Chief Knowledge Officer da Marinha dos EUA, quando diz que só é possível ultrapassar os desafios para a segurança humana através de uma “consciencialização colectiva” da globalidade das ameaças.

 

Uma das intervenções mais originais desta sessão foi, talvez, a de Viriato Soromenho-Marques, ao relacionar a problemática ambiental com os desafios de segurança. Trata-se de uma abordagem relativamente recente em termos históricos, quando comparada com as ameaças clássicas à estabilidade do sistema internacional.

 

Para Soromenho-Marques, uma das novidades na problemática das ameaças globais tem a ver com o facto da crise ambiental alterar a “percepção” que os Estados e as pessoas têm do conceito de “segurança”.

 

A “crise ambiental afecta o próprio sistema” e não apenas elementos desse mesmo sistema, como acontece com outras ameaças clássicas, doutrinariamente falando.

 

Além do mais, a crise ambiental “tem uma dimensão de irreversibilidade, de aceleração cumulativa no tempo, de insegurança política” e uma componente psicológica.

 

Soromenho-Marques sublinhou ainda existir quem coloque em causa evidências objectivas que afectam fisicamente a atmosfera, nomeadamente, algumas correntes nos Estados Unidos. No entanto, informa que “ninguém está em condições de antecipar” a “instabilidade do ecossistema planetário.

 

Georges Landau, Presidente da Prismax Consultoria, no Brasil, focou-se mais na problemática do relacionamento entre o crescimento de países como a China e o Brasil e o consumo de recursos energéticos e alimentares. Para Landau, só através de um equilíbrio naquela equação será possível garantir a “segurança humana”.

 

Num registo diferente, mas bastante do agrado do Cables from Estoril, Mia Couto, sendo menos técnico que os restantes oradores, ofereceu uma perspectiva mais “literária” e emotiva sobre a relação que as pessoas têm com as ameaças e os seus medos. Mia Couto mostrou-se preocupado porque na maior parte das vezes essa relação não é íntima, já que as sociedades ocidentais e as pessoas evitam aprofundar as causas desses mesmos receios.

 

Dando o exemplo de Osama bin Laden, o escritor moçambicano lembrou que as pessoas vêem neste tipo de homens “fantasmas como representação do próprio medo”. No entanto, Mia Couto lamenta que pessoas não procurem ir além dessa percepção superficial, ou seja, não tentem conhecer as razões que estão por detrás de determinados comportamentos que ameaçam globalmente o mundo.

 

 

Texto publicado originalmente em Cables from Estoril.