Para lá das celebridades, existem nomes a não perder no Estoril. Carlos Lopes é um deles
Carlos Lopes/Foto: Nuno Ferreira Santos/Público
Numa iniciativa como as Conferências do Estoril, que reúne inúmeros oradores de prestígio internacional, alguns dos quais autênticas celebridades, por vezes, corre-se o risco de se focar excessivamente as atenções nessas pessoas, mais mediáticas, distraindo o público das apresentações de outros participantes de valor intelectual e profissional igualmente reconhecido, mas menos expostos em termos de notoriedade.
Vai haver vários casos desses no Estoril, e o Cables from Estoril destaca aqui um desses nomes, menos sonante, mas imperdível, sobretudo para quem se interessa por assuntos africanos e latino-americanos, e temas relacionados com a problemática do desenvolvimento em países menos avançados (PMA).
Carlos Lopes, Subsecretário Geral das Nações Unidas e Director Executivo do Instituto para Formação e Pesquisa da ONU (UNITAR), que participará no painel da manhã de Quinta-feira sobre A Arquitectura da Governação Global, é um sociólogo guineense que trabalha para as Nações Unidas há alguns anos, tendo inclusive sido consultor da UNESCO e da Comissão Económica da ONU para África (CEA), e integrado os quadros do PNUD em 1988 como economista para o desenvolvimento. Em Janeiro de 2003 foi coordenador residente do PNUD no Brasil, tendo dois anos mais tarde sido nomeado director dos Assuntos Políticos, Humanitários e de Manutenção de paz no Gabinete do antigo Secretário-Geral, Kofi Annan.
O autor destas linhas teve contacto pela primeira vez com o trabalho de Carlos Lopes há uns anos, precisamente numa cadeira do curso de Relações Internacionais sobre estudos africanos, mais concretamente sobre a África lusófona, ao ler um livro de sua autoria.
“Compasso de Espera – O Fundamental e o Acessório na Crise Africana” é um pequeno livro com prefácio de Boaventura Sousa Santos editado em 1997, mas de grande qualidade académica. Embora seja uma obra claramente datada, rapidamente se tornou uma ferramenta fundamental para uma melhor compreensão dos temas africanos. Desde então, Carlos Lopes tem sido um nome acompanhado com toda a atenção.
Carlos Lopes, que esteve presente na primeira edição das Conferências do Estoril, tem várias licenciaturas da Universidade de Genebra e é doutorado em Estudos Africanos e em História pela Universidade de Sorbonne de Paris, e especialista em desenvolvimento e planeamento estratégico. Na altura, a jornalista Teresa de Sousa do Público fez-lhe uma entrevista que vale a pena recordar.
Carlos Lopes ajudou a criar organizações não-governamentais e foi consultor da UNESCO, da Autoridade Sueca para a Cooperação e Desenvolvimento, do Grupo de Pesquisa e Estudos Tecnológicos de Paris (GRET) e da Comissão Económica das Nações Unidas para a África (CEA).
Na Guiné Bissau atingiu aos 24 anos o topo da carreira da função pública e coordenou o estabelecimento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), uma das instituições de pesquisa mais conceituadas da África Ocidental.
Carlos Lopes foi autor e coordenador de 20 livros, tendo leccionado em várias universidades e instituições académicas em cidades como Lisboa, Zurique, Cidade do México, São Paulo ou Rio de Janeiro.
Texto publicado originalmente em Cables from Estoril.