Mais uma guerra civil iminente em África?
Estará África na iminência de uma nova guerra civil? Os observadores internacionais no terreno, como o senador John Kerry, presidente do comité dos Negócios Estrangeiros do Senado dos Estados Unidos, acreditam que não. Estão confiantes que o referendo que se realiza no próximo Domingo no Sudão, e que irá decidir se o Sul daquele país se tornará numa nação independente, não terá consequências gravosas, estando neste momento todo o processo a decorrer sem problemas.
A CNN, no entanto, e inspirada na longa tradição africana de conflitos internos, colocava as coisas de uma forma mais prática ao dizer que o resultado deste referendo ou institui o mais recente Estado da comunidade internacional ou acaba em guerra civil. Atendendo ao historial do Sudão e ao comportamento da sua cúpula político-militar nos últimos anos, o Diplomata só pode concordar com aquela observação.
Apesar do Presidente sudanês, Omar al-Bashir, ter ontem reiterado que irá acatar o resultado do referendo, seja ele qual for, o Diplomata tem muitas dúvidas quanto à solidez destas palavras perante um cenário de secessão do Sul do território. O passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul ou da região de Darfur, perspectivam tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo deste referendo.
Relembre-se que esta consulta popular resulta de um longo processo político e militar, que culminou nos acordos de paz de 2005, colocando o fim a duas décadas de conflito, e definiram várias linhas orientadoras estratégicas sobre o futuro do país, nomeadamente, partilha de governo, distribuição de receitas petrolíferas e o estabelecimento de um referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão.
É importante sublinhar que o Sudão, o maior país africano, tem profundas divisões entre o Norte, maioritariamente muçulmano e próximo da cúpula política, e o Sul, cristão e animista e rico em petróleo, o terceiro produtor da África subsariana.
Estas clivagens traduziram-se em violência ao longo das últimas duas décadas e discriminação, na maior parte dos casos imposta pelo regime de Cartum, resultando na morte de duas milhões de pessoas, em muitos dos casos devido a fome e a doença.