O ciberespaço é o novo domínio da doutrina militar dos Estados Unidos (2)
Administrador de rede da US Air Force no aeroporto de Kandahar Foto/Staff Sgt. James L. Harper Jr./DoD
Poucos saberão, mas em 2008 o Departamento de Estado norte-americano foi alvo do mais grave ataque cibernético da sua história. Não se tratou de um processo de “fuga” interna de informação, como é o caso do Wikileaks já aqui analisado, mas, efectivamente, de uma tentativa deliberada e maliciosa de infligir danos na rede informática militar daquele país.
O “ataque” foi espoletado com a introdução de uma “flash drive” com vírus num dos “laptops” do Exército americano ligado em rede numa das bases do Médio Oriente. Através desta ligação foi possível aceder ao Comando Central americano, cujo programa infectado foi correndo no sistema, sem ser detectado, recolhendo informação desclassificada e classificada. Ou seja, este programa hostil tinha como objectivo abrir uma “brecha” no sistema nervoso das forças armadas americanas.
De acordo com a informação disponível, esta operação terá sido desencadeada por um serviço de “intelligence” estrangeiro, embora Washington não tenha revelado qual.
“Este incidente, que se encontrava classificado, foi a mais significativa brecha de sempre na rede de computadores militares americanos e serviu como uma importante ‘wake up call’. A operação Buckshot Yankee desenvolvida pelo Pentágono para conter o ataque marcou um ponto de viragem na estratégia cibernética dos Estados Unidos”. Quem disse estas palavras foi o próprio vice-secretário de Defesa, William J. Lynn III, num artigo assinado por si na edição de Setembro/Outubro da revista Foreign Affairs e já replicado por alguns meios especializados dada a sua importância.
Aquele responsável americano informou ainda que a frequência e o nível de sofisticação das incursões hostis nas redes militares dos Estados Unidos cresceu exponencialmente nos últimos 10 anos. E revela também que a operação de 2008 não foi a única “penetração” inimiga bem sucedida.
Como surpreendentemente admite William J. Lynn III, milhares de ficheiros foram roubados das redes militares americanas e dos aliados, assim como de parceiros industriais, desde planos operacionais, informação de “intelligence” ou outros documentos estratégicos.
Perante estes ataques internos, os exemplos externos da Estónia em 2007 e da Geórgia em 2008, e a emergência das novas realidades cibernéticas, os Estados Unidos assumiram a ciberguerra como uma ameaça à segurança nacional, tendo o secretário de Defesa, Robert Gates, criado formalmente em Junho de 2009 o US Cyber Command, com o objectivo de integrar as operações de ciberdefesa na estrutura militar.
Este comando, que começou a operar em Maio de 2010, representa uma nova filosofia no paradigma da segurança e militar americano. O US Cyber Command irá actuar dentro dos domínios cibernéticos e tecnológicos, englobando 15 mil redes e sete milhões de terminais computacionais espalhados por centenas de instalações em dezenas de países.
Dada a complexidade deste novo comando, apenas agora em Novembro ficou totalmente operacional, com o seu responsável máximo, o general Keith Alexander, a sublinhar que o “ciberespaço é essencial para o estilo de vida americano e que o US Cyber Command sincronizará os esforços na defesa das redes do Pentágono”.