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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Livro distinguido pela UE relembra a pesada herança da ocupação soviética dos bálticos

Alexandre Guerra, 12.12.10

 

Museu da Ocupação, Talin, Estónia

 

O Prémio Livro Europeu do Ano, uma iniciativa da União Europeia, foi anunciado há dias, distinguindo o italiano Roberto Saviano, na categoria de não ficção, com “A Beleza e o Inferno”, e a escritora finlandesa Sofi Oksanen na ficção, com o romance “Purge”.

 

A referência a este prémio pelo Diplomata não vem tanto a propósito de Roberto Saviano, merecidamente reconhecido e de quem muito se tem falado nos últimos tempos, mas do livro de Oksanen, que foi originalmente publicado no seu país em 2008, tendo vencido os três prémios literários mais importantes da Finlândia.

 

A escritora finlandesa, que tem apenas 32 anos, é filha de mãe estónia, o que terá sido determinante na escolha da temática do livro, um relato da violência a que foram sujeitas as mulheres da Estónia durante a ocupação soviética.

 

Como a própria escritora referiu, este seu livro assume particular importância no contexto histórico da Estónia porque, “durante muito tempo, tudo isso permaneceu no domínio da tradição oral. Depois de 1991, novas palavras apareceram em estónio, como ocupação, resistência”.

 

Esta realidade trouxe à memória do Diplomata uma viagem que fez aos países bálticos há pouco mais de dois anos, na qual se apercebeu da relação histórica que os estónios tiveram com os dois regimes totalitários que ocuparam aquele território, o nazi e o soviético.

 

Como já aqui o Diplomata tinha escrito, “no Verão de 1991 os países bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia) obtiveram a sua independência, após a terem perdido durante a II Guerra Mundial, resultado da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, que abriu caminho ao regime nazi para invadir a Polónia e à União Soviética e impor um modelo de ‘esferas de influência’ na Letónia, Estónia e Lituânia".

 

Como também aqui referido, “este acabou por ser o momento mais dramático na história destes países nas últimas sete décadas, e que marcou indelevelmente a sua evolução enquanto nação e actor nas relações internacionais. Assim, não se estranha que a adesão à NATO, em Março de 2004, tenha sido vista como a verdadeira ‘libertação’ e europeização, e não tanto a entrada na União Europeia em Maio do mesmo ano”.

 

Entrando um pouco mais no tema directamente relacionado com o romance de Oksanen, é importante relembrar que “apesar dos três países bálticos terem também sido invadidos pelos alemães em 1941, tendo estes aliás aparecido em determinados círculos como ‘libertadores’ dos opressores soviéticos, é a herança do regime estalinista que hoje em dia é mais presente naqueles Estados, seja através de alguns comportamentos do quotidiano, seja na abordagem que museus (os da Ocupação em Riga e Talin) e livros de história têm aos acontecimentos.

 

A presença dos soldados soviéticos durante a II Guerra Mundial nos territórios bálticos e a posterior influência de Moscovo através das estruturas do Partido Comunista deixou uma marca sangrenta e dramática na história social daqueles povos, tornando a invasão nazi  (igualmente brutal) uma ‘nota de rodapé’”.

 

Depois de ter visitado vários locais nos bálticos, incluindo alguns muses dedicados à ocupação, e lido alguma bibliografia, o Diplomata pode tentar enquadrar esta questão com dois factores: “O primeiro está relacionado com o facto dos três países bálticos terem, de modo mais ou menos formal, alinhado com os soldados alemães em 1941 nos combates contra a União Soviética e isso ter originado um processo de esbatimento histórico sobre a questão; o segundo factor está obviamente associado à influência que Moscovo teve, já que se prolongou durante décadas, o que não aconteceu com o regime nazi.”