Um escritor que resistiu ao extremismo depois do Hezbollah ter morto o seu filho
David Grossman
A revista New Yorker publicou esta semana um perfil de David Grossman, a propósito do seu mais recente livro, “To the End of the Land”. Judeu e um dos escritores israelitas mais consagrados da actualidade, Grossman enquadra-se ideologicamente num espectro que pode ser visto como uma espécie de esquerda intelectual, onde se pode encontrar nomes como Amos Oz ou A. B. Yehoshua, activistas e membros do Peace Movement.
Há uns anos, o autor destas linhas teve o privilégio de entrevistar Grossman no hotel Sheraton em Lisboa, e pôde conhecer um escritor com uma forte sensibilidade política, imposta pelas circunstâncias da sua própria vivência.
Talvez, por isso, ao longo de toda a conversa Grossman nunca tenha abdicado totalmente da visão securitária de Israel, uma necessidade intrínseca a qualquer cidadão israelita que sente a sua nação ameaçada.
Por outro lado, Grossman tinha plena consciência das dificuldades e das injustiças que se abatiam sobre o povo palestiniano, e apelava a uma solução pacífica e douradora. Hoje, esse sentimento parece ser ainda mais evidente, havendo uma consciência clara de que a manutenção da actual conjuntura condenará ao desastre toda a região.
David Grossman nunca acreditou na solução militar para resolução do conflito do Médio Oriente, embora tenha inicialmente defendido a intervenção israelita no Líbano em 2006 numa lógica de auto-defesa. No entanto, com o desenrolar dos acontecimentos no terreno, Grossman foi-se tornando um acérrimo crítico da campanha no Líbano.
A 10 de Agosto de 2006, David Grossman, acompanhado de Oz e de Yehohsua, realizam uma célebre conferência de imprensa para exortar o Governo israelita, liderado por Ehud Olmert, a implementar um cessar-fogo imediato e a iniciar negociações sob a égide das Nações Unidas, o que viria acontecer pouco tempo depois.
Ironicamente, e com o cessar-fogo a poucas horas de ser implementado, Grossman recebe a trágica notícia de que o seu filho, em serviço militar numa aldeia do Líbano, tinha morrido na sequência de um ataque do Hezbollah.
A violenta realidade do conflito do Médio Oriente abateu-se sobre Grossman, ao ceifar a vida do seu filho Uri, a duas semanas de completar 21 anos. Mas, nem perante esta tragédia pessoal Grossman deixou toldar as suas convicções pelo radicalismo, evitando a tentação de cair em extremismos. O seu novo livro é mais um sinal de clarividência de um homem marcado por um conflito sem fim à vista.