Da história de espiões à teoria da conspiração
Barack Obama e Dimitri Medvedev há uns dias em Washington/Foto: AP/RIA Novosti
Por detrás de uma boa história de espionagem existe sempre uma teoria da conspiração. Apesar do FBI ter informado hoje que a detenção dos 10 alegados agentes russos no Domingo se ficou a dever à suspeita de que estariam para abandonar os Estados Unidos, Moscovo acusa as autoridades americanas de não estarem a fornecer a informação necessária sobre este assunto.
O Governo russo recusa qualquer envolvimento neste caso, acusando as autoridades americanas de tecerem acusações infundadas num tom de regresso à Guerra Fria. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que está a aguardar uma explicação de Washington.
O primeiro-ministro Vladimir Putin já manifestou a sua preocupação junto do antigo Presidente americano, Bill Clinton, que se encontrava em Moscovo para uma conferência. Putin receia que este caso possa afectar “as coisas positivas alcançadas nos últimos anos”. Uma fonte da administração americana citada pelo New York Times, revelava que o Presidente Barack Obama também estava desconfortável com o “timing” da operação.
Os receios de Putin podem ter algum fundamento, uma vez que, segundo a informação disponibilizada nos documentos da acusação levados a tribunal, os alegados espiões terão sido treinados pelo Russian Foreign Intelligence Service (SVR). O FBI informou ainda que aqueles estariam a actuar em solo americano há vários anos.
Moscovo tem questionado também o “timing” desta detenção, já que surge poucos dias após uma visita do Presidente russo, Dmitri Medvedev a Washington, que ocorreu num ambiente amistoso, demonstrando um dos melhores momentos nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia desde o fim da Guerra Fria. “O momento em que [a detenção] foi feita foi escolhido com um certo requinte”, disse Lavrov, com algum sarcasmo à mistura.
O chefe da diplomacia sugere que existe alguém ou algum grupo poderoso e influente na estrutura de poder americana que tem interesse em “minar” as boas relações entre Moscovo e Washington.
Também Gennady Gudkov, antigo agente do KGB e actual vice-presidente do Comité de Segurança da Duma, disse ao The Moscow Times que esta operação do FBI pode ter como objectivo descredibilizar a política de Obama face à Rússia.
“Agora, milhões de americanos vão pensar que a Rússia queria apenas ser parceira dos Estados Unidos para que pudesse ir atrás de segredos americanos como na Guerra Fria”, disse Gudkov. “Parece o trabalho de alguém muito poderoso e que está na oposição política a Obama, ou um ‘falcão’ militar ou um grupo de ‘intelligence’ que não vejam com bons olhos o restabelecimento das relações com a Rússia”, acrescentou Gudkov.