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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Congresso dá "vitória" a Obama e a política impõe-se à economia e finança

Alexandre Guerra, 25.06.10

 

Senadores Richard Shelby, Christopher Dodd e Jack Reed/Foto: Jonathan Ernst/Reuters

 

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a Toronto para participar nas cimeiras do G8 e do G20 durante este fim-de-semana, após ter obtido uma importante vitória a nível interno, com o acordo no Congresso sobre a reforma do sistema financeiro americano. Obama tem motivos para congratular-se porque esta nova lei materializa a vitória numa “guerra” que desencadeou contra as instituições económicas e financeiras americanas que provocaram uma crise no Outono de 2008 de contornos ímpares nas últimas décadas.

 

Além disso, é a concretização de uma nova visão ideológica que olha com desconfiança e desdém para os mecanismos clássicos e conservadores que têm regido aquilo que sempre foi conhecido como sistema capitalista e, sobre o qual, a América cresceu durante décadas.

 

Com esta nova lei, negociada durante várias horas entre a Câmara dos Representantes e o Senado, Obama demonstrou que a política continua a estar acima da economia e da finança, por mais poderosos que sejam os grupos económicos e financeiros.

 

Obama adoptou desde o início um tom bastante agressivo contra alguns dos agentes económico-financeiros, nomeadamente a banca, fundos de investimento e corretoras, arriscando, de certa forma, capital político. No entanto, o Presidente revelou destreza e perseverança na forma como conduziu o processo, mantendo uma pressão constante sobre os principais responsáveis da hecatombe, tendo, nas suas palavras, conseguido que o Congresso chegasse a um consenso sobre uma lei que consigna 90 por cento das medidas que pretendia.

 

Assim, quase dois anos após o colapso do sistema financeiro, o modelo de regulação nos Estados Unidos sofre uma autêntica revolução, algo impensável na União Europeia, onde os actores financeiros e económicos poderão continuar a aplicar os modelos vigentes falidos e perniciosos perante a passividade dos governantes e das entidades reguladoras.

 

Com a nova lei americana, que deverá ser votada no Congresso na próxima semana, Obama pretende erradicar o paradigma antigo e evitar que os americanos voltem a sofrer com os excessos e especulações de um grupo restrito de actores financeiros. Este foi aliás um dos factores mais importantes para a “vitória” de Obama, já que desde o início da sua jornada o Presidente envolveu a opinião pública, tornando-a parte interessada no processo legislativo.

 

O próprio Secretário do Tesouro, Timothy F. Geithner, colocou as coisas da seguinte forma: “Todos os americanos têm uma palavra a dizer sobre esta lei. Vai oferecer às famílias a protecção que merecem, ajudar a salvaguardar a sua segurança financeira e a proporcionar aos empreendedores da América o acesso ao crédito que precisam para se expandir e inovar.”

 

Embora nobres e comunicacionalmente eficazes, as palavras de Geithner são exageradas, sendo certo que a nova lei não será a resposta para todos os males, mas é sem dúvida uma resposta importante aos acontecimentos que se verificaram nos últimos dois anos e que tornaram urgente a mudança de paradigma e a adopção de novos modelos reguladores.