David Cameron pede desculpa para sarar as "feridas" do "Bloody Sunday"
Familiares das vítimas do "Bloody Sunday" congratulam-se com o Saville Report/Guardian
Quase 40 anos depois, o chefe do Governo britânico, David Cameron, “lamentou profundamente” a morte “injustificada” de 14 pessoas a 30 de Janeiro de 1972, na localidade de Londonderry, quando tropas do Regimento de Paraquedistas britânico abriram fogo sobre um grupo de manifestantes pela defesa dos direitos civis na Irlanda do Norte.
O trágico acontecimento ficou conhecido como “Domingo Sangrento” e foi sempre uma “ferida” aberta na sociedade britânica e um espinho nas relações políticas e sociais entre unionistas e republicanos na região do Ulster.
As declarações de David Cameron surgem na sequência da apresentação do Saville Report, resultante do processo de inquérito aos acontecimentos do Domingo Sangrento, e que se prolongou durante 12 anos. Com 5000 páginas, mais de 2500 testemunhos escritos e 922 orais, o Saville Report concluiu que as forças militares britânicas agiram precipitadamente ao terem disparado sem qualquer tipo de aviso sobre as pessoas que não representavam qualquer ameaça.
Cameron considerou que o Exército britânico agiu de forma errada na altura, uma opinião partilhada pelo actual chefe do Estado Maior, General Mike Jackson, que corroborou as palavras do primeiro-ministro proferidas hoje na Câmara dos Comuns.
No entanto, e tendo em conta a sensibilidade deste tema, nem todos concordam com estas conclusões, nomeadamente os sectores unionistas mais radicais. Por outro lado, é preciso saber se o ministério público da Irlanda do Norte vai proceder a alguma acusação criminal a soldados envolvidos nos acontecimentos de Londonberry.
É muito provável que tal não aconteça, de modo a evitar-se o reavivar de situações tensas e de conflito, numa altura em que se conclui o processo de devolução de poderes para Stormont.
A importância deste relatório reveste-se sobretudo de consequências políticas, com o reconhecimento formal por parte de Londres do seu erro e da sua responsabilidade nas mortes de 1972. Como diz Mark Davenport, editor de política da BBC News, as conclusões do Saville Report representam acima de tudo um momento de “júbilo e de “justiça” para os familiares das vítimas.