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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Estados Unidos e México envolvidos numa "guerra" sem fim à vista

Alexandre Guerra, 11.06.10

 

Agentes da Border Patrol examinam uma carga de marijuana na fronteira com o México/AFP

 

Vinte e duas mil pessoas perderam a vida no México desde 2006, a maioria devido a actividades relacionadas com a produção e tráfico de droga. Números impressionantes e que o Diplomata desconhecia, apesar de ter uma ideia da violência que assola aquele país no âmbito da problemática do narcotráfico.

 

Este assunto e a imigração ilegal são as duas grandes preocupações transfronteiriças entre o México e os Estados Unidos. E naturalmente são também os dois grandes eixos de cooperação entre as autoridades mexicanas e norte-americanas. E exemplo disso foi o Project Deliverance, uma gigantesca operação conjunta levada a cabo nos últimos 22 meses e que culminou esta Quarta-feira com a detenção de mais de 400 pessoas em 16 estados americanos e a apreensão de 150 milhões de dólares, 2,2 toneladas de cocaína, 62 toneladas de marijuana e 500 armas. Durante estes quase dois anos foram detidas ao todo mais de 2 200 pessoas.

 

O Procurador-Geral americano, Eric Holder, classificou com sucesso a operação e adiantou que foi um duro golpe para os cartéis no México, no entanto, alertou para o facto de tratar-se apenas de uma batalha ganha numa longa guerra que ainda está para durar. Uma das preocupações neste momento da DEA (Drug Enforcement Administration) é desmantelar todos os canais de distribuição nos Estados Unidos. O Project Deliverance foi implementado de acordo com esses objectivos.

 

Apesar dos esforços em curso, a situação no México, sobretudo nalguns estados mexicanos, parece estar a deteriorar-se, tendo o Presidente Felipe Calderón admitido recentemente junto do seu homólogo norte-americano, Barack Obama, necessitar da ajuda dos Estados Unidos para combater o flagelo do narcotráfico e do crime organizado. Os cerca de 50 mil soldados mexicanos mobilizados para este “combate” não estão a ter os resultados esperados.

 

A declaração de Calderon está em consonância com aquilo que pensam alguns responsáveis mexicanos, que acusam Washington de não estar a envidar os esforços necessários. Até ao momento, os Estados Unidos contribuíram com 1,3 mil milhões de dólares ao abrigo do pacote Merida Initiative.

 

O próprio Eric Holder admitiu que o Governo americano poderia estar a fazer mais, estando por isso a aguardar que o Congresso aprove uma ajuda extra de 500 milhões de dólares. O Presidente Obama está a ponderar ainda mobilizar 1200 efectivos da Guarda Nacional para a zona fronteiriça, com o objectivo de reforçar a vigilância e o controlo efectuado pela Border Patrol.

 

Efectivamente, é do interesse de Washington envolver-se ainda mais no combate ao narcotráfico no México já que, de acordo com um relatório recente do Departamento de Justiça do Estados Unidos, os grupos de crime organizado mexicanos estão a expandir a sua actividade para solo norte-americano. Além disso, a produção de heroína duplicou desde 2008, assim como o aumento de outras substâncias.

 

Kevin L. Perkins, director assistente da Divisão de Investigação Criminal do FBI, disse que o narcotráfico ao longo da fronteira com o México tem contribuído para o agravamento do consumo de droga nos grandes centros urbanos e para o aumento de violência nas zonas transfronteiriças, de raptos, de extorsão e de tráfico humano.

 

Estes factores têm provocado tensão entre os Estados Unidos e o México, sendo a recente lei aprovada no Arizona um bom exemplo. Através do novo mecanismo legal, as forças policiais daquele estado vão ter que obrigatoriamente confirmar o estatuto de imigração de qualquer pessoa suspeita de estar ilegal no país. Esta lei está a provocar uma forte reacção negativa por parte do México, compreensível uma vez que estima-se que ¾ dos 12 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos sejam mexicanos.

 

Também na Segunda-feira passada, o México indignou-se com a morte de um jovem mexicano, atingido mortalmente pela Border Patrol, na fronteira em El Paso, sendo o segundo incidente fatal do género em duas semanas. Holder informou de que está um inquérito em curso.

 

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