Índia e Paquistão, uma questão de confiança
Tal como acontece entre pessoas, também no relacionamento entre Estados a confiança é fundamental para uma política de boa vizinhança. A ausência daquele factor potencia situações de tensão ou de crise, como se constata, por exemplo, entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, entre a China e Taiwan, entre Israel e o Irão, entre os Estados Unidos e a Venezuela, entre a Rússia e a Ucrânia ou entre o Paquistão e a Índia.
Foi aliás a propósito das débeis relações político-diplomáticas entre estes dois países que o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, disse que a falta de confiança era o principal obstáculo para uma aproximação entre Nova Deli e Islamabad.
A Índia e o Paquistão têm revelado uma inimizade histórica, chegando inclusive a um estado de conflito por três vezes (1947-48, 1965 e 1999). A disputada região de Caxemira tem sido o principal foco de instabilidade, prolongando-se há mais de 60 anos uma lógica de discussão de soberania sobre aquela território.
Quando se deram as independências da Índia e do Paquistão, em 1947, o marajá de Caxemira optou pela soberania indiana. No entanto, Islamabad sempre viu aquele território como uma extensão natural do Paquistão, já que maior parte da população é islâmica. Não é por isso de estranhar que Islamabad defenda a realização de um referendo em Caxemira para se decidir o futuro daquele enclave, algo que Nova Deli nem quer ouvir falar.
A Índia tem recorrido aos acordos de 1947, feitos com o Marajá, e de 1972, com o Paquistão, para evitar colocar o assunto sob referendo. Nova Deli tem defendido sempre uma via bilateral para a resolução do problema. Por outro lado, ao Paquistão interessa que o tema assuma contornos internacionais e multilaterais.
Depois de alguns anos de melhoria, em Novembro de 2008 as relações entre os dois países voltaram a deteriorar-se após um ataque feito através de mar por terroristas paquistaneses à cidade indiana de Mombai, matando mais de 174 pessoas.
Este ataque veio minar algumas medidas de confiança que tinham sido implementadas desde 2005, tais como o recomeço de um serviço de autocarro entre os dois lados de fronteira de Caxemira, a reabertura de uma estrada 60 anos depois e a reintrodução de um comboio entre a Caxemira indiana e a paquistanesa.
As declarações agora proferidas pelo primeiro-ministro Singh surgem a sensivelmente dois meses do início de uma nova ronda de negociações ao nível dos ministros dos Negócios Estrangeiros do Paquistão e da Índia, numa tentativa clara de incutir confiança entre os dois países. Porque sem que tal exista, de pouco serve os responsáveis políticos sentarem-se à mesma mesa.