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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O Paquistão enfrenta uma insurreição islâmica que todos evitam admitir

Alexandre Guerra, 06.04.10

 

Polícias paquistaneses junto ao consulado americano após o atentado desta Segunda-feira/Mohammad Sajjad/Associated Press

 

O Paquistão enfrenta uma autêntica insurreição islâmica. Não tão violenta como a do Iraque ou a do Afeganistão é certo, mas potencialmente mais ameaçadora para o equilíbrio do sistema internacional.

 

Peshawar, uma cidade localizada próxima das zonas tribais do Paquistão, foi esta Segunda-feira alvo de vários atentados simultâneos junto ao consultado dos Estados Unidos e que provocaram sete mortos e cerca de 20 feridos. Horas antes, um atentado suicida tinha morto 43 pessoas, ferido quase o dobro, apenas a 80 quilómetros a norte de Peshawar.

 

As autoridades paquistanesas suspeitam tratar-se de acções coordenadas, tendo o porta-voz dos taliban no Paquistão, Azam Tariq, em declarações telefónicas à AFP a partir de um lugar desconhecido, reivindicado para aquele grupo o raide na cidade de Peshawar, dizendo ser uma represália contra os ataques americanos nas zonas tribais junto à fronteira com o Afeganistão. Azam Tariq disse ainda que os taliban paquistaneses têm à sua disposição entre 2800 a 3000 fedayeen (bombistas suicidas).

 

O New York Times relembrava que este tipo de ataques terroristas demonstra a capacidade dos taliban atacarem alvos importantes no Paquistão e, segundo o analista Hasan Askari, é uma forma de provarem que estão activos e com capacidade operacional.

 

Washington e Islamabad têm sido reservados quanto a declarações públicas sobre a situação interna do país, mas a verdade é que o Paquistão tem vivido nos últimos anos uma insurreição radical islâmica, provocando centenas de mortos e na qual os taliban são apenas uma parte do problema.

 

O Presidente Asif Ali Zardari tenta a todo o custo impedir que se instale um clima de medo generalizado, estando por isso empenhado em reforçar os seus poderes. Ao mesmo tempo, o Exército, as forças de segurança e os serviços de “intelligence” travam nas suas próprias fileiras conflitos internos, motivados por diferentes alinhamentos estratégicos.

 

Num país como o Paquistão o Presidente raramente pode contar com a lealdade total das suas forças, não sendo por isso de estranhar que as alterações constitucionais propostas por Zardari vão no sentido de retirar margem de manobra ao Exército, que esteve sempre bem presente na vida política paquistanesa.

 

É por isso que nestas circunstâncias os taliban representam apenas uma parte do problema que se vive no Paquistão, um país em que o “prémio” de acesso ao poder é substancialmente mais atractivo que no Iraque ou no Afeganistão: a tecnologia e armamento nuclear.

 

É aqui que residem os maiores receios de Washington e de Islamabad, assim como das principais chancelarias internacionais, já que vêem na constante instabilidade interna paquistanesa uma ameaça à ordem sistémica potenciada dramaticamente pelo facto do Paquistão ser um Estado nuclear.