Uma caminhada de catorze meses à beira de uma reforma histórica nos EUA (1)
Os congressistas Steny Hoyer, John LeNancy, Nancy Pelosu (speaker) e Jim Clayburn/Lauren Vitctoria Burke/AP
Em catorze meses o Presidente Barack Obama fez aquilo que muitos dos seus antecessores democratas nunca conseguiram em vários anos: a reforma do sistema nacional de saúde dos Estados Unidos. Ainda falta finalizar alguns processos no Congresso, nomeadamente no Senado, até que Obama tenha todas as condições para assinar o tão ambicionado decreto presidencial para tornar a “bill” em lei federal, no entanto, o Presidente americano não só obteve ontem uma importante vitória, como devolveu novamente a esperança aos americanos que tinham votado em si.
Com a aprovação da “bill” na Câmara dos Representantes, Obama deu um passo gigantesco para poder cumprir talvez a sua principal promessa eleitoral e aquela que terá consequências mais directas na vida de milhões de americanos.
Quantos líderes podem ao fim de pouco mais de um ano de mandato anunciar aos seus concidadãos o cumprimento de uma das suas primeiras promessas eleitorais? Muito poucos.
Mas, o caminho de Obama não tem sido fácil e da sua parte assistiu-se a um envolvimento político pouco habitual quando comparado com os seus antecessores, já que o Presidente praticamente desceu à arena do Congresso para se colocar o lado dos democratas e impor uma derrota ao campo republicano.
O empenho de Obama acentuou-se nos últimos tempos, com a consciência de que este era o momento do “tudo ou nada”, pois caso esta “bill” não passasse no Congresso dificilmente este assunto voltaria àquela casa durante o actual mandato. Tanto o Presidente como os republicanos tinham consciência desse facto e daí a reforma da saúde ter assumido contornos épicos na sua discussão, levando mesmo à realização de uma maratona televisiva de debates entre vários políticos, incluindo Barack Obama.
Tal entusiasmo não é de surpreender, dada a importância do que tem estado em causa, porque de forma muito simples o projecto de reforma da saúde opõem duas concepções diferentes do “american way of life”: A dos republicanos defende a manutenção de uma espécie de “status quo” que durante décadas tem estado na base de toda a estrutura social americana, assente numa classe média forte, mas com graves debilidades ao nível das camadas mais baixas; a concepção dos democratas tem uma componente mais de justiça social, talvez mais inspirada em ideais defendidos por Presidentes democratas de outrora, porém, sacrificando os cofres do Estado e uma certa tranquilidade fiscal das classes mais elevadas.