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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Será a captura de Mullah Baradar o início de uma estratégia silenciosa da Casa Branca?

Alexandre Guerra, 16.02.10

 

NYT/David Guttenfelder/Associated Press

 

O New York Times, citando fontes governamentais, noticiou que o mais alto comando militar taliban foi detido no Paquistão há alguns dias. O comandante Mullah Abdul Ghani Baradar terá sido capturado em Karachi, depois dos serviços de “intelligence” paquistaneses, ISI, terem efectuado um raid numa Madrassa daquela cidade no passado dia 8 de Fevereiro. É ainda pouco claro se a CIA terá tido envolvimento directo na operação, mas é quase certo que terá havido, pelo menos, uma coordenação e troca de informação prévia entre as duas agências.

 
Embora ainda não tenha sido oficialmente confirmada por Islamabad ou Washington, várias fontes americanas citadas por vários meios de comunicação social americanos sublinham a importância desta captura, tendo, inclusive, responsáveis governamentais dito ao New York Times que se trata da detenção mais importante desde o início da guerra do Afeganistão em 2001.
 
Baradar, sobre quem pesa um mandado internacional de captura, é tido como o principal mentor do planeamento estratégico-militar da insurreição taliban no sul do Afeganistão, sendo em termos tácticos responsável pela introdução dos temíveis dispositivos explosivos improvisados (IEDs). De acordo com os relatos, é o número dois na hierarquia daquele movimento, imediatamente a seguir ao líder espiritual, Mullah Omar.
 
A grande questão é perceber até que ponto é que esta detenção, caso se confirme oficialmente, influenciará a estratégia militar da NATO e das forças americanas no Afeganistão. Numa primeira análise poder-se-á identificar duas implicações directas no lado taliban: “militares” e “morais”.
 
Partindo do princípio que o comandante Mullah Abdul Baradar era de facto um líder incontornável no planeamento estratégico-militar no sul do Afeganistão, os serviços de “intelligence” (leia-se sobretudo CIA) terão aqui uma oportunidade para identificar potenciais sucessores e, desde logo, “marcá-los” como alvos, retirando qualquer espaço de manobra para que os mesmos possam estabelecer as suas redes de confiança e hierárquicas. Ao mesmo tempo, as forças militares da NATO no terreno poderão aproveitar alguma desorientação táctica e estratégica no seio taliban.
 
Em termos morais, a captura de uma referência tão importante como a de Mullah Abdul Baradar poderá ter efeitos negativos nas trincheiras taliban, no entanto, é bastante difícil asseverar com certeza até onde iria a influência espiritual exercida por aquele líder junto dos seus homens.   
 
Do lado das forças americanas, existe claramente uma oportunidade para que a CIA consiga recolher o máximo de “intelligence” possível ao comandante taliban. Aliás, este já se encontra detido há vários dias e fontes militares americanas citadas pelo New York Times informaram que Mullah Baradar poderá conduzir a outros altos responsáveis taliban.
 
A captura daquela figura poderá, no entanto, ter tido outros propósitos, inseridos na lógica negocial com líderes taliban moderados, que há já algum tempo tem vindo a ser colocada em cima da mesa por Washington, admitindo que só desta forma se conseguirá alcançar uma solução estável no terreno.
 
Ora, diz-se que Mullah Baradar é favorável à negociação com os americanos, tendo a sua detenção sido uma estratégia previamente concertada para se criar um canal de comunicação sem que aquele comandante taliban ficasse fragilizado aos olhos dos seus homens.  
 
Embora mais conspirativa, esta possibilidade não deixa de fazer sentido à luz do novo posicionamento da administração americana liderada por Barack Obama, claramente empenhada em encontrar uma via que lhe permita começar a retirar, o mais cedo possível, soldados do Afeganistão. 
 
Apesar de Obama ter reforçado o contingente naquele país, o Presidente tem a noção clara de ser o fôlego derradeiro para a prossecução de uma solução que permita aos Estados Unidos deixar o Afeganistão numa situação minimamente estável.

 

Uma vez que a via militar tem-se revelado infrutífera, têm sido cada vez mais as vozes a defenderem uma abordagem de "engagement" com os líderes taliban moderados ou disponíveis para negociar. Ora, a detenção de Mullah Baradar poderá ser o primeiro passo de uma estratégia silenciosa desenvolvida pela Casa Branca, com o objectivo de compromoter negocialmente vários líderes afegãos.