Perante a ausência de Estado, primeiro os militares e depois as ONG's
Miami Herald
O antigo secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, enaltecia ontem à noite, no Situation Room da CNN, a intervenção do Presidente Barack Obama na resposta imediata à gestão da catástrofe que se abateu sobre o Haiti.
Powell disse claramente que os Estados Unidos teriam que assumir a liderança do esforço humanitário e do controlo da segurança em território haitiano. Efectivamente, também o Diplomata concorda com esta visão, já que mais nenhum país tem as condições e a capacidade para proceder a tal missão.
O primeiro passo já foi dado, e terá sido feito de forma ponderada, uma vez que a administração americana, certamente bem informada pela conselheiros militares e pelos homens da CIA, conhecedores profundos da realidade haitiana, considerou que qualquer esforço humanitário teria que, necessariamente, ser precedido por uma "operação militar".
Damon Winter/The New York Times
Uma análise à partida cruel, mas muito realista. Aliás, durante o dia de hoje já ficou evidente de que como esta abordagem está correcta. À medida que o desespero aumenta vão-se revelando comportamentos violentos, tendo inclusive já resultado na pilhagem de lojas, de mantimentos e de equipamento de organizações não governamentais.
Esta precipitação de violência não é algo que deva estranhar os mais atentos e conhecedores da história haitiana. Na verdade, o Haiti tem vivido durante décadas num estado hobesiano, numa lógica de "todos contra todos", sem lei nem ordem, onde até há bem pouco tempo se matava o próximo à catanada nas ruas de Port-au-Prince.
Eduardo Munoz/Reuters/The Guardian
O Haiti mesmo quando comparado com países igualmente sub-desenvolvidos, por exemplo em África, destaca-se pela barbárie reinante entre os seus e por uma ausência total de Estado. Que este autor se recorde, de todas as imagens televisivas que viu após o sismo (em vários canais nacionais e internacionais), nem uma ambulância, carro de bombeiros ou de polícia se conseguiu vislumbrar entre o caos.
A ausência de sirenes pode parecer um pormenor, mas é um sinal revelador do vazio de Estado que é o Haiti. Perante uma realidade destas (que talvez encontre paralelo em países como a Somália e pouco mais), torna-se particularmente difícil articular uma resposta humanitária, visto que não existe qualquer capacidade interna que consigo fazer o mínimo. Tal como reabrir o porto ou colocar o sistema de radares do aeroporto a funcionar (neste último caso os militares americanos assumiram o controlo do espaço aéreo haitiano).