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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Netanyahu diz "não" a Washington e fragiliza Obama no processo israelo-palestiniano

Alexandre Guerra, 18.11.09

 

 

A Casa Branca, através do seu porta-voz Robert Gibbs, manifestou um profundo desagrado pela decisão do Governo israelita de autorizar a construção de mais 900 habitações no colonato de Gilo, contíguo à parte oriental da cidade de Jerusalém.

 

Washington admite claramente que a decisão do Jerusalem Planning Committe, a entidade directamente responsável pelo licenciamento das novas casas, torna "mais difícil" o reatamento das conversações israelo-palestinianas.

 

Esta decisão foi também ratificada pelo Ministério do Interior isrealita, que é o mesmo que dizer com o apoio do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, desde há muito um defensor acérrimo da expansão dos colonatos hebraicos nos territórios da Cisjordânia.

 

De acordo com o correspondente da BBC em Washington, Paul Adams, corre nos "corredores" daquela cidade a ideia de que Netanyahu está a conseguir inutilizar os parcos esforços do Presidente Barack Obama no processo de paz do Médio Oriente. Porém, existem algumas vozes que dizem ser ainda demasiado cedo para se tirar uma conclusão sobre a estratégia que Obama esteja, eventualmente, a seguir nesta matéria.

 

Seja como for, certo é o facto dos apelos do Presidente americano não estarem a ser tidos em conta por Netanyahu, como admitiu o próprio George Mitchell, enviado dos Estados Unidos ao Médio Oriente. Segundo o jornal israelita Yedioth Aharanot e a Israel Army Radio, Mitchell terá interpelado directamente Netanyahu na Segunda-feira em Londres, pedindo-lhe que congelasse a expansão dos colonatos, já que Washington se opunha veementemente a esta estratégia.

 

 A resposta de Netanyahu foi negativa, justificando com o facto da expansão do colonato de Gilo não ser da competência do Executivo, mas sim, única e exclusivamente do município de Jerusalém. Relembre-se que apesar de Gilo está para lá da Green Line, Israel defende que aquele colonato é parte integrante de Jerusalém, cidade que na sua totalidade é considerada pelos governantes hebraicos como parte do Estado judaico.

 

A ser verdade a conversa entre Mitchell e Netanyahu (e a julgar pela reacção da Casa Branca tudo leva a crer que sim), as relações entre Telavive e Washington entram numa nova fase, visto ser caso raro na história daqueles dois países, governantes israelitas desafiarem de forma tão frontal um pedido feito pela Casa Branca. 

 

Netanyahu parece tê-lo feito, gerando o desagrado de Obama, bem evidente nas palavras de Gibs, e colocando o Presidente  americano numa situação delicada. 

 

Com esta iniciativa, o primeiro-ministro israelita consegue claramente uma posição de força no que diz respeito à política da expansão dos colonatos, um dos temas mais quentes do dossier israelo-palestiniano. Por outro lado, esta medida frustra qualquer tentativa negocial por parte de Washington, algo que também poderá ser do agrado de Netanyahu, tido como um "falcão" que nunca aceitará ceder em matérias como os colonatos, o estatuto de Jerusalém ou o direito de retorno dos refugiados palestinianos.

 

Por outro lado, o jogo que Netanyahu está a fazer poderá ser bastante arriscado, já que Washington foi sempre um aliado fiel de Israel, país que durante a sua história divergiu dos Estados Unidos em vários momentos, mas cujos seus governantes nunca ousaram desafiar Washington de forma tão frontal e directa, como parece que Netanyahu está agora a fazer.

 

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