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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Washington e o Muro

Alexandre Guerra, 07.11.09

 

 

Perante a desconfiança de Londres e da Paris e o receio da União Soviética face à possibilidade do ressurgimento de uma Alemanha unificada, o então Presidente dos Estados Unidos, George H. W. Bush, desempenhou um papel fundamental, através de uma abordagem bastante pragmática à desintegração do Bloco de Leste.
 
Para Washington, a unificação alemã era o corolário de um percurso iniciado “nas ruas de Varsóvia, passando pelas praças de Praga e terminando em Berlim”, visto que a “revolução europeia transformaria a natureza e a expressão dos interesses e das preocupações americanas no continente”.
 
Washington estava ciente de que para obter uma solução satisfatória e que resolvesse um problema criado no pós-II GM teria que envolver Moscovo e o líder da ainda RFA, Helmuth Kohl.
 
Partindo dos pressupostos consignados na Carta das Nações Unidas e na Acta Final de Helsínquia na matéria que diz respeito à preservação das fronteiras, os Estados Unidos, tal como Paris e Londres, tinham a perfeita noção de que a nova Alemanha não poderia enveredar por “caminhos isolacionistas ou unilateralistas”, daí ser tão importante absorvê-la na arquitectura política e de segurança europeia, através da Comunidade Europeia e da NATO. Aliás, o famoso Tratado de Maastricht que vem institucionalmente criar a União Europeia e a revisão do conceito estratégico da Aliança são resultado dessa mesma dinâmica.
 
O problema é que o Kremlin não podia aceitar este quadro de forma totalmente pacífica, porque ao longo do ano de 1990 Gorbachev lutava internamente contra uma corrente mais conservadora no seio do Partido Comunista. Perante este cenário, o líder soviético não podia ceder sem obter antes qualquer tipo de contrapartida. Bush percebeu claramente esta realidade e, desde o início, que tentou apoiar Gorbachev e a sua perestroika, proporcionando todos os meios para uma “soft landing” do desmoronamento do império soviético.
 
Quando em Fevereiro de 1990 Gorbachev dá um passo importante, mas ainda insuficiente, e aceita a unificação da Alemanha sob a condição de neutralidade, ou seja, fora da NATO, a Casa Branca propôs ao Kremlin várias garantias, já que não podia aceitar a exclusão alemã da Aliança.
 
Entre as várias garantias propostas, destacam-se a aceitação da permanência de forças soviéticas no território da ex-RDA, a não extensão de forças da NATO a leste do Elba durante um período de transição, a não alteração das fronteiras da Alemanha e, claro está, ajudas económicas à União Soviética.
 
Além disso, na Cimeira de Londres da NATO, em Julho de 1990, o Pacto de Varsóvia deixava de ser considerado como um inimigo. Duas semanas mais tarde, seria o próprio Gorbachev a informar Kohl de que aceitava a permanência da Alemanha unificada na NATO. Estava assim vencido o último obstáculo para a reunificação alemã.