A queda do Muro de Berlim foi há 20 anos
Alexandre Guerra, 05.11.09
Em tempos, o autor destas linhas leu que os verdadeiros afortunados são todos aqueles que em determinado momento da sua vida presenciam um acontecimento de dimensões históricas, cujas consequências se perpetuam nas sociedades ao longo dos tempos. Uma visão algo poética, mas certamente partilhada pelas milhares de pessoas que a 9 de Novembro de 1989 assistiram e participaram num dos momentos mais marcantes dos tempos pós-modernos: a queda do Muro de Berlim.
Celebram-se agora 20 anos sobre aquele acontecimento, iniciado poucas horas após a conferência de imprensa do responsável pela comunicação do Governo da República Democrática Alemã (RDA), Guenter Schabowski, para anunciar que os cidadãos de Berlim Leste poderiam visitar a parte ocidental da cidade. Embora a sessão plenária do comité central do partido comunista (SED) tivesse acordado que a medida só devia entrar em vigor dias mais tarde, Schabowski desconhecia esse facto, acabando por dizer, erradamente, aos jornalistas que a mesma tinha efeitos imediatos.
Foi apenas uma questão de horas até que milhares de berlineses se juntassem dos dois lados do muro, vivendo momentos de festividade e de celebração, anunciando o fim de uma trágica história que se iniciara na manhã do dia 13 de Agosto de 1961, quando o Governo da RDA decidiu pôr cobro ao massivo movimento migratório de Berlim Leste para a zona ocidental, que se fazia sentir desde a chegada do Exército Vermelho a território alemão, em 1945.
Relembre-se que a “libertação” da Alemanha assumira rapidamente contornos de “ocupação”, através da “sovietização” de todo o território compreendido entre Berlim e Moscovo. A cidade alemã passou a ser a fronteira entre a Europa ocidental e o império comunista. O famoso Checkpoint Charlie, hoje um local de peregrinação turística, é o símbolo mais conhecido dessa barreira política e militar entre dois mundos, cujas visões das relações internacionais eram concorrentes e incompatíveis.
A queda do Muro de Berlim representou o desmoronar de uma Europa de Leste erigida sobre os escombros da II Guerra Mundial, e que à luz dos interesses do equilíbrio do sistema bipolar mantinha um conjunto de Estados sob o jugo do poder soviético.
Como escreveram o antigo director do Le Monde, Jaqcques Lesourne, e o jornalista francês, Bernard Lecomte, no seu livro “O Pós-Comunismo do Atlântico aos Urais” (Bertrand Editora), o “ano de 1989 permanecerá na História como o da queda dos regimes comunistas da Europa de Leste. De Varsóvia a Budapeste, de Berlim Leste a Praga, de Sófia a Bucareste.
Em poucos meses, todo o edifício erigido por Estaline entre 1945 e 1949 se afundará como um castelo de cartas”. Com isto, assistia-se ao fim de um confronto de ideias universais, defendidas por dois campos irreconciliáveis.