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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Mais uma exigência de Klaus põe Presidência sueca da UE à beira de um ataque de nervos

Alexandre Guerra, 08.10.09

 

 

 

O Presidente da República checa, Vaclav Klaus, conhecido pelo seu eurocepticismo, está a tornar-se numa pessoa pouco recomendável na cena política europeia, ao querer alterar as "regras" de um processo que há muito ficou fechado.

 

Efectivamente, se o processo de ratificação do Tratado de Lisboa ainda continua em curso, todo o seu conteúdo foi ampla e minuciosamente discutido pelos Vinte e Sete e aprovado pelos mesmos em sede própria: Conselho Europeu. Ora, parece que Klaus pretende agora introduzir uma nota de rodapé ao documento, fazendo desta uma exigência como contrapartida para ratificar o Tratado.

 

O Diplomata não coloca em causa a sua descconfiança e até mesmo desprezo pelo Tratado de Lisboa, sendo este um direito que lhe assiste, no entanto, já é menos aceitável as condições que Klaus vem agora impor para assinar o Tratado.

 

Na verdade, isto está longe de ser negociação diplomática, assemelhando-se mais a uma chantagem política face a uma Europa refém de Praga (entrento, o Presidente polaco, Lech Laczynski, tenha informado que vai assinar o Tratado este Sábado).

 

As novas exigências de Praga só foram conhecidas após uma conversa telefónica entre Klaus e Fredrik Reinfeldt, primeiro-ministro da Suécia, país que actualmente ocupa a presidência rotativa da União Europeia.

 

Segundo Reinfeldt, o Presidente checo disse que apenas ratificaria o Tratado se fosse incluída uma nota de rodapé com duas frases relacionadas com a Carta dos Direitos Fundamentais. O conteúdo exacto das mesmas não é conhecido, mas Klaus pretende que a nota de rodapé seja formalizada em Conselho Europeu.

 

Além desta exigência, Klaus avisou ainda que no âmbito do processo interposto por alguns senadores do seu país junto do Tribunal Constitucional, e caso este venha a considerar que o Tratado de Lisboa viola normas fundamentais da República Checa, então o documento jamais será assinado.

 

Perante isto, o chefe do Governo sueco ficou irritado, tendo mesmo alertado Klaus de que não estava a enviar os "sinais" mais adequados para a Europa, que vive um período particularmente sensível.

 

Com estas manobras de última hora, Vaclav Klaus vai-se descredibilizando junto dos seus homólogos europeus, ao mesmo tempo que vai gerindo a situação politicamente de acordo com os seus interesses internos. No entanto, depois do "sim" expressivo irlandês, e a partir de Sábado com a ratificação da Polónia, Klaus ficará com muito pouco espaço de manobra junto dos parceiros europeus.

 

Klaus é agora um chefe de Estado com pouco capital político, com uma palavra diplomática que pouco vale, porque, tal com referia Gavin Hewitt, correspondente da BBC News em Bruxelas, nunca se poderá ter verdadeiramente a certeza se o Presidente checo vai assinar o Tratado até ao momento em que efectivamente o fizer.

 

Apesar desta constatação, Klaus será ironicamente, a partir de Sábado, o único estadista europeu a deter o poder quase "divino" para concluir um longo e conturbado processo iniciado há alguns anos. 

 

O Presidente checo certamente terá noção deste facto, restando agora saber se vai utilizar este "poder" para dar uma alegria à presidência sueca ou se, por outro lado, aproveitará a situação para endurecer o tom da chantagem política.

 

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