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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Uma relação cada vez mais crispada

Alexandre Guerra, 28.08.09

 

Mahmoud Ahmadinejad e o ayatollah Ali Khamenei

 

Das entranhas do regime de Teerão veio um sinal interessante, que poderá, ou não, revelar o início de alguma divergência entre as duas principais figuras do Irão. O ayatollah Ali Khamenei revelou publicamente pela primeira vez uma posição diferente daquela que o Presidente Mahmoud Ahmadinejad assumiu.

 

No centro da celeuma está a possibilidade de vários representantes governamentais, jornalistas e académicos serem acusados pela justiça iraniana e com o apoio de Ahmadinejad de colaborarem com o Ocidente na tentativa de derrubar o regime do Irão.

 

Ahmadinejad tem sido um acérrimo dinamizador deste tipo de processos, independentemente da equidade e da justiça dos mesmos. O Presidente do Irão move-se claramente por vectores políticos que podem deturpar o enquadramento em que muitas acusações são feitas.

 

Desta vez, Ahmadinejad parece ter sido "travado" por Ali Khamenei que fez questão de informar que até ao momento não encontrou quaisquer provas que ligassem os acusados a Estados ocidentais, nomeadamente aos Estados Unidos e Reino Unido, com o objectivo de derrubar o regime iraniano. “I don’t accuse the leaders of the recent incidents of being affiliated with foreign countries, including the U.S. and Britain, since the issue has not been proven for me.”

 

Esta posição é bastante interessante, não tanto pelo conteúdo, mas pelo facto de contrariar peremptoriamente uma conclusão assumida por Ahmedinejad, que desde o início dos protestos nas ruas de Teerão após as eleições presidenciais não se coibiu de dizer que os manifestantes estavam a ser orquestrados e em conluio com as potencias ocidentais.

 

Uma das razões que terá levado Ali Khamenei a tomar esta posição está relacionada com a sua necessidade de voltar a ganhar alguma credibilidade e confiança junto de toda a nação iraniana, sobretudo após o conturbado período pós-eleitoral, no qual o ayatollah deu claramente o seu apoio a Ahmadinejad, ostracizando um sector da sociedade mais reformista que há muito que deixou de ser uma minoria.

 

E foi talvez esta constatação que Ali Khamanei terá feito, ao perceber que os críticos do regime são muito mais do que um mero grupo residual de pessoas.

 

Por outro lado, parece ser cada vez mais evidente que Ali Khamenei está a envidar todos os esforços para assegurar o poder enquanto figura máxima do regime. Não é por isso de estranhar que nos últimos tempos Khamenei e Ahmadinejad se tenham envolvido num clima de confrontação a propósito de várias nomeações para o novo Executivo, e agora também por causa de os processos judiciais contra alguns dos membros reformistas.

 

Ao New York Times, Abbas Milani, director de estudos iranianos na Universidade de Stanford, sintetizou a situação: “He [Khamenei] is stuck with Ahmadinejad, and he is stuck with the Revolutionary Guard and their daily demands to arrest [Mir Hussein] Moussavi. He is trying to calm them down.”

 

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