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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Uma esperança que nunca foi restaurada

Alexandre Guerra, 25.08.09

 

Coronel Mike Gish, Operação "Restoring Hope", Somália

 

A intervenção norte-americana na Somália, que culminou em Dezembro de 1992, na célebre operação "Restoring Hope", pode ser vista como o primeiro grande teste às capacidades e aos limites dos Estados  Unidos em cenários humanitários, num "novo mundo", no qual as relações internacionais estavam a viver um período de mudança e de incerteza imposto pelo fim da Guerra Fria.

 

Não teriam os Estados Unidos intervindo na Somália, acabariam por fazê-lo noutro sítio nas mesmas circunstâncias, escreveu em 2004 o já retirado Tenente Coronel, Frank G. Hofman.

 

A intervenção militar de cariz humanitário era algo que os Estados Unidos pura e simplesmente desconheciam (assim como os outros Estados), tendo em conta a natureza de conflito que durante quase 60 anos reinou no sistema internacional. Por mais longínquo, pobre e débil que fosse o palco do conflito, a natureza da intervenção era vista como uma estratégia inserida numa lógica bipolar de confrontação permanente com o inimigo soviético.

 

 

Fosse qual fosse a estratégia do conflito nunca estava em causa qualquer objectivo humanitário, mas sim de poder, ou melhor dizendo, de equilíbrio do mesmo no sistema internacional. 

 

É certo que a decisão do Presidente de então, George H. W. Bush, teve como base um interesse humanitário genuíno de auxílio ao contingente das Nações Unidas que se encontrava no terreno. Por outro lado, parte da estrutura político-militar em Washington, nomeadamente através do National Security Council (NSC), via no palco da Somália uma nova forma de conflito e na qual era necessário que os Estados Unidos estivessem presentes.  

 

 

 

Um dos problemas dramáticos desta equação foi a ingenuidade política em Washington e a descoordenação militar que sustentou toda a intervenção norte-americana na Somália, e que culminaria nos eventos trágicos de 3 de Outubro de 2003, com a morte de 18 americanos nas ruas de Mogadischo e 300 somalis.

 

Este dia ditou o fim da "aventura" americana na Somália, sendo anunciado a 8 de Outubro já pelo Presidente Bill Clinton a retirada das forças militares para 31 de Março de 2004.

 

A Somália representou para os Estados Unidos o primeiro teatro de operações assumidamente sob a "bandeira" humanitária, com o devido enquadramento legal das Nações Unidas. Perante esta nova realidade, os soldados americanos viram-se num cenário novo, no qual tinham de partilhar autoridade e competências com as restantes forças integradas na UNOSOM (I e II) e na UNITAF.

 

Além disso, tratava-se de uma guerra bastante passiva, já que as forças americanas estavam fortemente condicionadas na sua actuação, nomeadamente na capacidade de abrir fogo contra o inimigo. Pelo meio, actuavam os homens da Delta dos Rangers.

 

A Somália pareceu um tubo de ensaio militar, onde se colocou tudo lá dentro à espera de uma solução, mas tal não aconteceu. Pelo contrário, o resultado foi explosivo e afectou profundamente o moral e a credibilidade das forças americanas. 

 

No próximo dia 3 de Outubro passam 16 anos sobre os acontecimentos de Mogadishu (retratados no cinema sob realização de Ridley Scott em Black Hawk Down), e apesar de tudo (ou quase tudo) ter corrido mal durante a intervenção americana na Somália, a verdade é que foram tiradas ilações que serviram para intervenções militares posteriores, nomeadamente nos Balcãs.