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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Um ano depois, Moscovo e Tbilissi clamam vitória numa guerra sem vencedores

Alexandre Guerra, 08.08.09

 

Soldados georgianos passam junto a um edifício em Gori, em Agosto de 2008/Reuters 

 

Em cinco dias apenas, a Rússia e a Geórgia travaram uma guerra na Ossétia do Sul há precisamente um ano. Mais do que um acontecimento militar, acabou por ser sobretudo um fenómeno político de proporções dramáticas para milhares de pessoas que foram obrigadas a deslocarem-se das suas regiões, perante a ameaça de uma escalada bélica que, em última instância, poderia assumir contornos semelhantes aos da Chechénia. 

 

O número de mortos é ainda hoje pouco claro. Quanto aos deslocados, a Amnistia Internacional divulgou esta Sexta-feira um relatório que fala em 30 mil pessoas que ainda não regressaram às suas casas.

 

O Presidente georgiano Mikhail Saakashvili voltou a reafirmar, durante as cerimónias do 1º aniversário da "guerra" do Cáucaso, que o seu Governo limitou-se a responder a uma invasão secreta da Rússia. Por outro lado, o chefe de Estado russo Dimitry Medvedev justificou a sua decisão com a necessidade de restaurar a paz na região do Cáucaso e assim salvar centenas de vidas.

 

Seja como for, a verdade é que um ano depois ainda não existe uma versão sólida quanto às origens do conflito. A história oficial é a de que o conflito terá começado no dia 7 de Agosto de 2008, após os soldados georgianos terem tentado reassumir controlo do território da Ossétia do Sul, historicamente uma espécie de "backyard" de Moscovo.

 

Perante este cenário, a Rússia reagiu de imediato avançando com forças militares, chegando mesmo a entrar em território da Geórgia. No meio disto tudo, houve muita propaganda e contra-informação, onde nem sequer faltaram as agências de "public relations".  

 

A Geórgia diz que tentou controlar a Ossétia do Sul depois de ter tido a informação de que a Rússia já teria entrado naquele enclave, com uma coluna militar através do túnel de Roki, que liga a Ossétia do Norte ao Sul. Moscovo desmente esta versão, dizendo que se limitou a proteger os cidadãos russos na Ossétia do Sul, perante os ataques das forças georgianas.

 

O que parece ser certo, a julgar pelo relato de diversas fontes, é que foram cometidos crimes de guerra por ambas as partes. 

 

De acordo com o relatório da Amnistia Internacional, estas jogadas geo-estratégicas provocaram no total 200  mil deslocados, havendo ainda 30 mil que não regressaram. Além disso, vários milhares de pessoas ficaram sem casa e a viver em condições miseráveis.

 

Uma coisa é certa, a presença russa é agora ainda mais evidente na Ossétia do Sul, assim como no outro enclave da Geórgia, a Abecásia. Além disso, Moscovo vincou a posição independentista face àqueles dois territórios, colocando um forte contingente militar nas zonas fronteiriças com a Geórgia.

 

Como se não bastasse, o The Moscow Times escrevia que as hipóteses da Geórgia aderir à NATO estavam agora reduzidas quase a zero. "Most observers agree that Georgia’s chances for joining the alliance are now virtually nonexistent, and in private, many NATO governments blame Saakashvili for adventurism last August."

 

Mas, também como aquele jornal referia, nem tudo foi mau para Tbilissi. Na guerra da opinião pública, a Geórgia parece ter sido uma clara vencedora, obrigando a Rússia a revelar o seu lado mais agressivo, e talvez, por isso, Saakashvili tenha colhido a simpatia da União Europeia e dos Estados Unidos. 

 

Uma ideia bem evidente num artigo de opinião desta Sexta-feira no Washington Post de Howard L. Berman, congressista democrata e presidente do Comité dos Negócios Estrangeiros. 

 

Apesar do acordo de seis pontos alcançado a 12 de Agosto de 2008 e da presença da União Europeia na região, vários observadores no terreno alertam para a fragilidade da situação e para o perigo iminente de ser espoletado um conflito de grandes dimensões entre a Geórgia e a Rússia.

  

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