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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O despacho...

Alexandre Guerra, 31.07.17

 

"Estamos em plena cultura da imagem. Não é de agora, terá vindo do século da fotografia. Foi uma revolução de consequências infinitas e esta é o prolongamento da outra. Hoje podemos estar a vida inteira a ver cinema, televisão ou um ecrã e morrer sem ter entrado na vida. Somos mais do que perecíveis, a todo o instante, mas a ideia de que podemos passar a maior parte da nossa vida ao lado de coisas interessantes para visitar, para nos apossarmos, com que nos interrogarmos ou sermos interrogados... Estarmos morbidamente fixados a esta paixão pela imagem devora-nos vivos."

 

Aos 94 anos, Eduardo Lourenço continua a pensar o mundo e a sociedade com uma clarividência cristalina. Numa entrevista ao jornal Público, o pensador descreve desta forma como o poder da imagem torna refém as pessoas de uma ideia ilusória de vida que passa ao lado das coisas interessantes para visitar.

 

John McCain

Alexandre Guerra, 28.07.17

 

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Há uns dias Barack Obama referia-se a John McCain como um herói americano e um dos mais corajosos lutadores que conheceu. E num acto de força e encorajamento, o ex-Presidente escrevia no Twitter que o "cancro não sabia com quem se tinha metido", numa alusão ao tumor cerebral diagnosticado a McCain. Eu só posso subscrever as palavras de Obama, sobre um homem e político republicano que tenho acompanhado ao longo dos anos e que, acima de tudo, foi sempre fiel aos seus valores e princípios. Herói de guerra, nunca se deixou enlamear pelas guerras intestinas partidárias do Congresso, em defesa daquilo em que acredita e sempre a pensar no superior interesse dos seus concidadãos. Ontem à noite, McCain voltou a ser um herói e um lutador ao votar ao lado dos democratas contra o desmantelamento do Obamacare, um dos mais importantes saltos civilizacionais da sociedade americana das últimas décadas. Ele e mais as colegas Susan Collins e Lisa Murkowski desafiaram a "disciplina partidária" tão cegamente seguida em Portugal e foram contra o seu próprio Partido Republicano. No final, a votação no Senado ficou 51-49 a favor da manutenção do Obamacare. Coube a McCain o voto decisivo e é nesses momentos em que se definem os bravos lutadores, que se desprendem de interesses e conivências em benefícios egoístas, para assumirem um combate duro, muitas vezes solitário, em prol de um bem maior.

 

A questão polaca by Reuters

Alexandre Guerra, 25.07.17
 

 "It's still not clear what Polish President Andrzej Duda, seen until now as a dependable ally of the ruling Law and Justice (PiS) party, is up to by vetoing key parts of a judicial reform seen by critics as anti-democratic. Duda may simply be currying favour with voters he will need to win a new term in office, or this could be a genuine act of defiance to PiS leader, the social conservative and nationalist Jaroslaw Kaczynski. This has all sparked speculation of a rift in PiS ranks, and even of an early election. For now, Kaczynski has not reacted to Duda's intervention and Duda has not said when he will make proposals of his own. The European Union is also reserving judgment until it sees the dynamics more clearly; some are saying this could be one of the most decisive moments in Polish politics since the overthrow of communism in 1989."

 

Spicer, entrou e saiu como propagandista

Alexandre Guerra, 24.07.17

 

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Sean Spicer aguentou cerca de seis meses enquanto “press secretary” da Casa Branca. Foi um feito. Logo nos primeiros dias a seguir à tomada de posse de Donald Trump, tive oportunidade de acompanhar nos EUA as primeiras intervenções do porta-voz da Casa Branca. Foi um exercício penoso de se ver. Na altura, no “briefing room”, chegou mesmo a ser interrogado por um dos jornalistas se acreditava mesmo naquilo que estava a dizer. Eu nem queria acreditar. Como era possível que os jornalistas questionassem a palavra do porta-voz do Presidente logo nos primeiros dias de mandato?

 

Era um facto que a sua reputação e credibilidade ficaram logo à partida arrasadas junto dos jornalistas. Não era visto como um verdadeiro porta-voz, mas sim como um propagandista. E também se percebeu que Spicer caminhava para o abismo. E por isso o comparei àquele ministro iraquiano da Informação, que foi o porta-voz de Saddam Hussein durante a invasão americana em 2003, e que ficou célebre pela sua propaganda tola (e que divertiu muita gente, incluindo o Presidente George W. Bush), ao repetir convictamente que o Exército iraquiano iria vencer aquela batalha, quando a realidade mostrava os soldados americanos já às portas de Bagdade. Loucura à parte, a verdade é que a partir daí Mohammed Saeed al-Sahaf se tornou uma estrela à escala global até com direito a clube de fãs. E, por isso, na altura escrevi: “Pode ser que Spicer tenha a mesma ‘sorte’.” E não é que teve mesmo... Sai totalmente descredibilizado junto dos jornalistas, mas com uma notoriedade invejável para quem gosta dessas coisas.

 

A ameaça Vermelha

Alexandre Guerra, 11.07.17

 

 

Para quem gosta e acompanha os fenómenos da comunicação política e da propaganda entre os Estados, recomendo que veja este mini-documentário com cerca de nove minutos, que foi publicado esta Terça-feira pela NATO. O filme pretende fazer uma homenagem aos antigos partisans, que após a IIGM combateram heroicamente as forças invasoras do Exército Vermelho nas florestas dos países bálticos. Além do interesse histórico deste vídeo, o mais relevante, em minha opinião, é o contexto em que surge, quase como que se fosse uma peça de propaganda ao bom e velho estilo da Guerra Fria, com o objectivo de demonizar o inimigo (neste caso, a Rússia). A questão é que os países bálticos sentem uma ameaça constante da Rússia, levando muito a sério os ímpetos expansionistas do Kremlin. Há uns anos visitei dois daqueles lindos países e é extraordinário perceber que a percepção da ameaça Vermelha continua a pairar no ar.