O despacho...
"Estamos em plena cultura da imagem. Não é de agora, terá vindo do século da fotografia. Foi uma revolução de consequências infinitas e esta é o prolongamento da outra. Hoje podemos estar a vida inteira a ver cinema, televisão ou um ecrã e morrer sem ter entrado na vida. Somos mais do que perecíveis, a todo o instante, mas a ideia de que podemos passar a maior parte da nossa vida ao lado de coisas interessantes para visitar, para nos apossarmos, com que nos interrogarmos ou sermos interrogados... Estarmos morbidamente fixados a esta paixão pela imagem devora-nos vivos."
Aos 94 anos, Eduardo Lourenço continua a pensar o mundo e a sociedade com uma clarividência cristalina. Numa entrevista ao jornal Público, o pensador descreve desta forma como o poder da imagem torna refém as pessoas de uma ideia ilusória de vida que passa ao lado das coisas interessantes para visitar.