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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um senhor

Alexandre Guerra, 27.02.17

 

Uma das virtudes do tempo é que coloca quase sempre tudo em perspectiva. É assim na vida em geral, na História ou na Política. Tendemos a rever o passado com os mesmos olhos, mas com outro critério ou juízo...com outra sabedoria. Quem diria que George W. Bush pudesse um dia vir a ser visto como um Presidente moderado e a dizer verdades tão absolutas na defesa de uma democracia. Vejam este surpreendente Bush numa rara entrevista à NBC News. Um verdadeiro senhor.

 

Registos

Alexandre Guerra, 22.02.17

 

Um dos aspectos mais preocupantes em relação a esta nova administração americana é que, pela primeira vez desde o pós II GM, há elementos de ranking elevado no seu seio que vêem a unidade europeia como um factor negativo no sistema internacional. Stephen Bannon é o principal defensor dessa corrente, até de uma forma muito mais convicta do que Trump, já que o principal estratego do Presidente é uma pessoa claramente ideológica e apenas motivada pelas ideias e ideais políticos. Esta Terça-feira, a Reuters avança com este exclusivo que é bem revelador do confronto de visões entre homens como Bannon e outros mais moderados, como o vice-Presidente Mike Pence.

 

Meet the Donors: Does Money Talk?

Alexandre Guerra, 15.02.17

 

 

Meet the Donors: Does Money Talk? é um documentário da HBO realizado por Alexandra Pelosi e o seu interesse deve-se ao facto de ter o testemunho de forma sincera e transparente de alguns dos principais contribuintes financeiros das campanhas políticas dos Estados Unidos. Alexandra Pelosi, que o New York Times vê como uma versão feminina mais "friendly" do polémico Michael Moore, é filha de Nancy Pelosi, o que lhe facilitou o acesso a estas figuras que, em regra, gostam pouco de falar dos milhões que investem nas campanhas. O mais curioso neste documentário é constatar-se que nem sempre há uma relação directa entre os milhões disponibilizados para determinado candidato e o retorno esperado. Ainda mais interessante é perceber as diferentes motivações de cada um e verificar que, nalguns casos, são os próprios multi-milionários que contribuem para estas campanhas a reconhecer que o sistema está viciado e que eles próprios estão contra o modelo de financiamento em vigor.

 

O padre que se fez Santo dos apaixonados depois de ter desafiado o poder de Roma

Alexandre Guerra, 13.02.17

 

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Santo Valentinus baptiza Santa Lúcia/Pintura de Jacopo Bassano de 1575/ A primeira representação conhecida do Santo Valentinus encontra-se na "Crónica de Nuremberg de 1493"

 

Muitos namorados e casais um pouco por todo o mundo estarão, certamente, a contar as horas para celebrar, esta Terça-feira, mais um Dia de São Valentim, provavelmente num jantar à luz de velas em ambiente todo romântico. E enquanto os apaixonados se preparam para trocar todo o tipo de mensagens, rosas, bombons, peluches (e sabe-se lá mais o quê), poucos saberão que na origem destes rituais está uma história de poder, que acabou em decapitação e no martírio de um padre.

 

Apesar de não haver uma certeza absoluta sobre quem era o Santo que se celebra neste Dia, seria provável que fosse um padre cristão romano, de nome Valentinus (latim), que desafiou o poder instituído de Roma, personificado no imperador de Cláudio II. Embora se possam encontrar pelo menos outros dois Santos Valentinus associados ao dia 14 de Fevereiro, um bispo de Interamna (moderna Terni) e um outro que terá morrido em África em difíceis condições, foi sem dúvida o padre de Roma que se tornou no mártir mais famoso e celebrado, até porque os arqueólogos descobriram uma catacumba e uma antiga igreja dedicada ao Santo Valentinus precisamente naquela cidade. Além disso, no ano de 1493, na Crónica de Nuremberg, é pela primeira vez feita referência ao Santo Valentinus, como padre romano martirizado durante o reinado de Cláudio II. O padre Valentinus, tal como aconteceu com outros cristãos, desafiou a lei do Império, que proibia a prática do cristianismo, assim como o auxílio a quem praticasse esta religião.

 

Valentinus não só era um homem de fé cristã como casava em segredo os casais cristãos e auxiliava todos aqueles que eram perseguidos pelas autoridades. Supostamente, também ajudava a libertar os cristãos enclausurados sujeitos a torturas. O padre acabou por ser detido e, segundo consta, terá tentado converter o Imperador ao cristianismo. Um erro capital. Valentinus acabou por ser espancado e, finalmente, morto. Decapitado. No dia 14 de Fevereiro (instituído formalmente pelo Papa Gelásio em 496) do provável ano de 269.

 

Rezam as crónicas que, durante o seu cativeiro, a filha do seu carcereiro se terá apaixonado pelo padre, com quem chegou a encontrar-se. Apaixonada e cega, a jovem terá recuperado a visão depois daquele encontro. Um autêntico milagre. Diz ainda a lenda que na noite anterior à sua execução o padre terá feito chegar uma carta à jovem apaixonada, na qual exprime o seu amor cristão, despedindo-se com um “do seu Valentinus”.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 10.02.17

 

"Neste país ninguém quer saber de intelectuais ou escritores. As únicas figuras públicas que as pessoas gostam de ouvir são os actores de cinema. Os actores de cinema são a realeza americana. Se vierem muitos actores falar de política, as pessoas prestam atenção, mas aos escritores não. Ninguém se interessa por escritores nos Estados Unidos."

 

Uma observação crítica de Paul Auster em entrevista ao jornal Público desta Sexta-feira. Se, por um lado, o escritor enaltece as qualidades da América, por outro, lamenta como o país pode ser "tão cruel, cego, estúpido e violento", numa alusão ao momento actual que se vive com a chegada de Donald Trump ao poder. 

 

O Diplomata celebra 10 anos

Alexandre Guerra, 02.02.17

 

Faz esta Quinta-feira, 2 de Fevereiro, precisamente 10 anos que o Diplomata apresentou as suas credenciais, o que faz deste blogue um dos mais veteranos da blogosfera nacional a produzir ininterruptamente, certamente com períodos de maior ou menor actividade, mas sem nunca parar. Uma década de opinião e análise sobre assuntos políticos e Relações Internacionais, sem prescindir das vertentes social, cultural e filosófica, fundamentais para se perceber o mundo e as sociedades em que vivemos. Não posso deixar de fazer um agradecimento especial à equipa do Sapo Blogs e, em particular, ao Pedro Neves pela atenção e carinho com que têm tratado o DiplomataAos leitores deste espaço, um muito obrigado, com o compromisso de que por aqui se continuará a fazer diplomacia.

 

O que é importante saber sobre o Supremo Tribunal dos EUA

Alexandre Guerra, 01.02.17

 

Quando o ex-Presidente George W. Bush teve a rara oportunidade de nomear dois juízes para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, John Roberts, em 2005, e Samuel Alito, um ano depois, conseguiu impor um registo mais conservador naquele órgão de nove elementos, cujos seus membros são vitalícios. Estas nomeações foram vistas como um dos principais legados da administração republicana de Bush para a posteridade, já que a sorte das circunstâncias permitiu-lhe perspectivar marcar ideologicamente futuras decisões sobre as questões mais fracturantes da sociedade americana. Na altura, não se esperava que tão cedo um outro Presidente tivesse a oportunidade de voltar a ter uma interferência tão influente na composição do Supremo. Mas, depois do Presidente Barack Obama ter tido a oportunidade de nomear Sonia Sotomayor logo no seu primeiro ano de mandato, após a saída do juiz David Souter por vontade própria, voltou, em 2010, a ter a possibilidade de escolher outra mulher para o Supremo, neste caso Elena Kagan. Tal só foi possível com a retirada do juiz John Paul Stevens.

 

Apesar destas mudanças de cadeiras, em termos de equilíbrio ideológico o Supremo ficou na mesma, já que os dois juízes que tinham saído alinhavam quase sempre pelo campo liberal, ou seja, Obama não conseguiu trocar um juiz conservador por um progressista. Essa oportunidade só surgiu em Fevereiro de 2016, com a morte do juiz conservador Antonin Scalia, só que, com as eleições presidenciais à vista, os republicanos do Congresso e o então candidato Donald Trump avisaram logo que não valeria a pena Obama tentar propor algum nome para o Supremo, já que nem sequer seria considerado, quanto mais nomeado. Apesar das ameaças, Obama propôs o juiz Merrick B. Garland que, se tivesse sido aceite, teria, efectivamente, voltado a fazer pender o cariz ideológico do Supremo para o lado mais progressista, uma vez que ficariam cinco juízes mais liberais contra quatro mais conservadores. Ora, tal não aconteceu e o processo de substituição de Scalia ficou suspenso até ontem, com a escolha, por parte de Trump, do juiz conservador Neil Gorsuch. É o mesmo que dizer que o Supremo manterá a sua maioria conservadora. Aliás, para o New York Times, Gorsuch está muito próximo do estilo e da filosofia do falecido Scalia e adivinha-se agora uma batalha feroz no Senado, onde os republicanos têm uma maioria de apenas 52 lugares (em 100), sendo que uma maioria simples não é suficiente para fazer passar o nome proposto por Trump. São precisos pelo menos 60 votos. Aqui, deverá acontecer o primeiro grande embate entre democratas e republicanos nesta nova presidência. 

 

Mas antes de se entrar num debate histérico, com troca de argumentos muito pouco fundamentados, é importante ter alguma noção histórica do papel dos nove juízes do Supremo Tribunal e conhecer o perfil de cada um deles, porque se percebe que há uma certa lógica ideológica na composição daquele órgão. A verdade é que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos é daqueles órgãos de soberania que, independentemente da sua composição ideológica, revela sempre um elevado nível de bom senso e um sentido muito apurado dos tempos. O que de certa forma é surpreendente, se tivermos em consideração que os seus nove juízes são nomeados vitaliciamente e carregam consigo, quase sempre, uma carga ideológica bem vincada, seja mais para o lado conservador, seja mais para o lado liberal. Mas o que é certo, e a avaliar pelas decisões mais importantes dos últimos anos, o discernimento daquele instituição não costuma ser afectada e, quase sempre, vai no sentido certo do progresso da Humanidade.