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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Dama de Da Vinci enche de orgulho a Polónia

Alexandre Guerra, 30.12.16

 

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"Dama com Arminho" de Leonardo Da Vinci’s/Foto: Carl Court/Agence France-Presse — Getty Images

 

Um país que só dependa do seu "hard power" para se posicionar no sistema internacional terá grandes dificuldades para se afirmar como um referencial de valores e princípios que suscitem a admiração e o respeito pelos demais Estados. É por isso que, sobretudo depois do fim da Guerra Fria e com o espoletar da globalização, os governantes virtuosos começaram a dar mais atenção àquilo que é denominado por "soft power". Negócios como aquele que o Governo polaco acabou de fazer, ao comprar por 100 milhões de euros a famosa Colecção Czartoryski, onde se inclui o raríssimo retrato de Leonardo Da Vinci, "Dama com Arminho" (um dos quatro retratos que fez com mulheres), vão cada vez mais além de uma mera questão Cultural, para se tornar uma matéria de poder e prestígio. Aliás, para o conservador Partido Lei e Justiça que está à frente do Governo polaco, esta aquisição é vista como uma matéria de orgulho nacional.

 

Líderes, uns e outros

Alexandre Guerra, 28.12.16

 

Quando se fala de líderes nunca esqueço que existem aqueles cuja autoridade provém meramente do seu poder institucional e há os outros, os que na verdade ficam na História, cuja influência vem da sua capacidade de inspirar e motivar os outros.

 

O nascimento de Jesus Cristo e a política

Alexandre Guerra, 23.12.16

 

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The Adoration of the Magi  
ANTONIO VIVARINI (Murano, 1440-1480) 
Gemäldegalerie, Berlin

 

O Natal é vivido pela maioria das pessoas como um acontecimento "familiar", no qual se celebra o nascimento do Rei dos Judeus (embora nas actuais sociedades pós-modernas já muito poucos façam essa associação). Nesta lógica de pensamento, a época natalícia é sobretudo um fenómeno social com um brutal impacto económico. No entanto, e remontando às origens do Natal, na pequena cidade de Belém, vislumbrava-se algo mais do que a componente familiar/social. Efectivamente, não foi preciso muito tempo para que o nascimento de Jesus Cristo fosse assumindo um carácter político e para que lhe tivesse sido atribuído uma dimensão para lá da manifestação familiar/social.

 

O Império Romano acabaria por constatar essa tendência nos seus terrítórios, ao ver transformado um fenómeno social e religioso numa questão política. A fundação da Igreja de Roma por São Pedro, o Pescador, e o respectivo "aval" do Império acabou por ser uma resposta política a um problema que extravasava as esferas social e religiosa. Porém, esta componente política raramente é associada ao nascimento de Jesus Cristo e ao Natal na altura das pessoas se reunirem na noite da Consoada. Aqui, sobressai sempre o espírito familiar daquela noite de Belém. Mas, repare-se que mesmo nesse ambiente surgiu o primeiro sinal político, com a presença de emissários (Três Reis Magos) que, vindos do Próximo Oriente, deslocaram-se à Cisjordânia para ver o recém nascido "rei" dos judeus. Aliás, este acontecimento gerou de imediato preocupações políticas na corte do Rei Herodes, sentindo-se este ameaçado com o nascimento de Jesus Cristo.

 

Tal como se veio a verificar mais tarde, as preocupações de Herodes adensaram-se, tendo o nascimento de Jesus Cristo transformado-se numa problemática de poder para a corte hebraica, originando as mais vis e perversas tácticas de propaganda e contra-informação, de forma a fragilizar o novo "Rei dos Judeus" perante o Império e mais tarde face ao Sinédrio. Apesar disto, a verdade é que o Natal é unicamente associado a uma noite idílica de criação, esquecendo-se quase sempre os ventos turbulentos que tal acto trouxe consigo. Por isso, seria um exercício interessante e curioso se as famílias aproveitassem esta época festiva para se reunirem à mesa não apenas para comer e trocar oferendas, mas para discutir e debater a sociedade que os rodeia, os seus problemas e desafios. Estariam a celebrar verdadeiramente o nascimento de Jesus Cristo.

 

Publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2015

 

Recordar Belém no Natal...

Alexandre Guerra, 22.12.16

 

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Em cima, a tradicional árvore de Natal no centro de Belém, Palestina, com a Basílica da Natividade e a Igreja de Santa Catarina em plano de fundo. Em baixo, duas jovens palestinianas muçulmanas entusiasmadas com a chegada do Natal.

 

Nesta altura do ano recordo sempre Belém, não em Lisboa, mas na Cisjordânia, onde nasceu Jesus Cristo. E recordo, não propriamente pela sua beleza, e muito menos pela sua sofisticação, mas porque ali vive a maior comunidade católica da Palestina. Fiz vários amigos de lá, católicos, com quem perdi contacto ao longo dos anos. E lembro-me sempre que, apesar de ser um "enclave" católico no meio de terras muçulmanas (e também judaicas), as gentes de Belém nunca tiveram medo de mostrar o seu Natal, com a célebre árvore bem no centro e as ruas devidamente engalanadas. Ao mesmo tempo, os muçulmanos sempre conviveram bem com esse facto, vendo até aí uma fonte de receitas para aquele município. E o corolário desta convivência inter-religiosa, mas sem que ninguém abdicasse dos seus credos e rituais, verificava-se na Missa do Galo, onde todos os anos víamos pela televisão uma das imagens mais icónicas daquilo que podia ser visto como pragmatismo confessional, sem preconceitos ou intolerâncias: Yasser Arafat sentado na fila da frente da Igreja da Santa Catarina. O antigo líder histórico palestinano poucos problemas tinha em aceitar o catolicismo dentro das fronteiras da Cisjordânia, na verdade, para ele, a questão da religião foi sempre secundária, sendo que o que lhe interessava mesmo era a afirmação do poder da Autoridade Palestiniana em relação a Israel.

 

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Um assunto que devia incomodar...

Alexandre Guerra, 18.12.16

 

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O que se está a passar em Aleppo é já um drama humanitário, mas tem todas as condições para se tornar numa tragédia sangrenta (é bom nunca esquecer acontecimentos como o de Srebrenica em Julho de 1995). Há uns dias, as Nações Unidas alertaram para o facto de cerca de 100 mil pessoas estarem encurraladas em pequenas áreas na zona oriental de Aleppo. Supostamente, está em curso um plano de evacuação, mas os poucos relatos fidedignos que nos chegam do terreno é de que está o caos instalado, com as forças governamentais sírias de um lado, apoiadas pela Rússia e milícias xiitas (que vieram do Irão, Paquistão, Líbano e Afeganistão), e os rebeldes sunitas do outro, que contam com a ajuda da Arábia Saudita, Turquia e EUA. Pelo meio, ainda estão vários grupos islamistas radicais, que não hesitarão em derramar sangue se a situação se precipitar em violência. Esta é uma daquelas alturas em que uma força de interposição multinacional, fosse da ONU ou da NATO, faria todo o sentido.

 

Estas duas fotos foram tiradas nos últimos dois/três dias e dão que pensar. As imagens que têm chegada de Aleppo são de uma intensidade tocante, numa altura em que as pessoas neste nosso mundo civilizado andam na normalidade das suas compras natalícias para os familiares, filhos e amigos. E é assim que devia ser em qualquer parte do mundo, mas, infelizmente, o contraste é brutal com algumas regiões e isso devia incomodar cada vez mais as lideranças mundiais. Mas pelos vistos...

 

Um país sem rumo

Alexandre Guerra, 11.12.16

 

No site da BBC News o correspondente em Istambul, Mark Lowen, escreveu a propósito dos atentados deste Sábado, sendo que aquilo que ele mais sentia era a raiva e o descontentamento dos turcos perante a violência crescente no seu quotidiano. 2016 foi um dos anos mais turbulentos desde a fundação da Turquia moderna por Kemal Ataturk. Neste ano tudo aconteceu naquele país. Foram os atentados do PKK e do Estado Islâmico, a crise dos refugiados, o reforço do pendor presidencial do regime e a tentativa de golpe de Estado que conduziu a um contra-golpe que cimentou, ainda mais, o poder do Presidente Recep Tayyip Erdogan e levou a um asfixiamento de alguns direitos e liberdades. Como resposta, a União Europeia praticamente condenou de "morte" o processo de adesão da Turquia. Por isto tudo, Lowen dizia que neste momento o sentimento entre os turcos é de raiva, desilusão, medo, uma "mistura tóxica" para um país que parece ter perdido o seu rumo.

 

Alguma serenidade, precisa-se!

Alexandre Guerra, 05.12.16

 

Os alarmes soaram mais uma vez nas chancelarias europeias, com a possibilidade de ser eleito na Áustria o primeiro chefe de Estado de extrema-direita desde a II GM na Europa. Mas, a derrota de Norbert Hofer, ontem, na segunda volta das presidenciais, acabou por esvaziar os maiores receios e, para já, a Áustria "livrou-se" de ter um Presidente do Partido da Liberdade (FPÖ).  A questão é que neste momento parece haver um histerismo excessivo em redor de tudo o que seja a possível emergência de partidos ou factores políticos fora do "mainstream". O "sim" ao Brexit e a eleição de Donald Trump vieram contribuir ainda mais para o pânico generalizado, o que poderá, por vezes, toldar a razão e a capacidade de análise dos líderes políticos, conduzindo a uma situação de precipitação e de ostracismo a grandes franjas do eleitorado que, legítima e democraticamente, fizeram a sua escolha em opções menos convencionais, mas mesmo assim respeitáveis. Ora, quem votou no Trump, no "sim" ao Brexit ou no candidato Norbert Hofer merece igual respeito a quem tenha votado em Clinton, no "não" ao Brexit ou no rival ecologista de Hofer. 

 

O problema é que quanto mais os ditos líderes políticos tradicionais se vão assustando, mais os acontecimentos se vão precipitando e as massas reagindo em sentido contrário, depositando o seu voto em todos e em tudo que seja contra o sistema. Sistema esse que está em pânico e não está a conseguir assimilar os novos fenómenos que vão surgindo.  Além disso, é preciso ter a humildade democrática e perceber que em Democracia, desde que respeitadas as regras, todas as escolhas são válidas e há que aceitá-las serenamente. Porque, uma das virtudes dos mecanismos da democracia é precisamente dar possibilidade aos cidadãos de corrigirem eventuais erros de escolha, caso se sintam desiludidos com o seu voto, já que terão sempre as próximas eleições para poderem "correr" com o político que elegeram.