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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

"A política é um jogo sujo", mesmo quando está ao serviço do Bem

Alexandre Guerra, 14.09.16

 

All The King’s Men (1949) é um daqueles filmes obrigatórios para quem trabalha em comunicação política. Vencedor de três óscares da Academia, incluindo Melhor Filme, e baseado na obra homónima de Robert Penn Warren, de 1946, laureada com o Pulitzer no ano seguinte, All The King’s Men conta a história da ascensão política de Willie Stark nos anos 30 num Estado pobre dos Estados Unidos que, com a sua base de apoio assente nos “hicks” (provincianos, labregos), conquista o poder e o vai mantendo a todo o custo. Porque, a verdade é que a “política é um jogo sujo”, mesmo que esteja ao serviço do “Bem”. A seu lado, Willie Stark tem Jack Burden, um antigo jornalista, que, acreditando no homem e no político, passa para o “outro lado” e se torna no seu assessor mais próximo.

 

O filme começa precisamente com Jack Burden, ainda repórter político do “Chronicle”, a ser chamado ao gabinete do seu editor. Este pergunta-lhe se já ouviu falar num tal de Willie Stark. Ao que Burden responde não. É então que o editor lhe diz que se trata de um político de Kanoma City, uma capital de comarca “típica, quente, poeirenta e remota”, que se vai candidatar a um cargo público no “county council”. E perante esta informação aparentemente algo inócua e sem interesse jornalístico, Stark pergunta:“E o que tem isso de especial?” 

 

“Dizem que é um homem honesto”, responde o editor.

 

É neste discurso que Willie Stark, falando com paixão e com sinceridade ao povo, inverte a tendência negativa da sua primeira campanha eleitoral para Governador. Acabaria por perder, mas longe de ser a derrota estrondosa que muitos previam. Na altura em que soube os resultados eleitorais, anunciando a sua derrota, Willie Stark sorriu. Alguém perguntou-lhe porquê e ele respondeu: "Agora perdi, mas aprendi como se ganha!"

 

A saúde dos candidatos

Alexandre Guerra, 13.09.16

 

Joseph Stiglitz, que agora pelos vistos também comenta assuntos de política, não deixava de dizer algo com uma certa razão esta manhã na Euronews. Para o Nobel da Economia não faz qualquer sentido que os candidatos presidenciais e os americanos em geral vivam obcecados com os boletins clínicos de Trump e Clinton, quando a exigência da campanha em si é de tal maneira extenuante que poucas pessoas na casa dos 70 sobreviveriam àquele teste. Efectivamente, fazer e aguentar até ao fim uma campanha presidencial nos EUA é, por si só, um atestado inequívoco de resistência física.

 

Recordar o 9/11

Alexandre Guerra, 11.09.16

 

Quinze anos depois, estive a reler aquilo que escrevi ao longo dos dois dias que se seguiram aos atentados do 11 de Setembro (uma Terça-feira) e que seria publicado na edição seguinte do SEMANÁRIO, na Sexta-feira (14). Enquanto editor da secção de Internacional daquele jornal, recordo-me perfeitamente que, na altura dos atentados, estava na redacção (naquele edifício cor-de-rosa no Dafundo cheio de história ligada ao jornalismo), o que me permitiu acompanhar todos os desenvolvimentos desde o início. Depois do choque inicial, foi preciso afastar as emoções, perceber o que estava a passar e perspectivar o que iria acontecer. Foram dias de muito trabalho e confusão, mas um privilégio, porque, foram momentos como aqueles que me fizeram desenvolver a paixão que sempre tive pelo jornalismo.   

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Primeira página do SEMANÁRIO de 14 de Setembro de 2001

 

Uma brincadeira cada vez mais séria

Alexandre Guerra, 09.09.16

 

O mundo ocidental acordou hoje com a notícia de que a Coreia do Norte fez mais um teste nuclear, com os registos de actividade sísmica a indicarem poder tratar-se de um engenho de 20 a 30 quilotoneladas de potência, ou seja, superior à bomba que os EUA lançaram sobre Hiroshima. Mas o problema já nem é só este, o da bomba em si, é o facto do regime de Pyongyang ter aparentemente conseguido desenvolver os vectores de lançamento para transportar essas ogivas, nomeadamente, os mísseis balísticos de médio alcance. E é sobretudo esta questão que torna a ameaça norte-coreana cada vez mais perigosa e imprevisível. A julgar pelas informações que vão chegado, neste momento parecem começar a estar reunidas condições para que um qualquer lunático em Pyongyang carregue no botão e lá dispare um míssil com ogivas nucleares com capacidade para atingir a Coreia do Sul, o Japão e até mesmo território americano no Pacífico.

 

Duas notas sobre Espanha e Reino Unido

Alexandre Guerra, 05.09.16

 

1. Quando, há poucos anos, Espanha viu surgir novos (em idade e notoriedade) actores políticos, fiquei bastante expectante em relação ao que eles trariam de refrescante para a cena política do país vizinho. Pedro Sánchez, Albert Rivera e Pablo Iglesias, todos eles entre os 35 e 45 anos, portanto jovens para os cânones da política, davam ares de tempo novo, de sofisticação, libertos das amarras da velha e bafienta partidarite que, em certa medida, tinha Mariano Rajoy como a sua personificação. Sánchez e Rivera, ambos com boa imagem e ar de bons rapazes, tinham trunfos para ir buscar uma parte do eleitorado flutuante "mainstream" ao PP. Já Iglesias, uma espécie de Catarina Martins numa versão mais tolerável, representava as novas tendências sociais, muitas delas de protesto, tinha muito potencial para ir recolher votos junto do eleitorado mais jovem e urbano (como aliás o chegou a fazer). Este "tríptico" tinha tudo para "agarrar" a Espanha e relegar o PP de Mariano Rajoy para uma oposição minoritária. Mas, chegados até aqui, com a Espanha num impasse político, duas legislativas no espaço de poucos meses e a caminho das terceiras eleições num intervalo de um ano, não só Rajoy continua no poder, como reforçou a sua votação nas últimas eleições, face à perda dos seus principais opositores. Sánchez, Rivera e Iglesias não conseguiram imprimir uma dinâmica regeneradora e vitoriosa e deixaram-se enveredar pelos piores males da política: a vaidade, a arrogância, a cegueira e, sobretudo, e perda de noção pelo interesse maior, que é a Espanha e os seus cidadãos. Obviamente, que o comportamento de cada um dos três merece uma análise mais detalhada e cuidada, já que existem importantes nuances entre Sánchez, Rivera e Iglesias, mas no final de contas, é Rajoy, aquele político que durante anos foi gozado e que muitos diziam que jamais chegaria a chefe do Governo, que continua a merecer a confiança da maior parte dos espanhóis. Dá que pensar.     

 

2. Uma solução para a problemática do Brexit é aquilo que proponho a Theresa May, primeira-ministra britânica, e que foi, juntamente com David Cameron, defensora da manutenção do Reino Unido na União Europeia. May já veio dizer (e bem) que não irá realizar um segundo referendo e que pretende cumprir com a vontade da maioria dos ingleses que votaram no referendo, mas já alertou que vai ser um processo longo e demorado, com as primeiras fricções a surgirem entre ela e Boris Johnson, chefe da diplomacia, e o principal rosto do Brexit. Após alguma reflexão, vislumbra-se uma saída para toda esta questão e que, por um lado, permitiria legitimar popularmente o poder de May e, por outro, abrir uma oportunidade democrática para que o processo pudesse parar. E que via seria essa? Simples, a de eleições antecipadas. Embora a tradição democrática inglesa veja com normalidade a sucessão de chefes de Governo sem irem a eleições (aconteceu com Churchill em 1940), nos dias que correm seria perfeitamente aceitável que May quisesse (ou venha a querer) legitimar o seu cargo com o voto popular. E caso isso viesse a acontecer, May apresentar-se-ia aos eleitores com o seu programa, o qual teria como prioridade inverter o processo de Brexit. Perante este cenário, ninguém poderia criticar May por querer ir a eleições e muito menos por ter no seu programa uma convicção que sempre defendeu. E nestas eventuais eleições, não havia qualquer impedimento que um outro candidato conservador defensor do Brexit se pudesse apresentar. Boris Johnson poderia fazê-lo. Tal como todos os outros candidatos dos diferentes partidos estariam livres de o fazer, defendendo ou não o Brexit. E aqui, os eleitores tinham duas escolhas: ou dariam a vitória a um candidato que defendesse o Brexit e tudo seguiria o seu curso; ou então dariam o seu voto a May ou a um mais que provável candidato trabalhista que se oporia à saída do Reino Unido. E se este último cenário acontecesse, alguém teria coragem de ir contra a vontade da maioria dos eleitores? Dificilmente, até porque aquilo que é apresentado e legitimado em eleições democráticos teria, à partida, mais peso político do que algo que foi referendado. 

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

Bons conselhos

Alexandre Guerra, 02.09.16

 

"As eleições não são ganhas com base nas realizações políticas, mas no que se promete para o futuro." Ao ler esta frase de Boris Johnson, ex-Mayor de Londres e actual ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, lembrei-me imediatamente de uma tirada de Josh Lyman, o principal assessor político da série The West Wing: "Campaigns is about promesses,  governing is about achievements". Bons conselhos para quem estiver interessado em segui-los, numa altura em que começam a haver algumas movimentações de bastidores, com vista à montagem das estratégias comunicacionais para as autárquicas do próximo ano. 

 

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