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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A última "pomba" do Médio Oriente

Alexandre Guerra, 28.09.16

 

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Desde que me lembro de ter alguma consciência política e sensibilidade para as questões do mundo, que convivo quase diariamente com o conflito do Médio Oriente, seja em momentos de maior ou menor intensidade. Não estarei a exagerar se disser que aquela realidade israelo-palestiniana me tem acompanhado ao longo da vida, onde aliás já tive o privilégio de estar por mais que uma vez. Havia três figuras que faziam parte desse meu mundo: duas já morreram há uns anos; Ytzhak Rabin, em 1995, e Yasser Arafat, em 2004. E a terceira figura era Shimon Peres, que morreu esta manhã. Todos eles foram em tempos das suas vidas "falcões", que lutaram pela sua terra, mas morreram como "pombas" na tentativa de encontrar uma solução de paz para um conflito milenar.

 

Europa...a de Júpiter

Alexandre Guerra, 27.09.16

 

A primeira vez que ouvi falar na Europa, lua de Júpiter, foi já há uns longos anos, quando vi o filme 2010: The Year We Make Contact, lançado em 1984, a sequela do estrondoso 2001: A Space Odissey, ambos baseados na obra de Arthur C. Clarke. Na altura, ainda muito jovem, confesso a minha ignorância, porque pensei que a Europa era um nome ficcionado, uma lua remota a partir da qual a tripulação que tinha sido enviada a Júpiter detectara alguns sinais misteriosos que, na leitura de um dos membros daquela missão espacial, considerava ser um aviso para que se mantivessem afastados daquele satélite natural. A partir do momento em que percebi que a Europa era, efectivamente, uma lua de Jupiter, despertou em mim um certo fascínio, até porque algumas das notícais que depois ia lendo sobre aquele corpo celeste continham sempre algum grau de mistério e desconhecimento.

 

Ontem, a Europa voltou a fazer notícia, com a NASA a anunciar uma descoberta fantástica, dando conta da eventual existência de erupção de "plumas" de vapor água para o espaço a partir da sua superfícei gelada. “Europa’s ocean is considered to be one of the most promising places that could potentially harbor life in the solar system”, disse Geoff Yoder, administrador da Missão Científica da NASA. Afinal, o futuro da Humanidade sempre poderá passar pela Europa.

 

  

Apontamentos históricos

Alexandre Guerra, 25.09.16

 

"Não importava quão más as coisas se tornavam, pois Roma conseguira sempre responder, conseguira sempre sair das cinzas da história e continuar em frente. E era mais na derrota do que na vitória que Políbio [historiador] via a essência da grandeza de Roma."

 

Robert L. O'Connel in Aníbal, Cartago e o Pesadelo da República Romana (Bertrand, 2012)

 

Excitações

Alexandre Guerra, 20.09.16

 

No exercício das suas funções, os políticos, sobretudo aqueles com responsabilidades de liderança e mais visibilidade, não devem, por definição, ser pessoas excitadas, precipitadas, estridentes, irritadas ou deslumbradas. É pelo menos este o meu entendimento daquilo que um político nao deve ser. Os políticos nunca devem achar que têm uma missão messiânica ou que são uma espécie de Dom Quixote em que, contra tudo e contra todos, focam-se apenas numa ideia, independentemente das "baixas" ou dos "danos colaterais" que isso possa provocar. E sobretudo, os políticos nunca devem achar que têm sempre a razão do seu lado. Devem estar preparados para aceitar a diferença, ceder, assumir o erro (se for caso disso) e corrigir a trajectória. Brincar à política pode ser um dos exercícios predilectos dos governantes e líderes partidários cá do burgo (e não só), no entanto -- e além do divertimento que isso possa gerar interpares e na classe jornalística/comentadores --, à margem desse espectáculo circense, encontra-se uma vasta massa, o tal Povo, que, apesar de lhe terem dito, em tempos, que era quem mais ordenava, na verdade manda pouco. Não é que tenha que mandar, porque por alguma razão foi inventada a Política e os governos, agora, o que se espera é que essas elites estejam à altura dos seus mandatos, de servir o Povo com o máximo de responsabilidade e bom senso. Não se pede muito mais, pede-se apenas responsabilidade e bom senso. 

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

Apontamentos históricos

Alexandre Guerra, 20.09.16

 

Um bom princípio que muitos líderes políticos parecem esquecer...

 

"Um príncipe prudente deve [...] eleger no seu Estado homens sábios e só a eles conceder livre arbítrio para lhe dizerem a verdade, e apenas acerca daquelas coisas que lhes pergunte e não acerca doutras; mas deve interrogá-los acerca de tudo e, depois de lhes ouvir a opinião, deliberar por si, a seu modo; e deve nos conselhos, portar-se de tal modo com cada um deles, que cada um saiba que quanto mais livremente se lhe fale, tanto mais o que assim proceder lhe será aceite: fora dos conselhos não deve querer ouvir ninguém, não deve afrouxar nas decisões tomadas, e deve obstinar-se nas suas resoluções. Quem proceder de outro modo, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda amiúde pela variedade dos pareceres."

 

Nicolau Maquiavel in O Príncipe 

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 19.09.16

 

"Sou como você, um jornalista a relatar o que se passa à nossa volta. A única diferença é que eu sou brutalmente directo."

 

O rapper Ice Cube, interpretado por O'Shea Jackson Jr. no filme biográfico Straight Outta Compton, quando se dirige furiosamente ao jornalista durante uma entrevista televisiva, em 1991, para falar sobre o caso Rodney King, um motorista negro que foi agredido por quatro polícias brancos, entretanto, absolvidos, apesar das imagens recolhidas mostrarem um claro abuso de força policial.

 

Um retrato de uma certa América

Alexandre Guerra, 19.09.16

 

Já tinha escrito há uns meses sobre o filme Straight Outta Compton quando saiu nos EUA e desde então que andava para vê-lo. Pois, finalmente vi-o e é um registo incontornável de mais de duas horas para se sentir o ambiente de tensão racial que se viveu na Costa Oeste, nomeadamente na zona de Los Angeles, no final dos anos 80 e início dos anos 90. Além de ser um dramático filme biográfico dos N.W.A, considerado o primeiro grupo "gangsta rap", do qual faziam parte, entre outros, Eazy E, Dr. Dre e Ice Cube, é um intenso filme sobre um lado da sociedade americana, onde o sucesso, a fama, o dinheiro e a violência convivem de modo tão intenso. É um surpreendente e tocante filme sobre as relações humanas entre amigos. Do melhor que tenho visto.

 

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 16.09.16

 

"As soon as you have a communications problem you have a political problem."
 
Quando li esta frase há cerca de três anos, proferida por um grande empresário francês, referia-se às debilidades políticas de François Hollande, as quais, na verdade, nunca conseguiu ultrapassar. O certo é que, quase diariamente, seja em Portugal ou no estrangeiro, se vai reforçando a validade deste princípio. Normalmente, um erro de comunicação gera quase sempre um problema ou um embaraço político, como ainda recentemente se viu com a questão da pneumonia de Hillary Clinton, mas o inverso já não tem necessariamente esse grau de correlação. Ou seja, nem sempre um erro político se transforma num "issue" comunicacional.
 

É quase tudo uma questão de inspiração

Alexandre Guerra, 15.09.16

Um dos passatempos preferidos dos actuais governantes do Velho Continente é criticar o projecto europeu e reduzi-lo a um monte de burocracia, que está em decadência e que pouco ou nada faz pelos seus povos. Com mais ou menos intensidade, esta é a tónica dominante da retórica de praticamente todos os líderes dos vinte e oito Estados-membros. Seja por convicção, seja para agradar ao seu eleitorado interno, seja até por razões válidas (porque há muitos erros que devem ser corrigidos), são diárias as críticas e os ataques feitos ao projecto de construção europeia. No meio de tudo o que se vai ouvindo, é recorrente o lamento sobre a falta de liderança política na Europa. Ao nível dos Estados-membros, não existem figuras carismáticas que possam assumir esse designio comum e inspirador de levar isto por diante e, no âmbito das instituições comunitárias, percebe-se que as figuras que têm sido escolhidas para assumir tais cargos nos últimos anos não têm gerado o efeito de mobilização e de alavancagem que se precisava. De certa maneira, hoje em dia, fica-se com a sensação de que a construção do edifício europeu entrou em piloto automático a partir do início dos anos 90, acrescentando-se andares sobre andares em cima de "pilares" frágeis, mas sem qualquer farol que apontasse um porto seguro.

 

Não se estranha, por isso, que uma certa ideia romântica de Europa unida e solidária se tenha perdido lá atrás, com a saída de cena de homens como Delors, Kohl, Miterrand, Soares ou González, apenas para dar alguns exemplos. No entanto, se é verdade que Jacques Delors é e será sempre uma figura de referência na construção europeia, tal evidência não deve distorcer a análise comparativa entre os seus dois mandatos na Comissão e os que se lhes seguiram. Porque, de certa maneira, no final dos anos 80 e no início dos anos 90 viveu-se uma euforia europeia, com alguns dos principais líderes europeus da altura, com destaque para Helmut Kohl e Francois Miterrand, a “acelerarem” o projecto europeu para um nível de integração absolutamente inédito. Maastricht é precisamente o resultado, mas também o símbolo, dessa vontade política. Na prática, e até pela realidade ainda bem presente dos traumas de uma Europa dividida, todos eles estavam a lutar pelo mesmo. E isto veio facilitar (e de que maneira) o trabalho de quem estava nas instâncias comunitárias e, ao mesmo tempo, criar uma onda de entusiasmo junto dos cidadãos europeus.

 
Hoje, a euforia deu lugar ao descontentamento e cepticismo no seio dos Vinte e Oito. Os europeus não parecem ver na Europa um projecto aliciante, mas sim uma entidade burocrática, dominada por tecnocratas que se limita a emitir directivas. A juntar-se a esta ideia, muitos dos intervenientes políticos nos vários Estados-membros tecem duras críticas e enveredam por discussões bizantinas sobre questões que, com alguma arte política e inspiração, podiam ser ultrapassadas, tendo sempre presente que este mesmo projecto europeu já ultrapassou períodos bem mais complicados da sua história. A diferença é que nessas alturas lá estavam os líderes carismáticos, a meterem de lado as suas diferenças e egoísmos e a pensarem no bem comum, e, desta forma, a inspirarem os seus povos. 
 
Publicado originalmente no Delito de Opinião.
 

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