Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Da Rússia, Hillary pode esperar tudo menos amor

Alexandre Guerra, 27.07.16

 

3048E8FB00000578-0-image-a-117_1453095683261.jpg

 

Até que ponto Vladimir Putin detestará Hillary Clinton? É díficil dar uma resposta com total objectividade, mas existem alguns indícios de que, efectivamente, o Presidente russo não "morrerá de amores" pela candidata presidencial democrata. Será uma animosidade política e até pessoal que já vem de longe, mas que se terá intensificado nos últimos meses de campanha, com as palavras cada vez mais duras que Clinton foi dirigindo a Putin. Ao mesmo tempo, o Kremlin foi ouvindo da boca de Donald Trump autênticas odes às virtudes do líder russo.

 

Quando na passada Sexta-feira, em vésperas da Convenção Nacional do Partido Democrata, foram divulgados e-mails comprometedores para a campanha de Hillary Clinton, que terão sido enviados a cerca de 20 mil militantes democratas, com o objectivo de denegrir Bernie Sanders,surgiram de imediato algumas teorias que metiam o Kremlin por detrás desta "fuga", já que esta informação iria prejudicar claramente Hillary. Algumas fontes ouvidas pela NBC, entre especialistas e antigos diplomatas, parecem ter poucas dúvidas quanto à antipatia que Putin nutre por Hillary. O antigo embaixador dos EUA em Moscovo, Michael McFaul, considera que aquela fuga de informação foi levada a cabo por hackers profissionais apoiados pelo Kremlin, uma tese corroborada por vários especialistas em ciber-segurança. 

 

Não seria a primeira vez que um Estado estaria por detrás de uma iniciativa deste género com o objectivo de atingir o inimigo, seja ele qual for. Neste momento, o Kremlin já parece ter feito a sua escolha no que diz respeito aos dois candidatos presidenciais nos EUA: Donald Trump. Não seria por isso de estranhar que o Kremlin tivesse patrocinado esta fuga de informação, até porque às vezes são os pequenos sinais que ajudam a comprovar a existência de uma estratégia concertada. Ainda esta manhã, por coincidência ou não, na RT, canal em inglês de alcance internacional financiado pelo Governo russo, passava uma reportagem bastante crítica sobre a fortuna dos Clinton, partindo da análise ao filme propagandístico Clinton Cash, que acabou de estrear e é simplesmente arrasador para Hillary.

 

O massacre que o Islão nunca esqueceu

Alexandre Guerra, 21.07.16

9169721_0qaBW.jpeg

 

Os acontecimentos recentes e tudo aquilo que se tem dito e escrito, torna pertinente a recuperação de um texto que aqui tinha sido publicado no Diplomata há uns anos e que parece ter toda a actualidade perante as grandes questões que se debatem. Na altura, isto em Setembro de 2011, o autor destas linhas tinha comprado um daqueles pequenos livros da Penguin, de sensivelmente 60 páginas, com extractos da extensa obra “A History of the Crusades” (Cambridge University Press, 1951) do conceituado historiador britânico “Sir” Steven Runciman, falecido em 2000, com 97 anos. Tendo dedicado parte da sua vida ao estudo da Idade Média, Runciman teve em “A History of the Crusades” a sua grande criação, que ainda hoje é um farol para aqueles que pretendem debruçar-se sobre o conhecimento das incursões cristãs no Médio Oriente.

 

O tal pequeno livro da Penguin, de forma muito sucinta e clara, versa sobre os preparativos da Primeira Cruzada e o “assalto” a Jerusalém, sem esquecer os conturbados acontecimentos que se verificaram em Constantinopla e noutras cidades durante a jornada. Começa por ler-se sobre o entusiasmo e o apelo às armas do Papa Urbano II, no final do Verão, início de Outono de 1095, altura em que começa o movimento inspirador das Cruzadas. Da mobilização ao envio dos primeiros cruzados passaram poucos meses, para que se iniciasse um processo de violência desenfreada numa lógica da Cristandade contra todos (judeus, turcos, muçulmanos), incluindo contra os "irmãos" cristãos espalhados pelo Império Bizantino.

 

As atrocidades e a violência cometidas em nome da Fé durante a Primeira Cruzada, nomeadamente aquando do assalto e do massacre de Jerusalém em Julho de 1099, levaram Runciman a encontrar resposta para a questão primeira sobre a origem do conflito entre o Cristianismo e o Islão e que se perpetuou até aos dias hoje, afirmando que “o banho de sangue foi a prova do fanatismo cristão que recriou o fanatismo do Islão”.

 

O interessante nesta pequena passagem da obra de Runciman é ficar expressa a ideia de que a origem doutrinária da inimizade que persiste nos tempos modernos entre o Islão e o Cristianismo remonta à Primeira Cruzada, fazendo uma distinção com os séculos anteriores de expansão árabe. Runciman centra-se, antes, em episódios concretos de uma política papal e europeia expansionista na qual os fins justificaram todos os meios de violência.

 

Aquilo que é hoje o ressentimento doutrinário e ideológico do Islão contra o estilo de vida das sociedades ocidentais de herança cristã pode ter origem nos acontecimentos dramáticos naqueles dias de Julho de 1099 que se seguiram à conquista de Jerusalém, quando no interior das muralhas daquela cidade os cruzados eufóricos com a sua vitória invadiram ruas, casas, mesquitas e sinagogas, não poupando homens, mulheres e crianças muçulmanas e judaicas.

 

Raymond of Aguilers, um dos cronistas da Primeira Cruzada e que na manhã a seguir ao massacre (15 de Julho) chegou ao Pátio das Mesquitas (principal local sagrado muçulmano na cidade histórica de Jerusalém), conta que viu o chão coberto de corpos e de sangue que chegava até aos seus joelhos. O massacre de Jerusalém impressionou o mundo, desconhecendo-se o número de vítimas, falando-se em milhares. Certo foi que a cidade ficou sem muçulmanos e judeus. Mesmo entre alguns cristãos, aqueles acontecimentos causaram horror. Perante estes acontecimentos, Runciman relembra que mais tarde, quando alguns sábios religiosos do quarteirão latino em Jerusalém “tentaram encontrar alguma base na qual cristãos ou muçulmanos pudessem trabalhar juntos, a memória do massacre estava sempre no seu caminho”.

 

Leituras

Alexandre Guerra, 21.07.16

 

Professora de Relações Internacionais na Universidade do Minho, Laura Ferreira-Pereira assina no Público um excelente artigo sobre a Estratégia Global para a Política Externa e de Segurança Europeia, apresentada no passado dia 28 por Frederica Mogherini. Em A estratégia global da União Europeia pós-Brexit: um documento chamado desaire? é bem notado as incoerências entre aquilo que está inerente a esta estratégia e as consequências do Brexit.

 

Era bastante previsível...

Alexandre Guerra, 13.07.16

 

_71813823_kiir.jpg

Salva Kiir, um autêntico "cowboy" africano 

 

Cinco anos depois da sua independência, celebrada, diga-se, com grande apoio e entusiasmo dos líderes ocidentais, que, nestas coisas, costumam meter o realismo político de lado ao deixarem-se invadir por um idealismo tolo e irresponsável, o Sudão do Sul é hoje mais um Estado à deriva, com um tecido social retalhado e uma economia de rastos. O país está a saque e refém das vontades e caprichos do suposto "pai" da independência, Salva Kiir, um autêntico "cowboy", que, na boa e velha tradição das lideranças africanas, rapidamente revelou as suas tentações interesseiras e despóticas.

 

Agora, cinco anos depois, a comunidade internacional parece ter acordado para uma realidade que já era evidente muito antes do referendo que levou à independência do Sudão do Sul: embora a sua população seja maioritariamente cristã e animista, contrastando com o cariz muçulmano do Norte, aquele território estava longe de ter as condições estruturais e os recursos políticos para se tornar num país independente. Era óbvio. 

 

Recordo que dias antes do referendo realizado a 9 de Janeiro de 2011, questionei-me se não estaria mais uma guerra civil iminente em África e cheguei a escrever neste espaço o seguinte: "Estará África na iminência de uma nova guerra civil? Os observadores internacionais no terreno, como o senador John Kerry, presidente do comité dos Negócios Estrangeiros do Senado dos Estados Unidos, acreditam que não. Estão confiantes que o referendo que se realiza no próximo Domingo no Sudão, e que irá decidir se o Sul daquele país se tornará numa nação independente, não terá consequências gravosas, estando neste momento todo o processo a decorrer sem problemas. A CNN, no entanto, e inspirada na longa tradição africana de conflitos internos, colocava as coisas de uma forma mais prática ao dizer que o resultado deste referendo ou institui o mais recente Estado da comunidade internacional ou acaba em guerra civil. Atendendo ao historial do Sudão e ao comportamento da sua cúpula político-militar nos últimos anos, o Diplomata só pode concordar com aquela observação." 

 

Pouco mais de um mês tinha passado sobre o referendo e já se verificavam confrontos fronteiriços entre o Sudão do Sul e o Sudão. E em Março voltei ao assunto para falar dessa personagem "hollywoodesca", Salva Kiir, que iria ser o futuro Presidente a partir de 9 de Julho. E todo o cenário era preocupante, porque Kiir mostrava os sinais de vir a ser um líder que iria infligir grandes danos ao seu país e povo, tendo-se aproveitando da popularidade e carisma do defunto John Garang, antigo líder sudanês, que lutou pela independência da região do Sul e que morreu em 2005 num acidente de helicóptero. Kiir fez parte do círculo próximo de Garang, tendo este sido o grande responsável e inspirador da independência do Sudão do Sul. 

 

A questão é que após a independência e perante a incapacidade de lidar com os problemas internos, Salva Kiir tentou aproveitar os conflitos fronteiriços com Cartum para criar neste o inimigo externo e desviar as atenções da sua governação. Não é por isso de estranhar que menos de um ano após a independência, o já Presidente Kiir assumia claramente o conflito com o Sudão. É certo que os problemas sempre existiram com o regime de Cartum liderado pelo também pouco recomendável, Omar al-Bashir, no entanto, foi no plano interno que a situação mais se deteriorou, como, aliás, seria expectável. 

 

Nstes últimas dias, a violência na capital Juba tornou-se demasiado evidente e a situação bastante ruidosa, obrigando os EUA, através da sua Conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, a pronunciarem-se com aquelas declarações já habituais, que têm tanto de inócuo como de incompetentes: “Esta violência sem sentido e indesculpável – levada a cabo por quem, mais uma vez, coloca os interesses pessoais acima do bem-estar do seu país e do seu povo – coloca em risco tudo aquilo a que o povo sul-sudanês aspirou nos últimos cinco anos”, disse Rice em comunicado.

 

A verdade é que há muito que Washington podia ter colocado alguma ordem na política do Sudão do Sul, mas não o fez, deixando o caminho aberto para que Kiir e outros fizessem do mais recente país independente o seu "playground" africano.

 

Mais um "condimento"

Alexandre Guerra, 12.07.16

 

Há uns dias escrevi aqui no Diplomata sobre um tema que há muito acompanho com interesse, que tem a ver com as perigosas "brincadeiras" que vão acontecendo para os lados da Península da Coreia e dos mares do Japão e da China. E disse que "qualquer acidente ou incidente que por ali aconteça (e têm acontecido alguns) pode acender o rastilho para algo de dimensões problemáticas". Hoje, o Tribunal Permanente de Abritragem, em Haia (sem poderes vinculativos), acrescentou mais um "condimento" ao dar razão às reivindicações das Filipinas contra os interesses da China. Pequim já disse que não vai acatar qualquer recomendação ou decisão.

 

Map showing the South China Sea

 

Dispatches from Africa

Alexandre Guerra, 04.07.16

 

EU aid for African Great Lakes region getting through, but may be too expensive, say auditors

 

The auditors examined the European Commission's humanitarian support in the Democratic Republic of Congo, Uganda, Rwanda, Burundi and Tanzania for the period between 2011 and 2015, which amounted to about €300 million

 

LUXEMBOURG, Luxembourg, July 4, 2016/ -- EU humanitarian aid to refugees from conflicts in the African Great Lakes area is responding to the challenges faced but may be costing too much to deliver, according to a new report from the European Court of Auditors. Despite the difficult working environment, EU aid has made a valuable contribution to addressing the problems but there are some weaknesses in the way the aid is managed, say the auditors. More information is needed from the UN and its partner agencies as to how the money is spent.

The auditors examined the European Commission's humanitarian support in the Democratic Republic of Congo, Uganda, Rwanda, Burundi and Tanzania for the period between 2011 and 2015, which amounted to about €300 million. They concluded that the aid was, in general, managed effectively. However, as humanitarian needs are increasing and funds are limited, efficiency is ever more important. The budgets examined were not detailed enough and there were no assessments of whether the proposed costs were reasonable. About half of the EU aid was spent through UN agencies and when the UN sub-contracted its activities no data was made available on how much was actually spent on the beneficiaries.

"I am concerned that the Commission does not have the figures it needs to check whether the aid is being delivered in the most efficient and economical way" said Mr Karel Pinxten, the Member of the European Court of Auditors responsible for the report. "The more links there are in the chain between the EU taxpayer and those in need, the more difficult it becomes. The Commission should press UN agencies such as UNHCR and the World Food Programme, together with NGOs, for more information on how the EU's money is being spent. Otherwise, this aid risks being too expensive."

The auditors found there was a lack of documentary evidence to determine geographical priorities and assess project proposals. As a result it was not possible to determine whether the projects chosen complied with the relevant criteria and if the most appropriate projects were selected.

The monitoring framework was appropriate, given the difficult working environment. The reports from the partners were, however, frequently late and this limited their usefulness. The expertise of the Commission's field staff was helpful to the funded partners but reporting from the field visits was not sufficiently comprehensive. Because of inadequate recording of the follow-up of problems raised, it was not possible to ensure that these were satisfactorily resolved. On a more global level, there is no reporting on the Humanitarian Implementation Plan to provide an overview of results and lessons learnt.

The results achieved overall for the projects examined were satisfactory. One partner, however, managed to spend most of its budget but only achieved a small percentage of the planned results. In a few cases the justification for time extensions and additional budgets was not apparent. While the desirability of linking relief, rehabilitation and development has been widely accepted by the Commission and other donors, there are very few examples of this being applied in practice. Without very actively pursuing this goal, say the auditors, there is a danger that opportunities to move from humanitarian aid to development aid will be missed.

The full press release, including notes to editors, and special report in 23 EU languages is available on eca.europa.eu

 

Distributed by APO on behalf of European Court of Auditors (ECA).

 

Pág. 1/2