Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Ser Presidente até ao último dia

Alexandre Guerra, 28.05.16

 

4_p051916ps-1169.jpg

Barack Obama na Sala Oval, 19 de Maio (Foto: White House/Pete Souza) 

 

Num dos episódios da realista série The West Wing, com o título "365", a equipa da presidência de Josiah Bartlet (Martin Sheen) vê-se confrontada com a inevitável aproximação do final do segundo mandato, num misto de nostalgia, desmotivação e desânimo. Normalmente, os poderes executivos, sejam Governo (em sistemas parlamentares ou semi-parlamentares) ou chefes de Estado (sistemas presidencialistas), olham para os últimos tempos de funções como um mero cumprimento de calendário, aguardando passivamente o dia em que os seus sucessores lhes tomem o lugar. Regra geral, a um, dois anos do término do mandato, há uma espécie de ideia tácita que pouco já nada há fazer, adiando-se grandes decisões e políticas para o próximo Executivo. Em países como Portugal, por exemplo, existe um consenso político-partidário em que os governantes que se encontrem nessa situação, ou seja, com a porta da rua semi-aberta, já não podem ousar assumir grande protagonismo, correndo o risco de serem acusados de estarem a condicionar o trabalho dos seus sucessores. 

 

Mas a verdade, é que um primeiro-ministro ou um Presidente está de plenos poderes até ao último dia do mandato e, como tal, deve exercê-los com a mesma determinação e convicção como se estivesse a iniciar funções. Nesse episódio aqui referido, e perante o "baixar de braços" do Presidente e de quase todo o "staff", conformados com o fim à vista do seu mandato, entra em cena Leo McGarry (John Spencer), chefe de Gabinete da Casa Branca, experiente e sábio, que, num discurso emotivo, lembra à sua equipa que ainda faltam 365 dias para o mandato terminar e que em cada um destes dias eles tinham o poder, como mais ninguém tinha, de fazer algo pelo bem comum.  

Como em tantas outras passagens daquela série, também esta parece ter sido premonitória em relação ao que Barack Obama viria a fazer (e está a fazer) nos seus dois últimos anos de mandato, aproveitando todas as oportunidades para fazer história. Acordo do clima de Paris, Tratado Trans-Pacífico, reatamento das relações diplomáticas com Cuba, reaproximação ao Irão e agora a visita a Hiroshima, são apenas alguns eventos da agenda externa de Obama dos últimos meses, carregados de significado e importância histórica. Também a nível interno, Obama tem mantido uma actividade política constante, até porque ainda tem alguns dossiers da máxima importância para resolver. Tudo leva a crer que nestes meses finais Obama não irá abrandar a sua acção governativa. E caso isso se confirme, é assim mesmo que deve ser... Presidente até ao último dia.

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

Uma operação "Top Secret" de prestígio

Alexandre Guerra, 25.05.16

 

A operação "Top Secret" levada a cabo pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, e que resultou na detenção de um espião dos Serviços de Informações de Segurança (SIS), é um enorme atestado de competência e de credibilidade para as "secretas" nacionais. Ao contrário do que muitos possam pensar, este episódio digno de um livro do John Le Carré não revela qualquer fragilidade ao nível operacional das secretas nacionais. Pelo contrário, é demonstrativo que a sua capacidade de "contra-espionagem" funciona e tem capacidade de agir na defesa dos interesses da segurança de Portugal e, muito importante, das organizações políticas e de defesa a que pertence, nomeadamente a NATO. 

 

Ovelhas tresmalhadas sempre houve, há e haverá em todos os rebanhos, o que é o mesmo que dizer que nenhum serviço de "intelligence" está livre de não ter nas suas fileiras algum infiltrado a trabalhar para o inimigo. A Guerra Fria está repleta de casos desses, alguns dos quais bastante espectaculares, atendendo ao seu grau de sofisticação e criatividade. Mas já nesta era da globalização pós-queda do Muro de Berlim, têm sido vários os casos de espionagem e contra-espionagem que, de tempos a tempos, ocupam as páginas dos jornais. Assim de repente, recordo dois ou três e, curiosamente, todos eles envolvendo a Rússia. 

 

A operação "Top Secret" resultou de uma investigação que se prolongou durante vários meses, depois de terem surgido as suspeitas sobre o agente do SIS em causa, e só na passada Sexta-feira foi possível reunir todas as condições para apanhar em flagrante delito o espião português num encontro em Roma com um operacional do SVR (ex-KGB) para vender-lhe documentos confidenciais relativos à NATO. Ora, esta detenção só foi possível graças à colaboração pronta da polícia italiana e porque havia um mandado de captura europeu, fazendo desta operação um feito inédito ao nível da parceria trans-europeia em matéria de contra-espionagem. De tal forma, que o próprio Eurojust congratulou-se publicamente pelo sucesso da operação.

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 21.05.16

 

"As falhas fazem parte do processo de construção europeia."

 

Observação feita por Filipe Pathé Duarte, professor de Relações Internacionais, no programa "Olhar o Mundo" da RTP3. Até que enfim que alguém diz alguma coisa acertada em relação ao que se passa na Europa.

 

Um silêncio conveniente

Alexandre Guerra, 16.05.16

 

No dia em que se assinalam os 50 anos da Revolução Cultural lançada pelo líder chinês Mao Tsé-Tung, precisamente a 16 de Maio de 1966, na China reina o silêncio. Não há qualquer referência nem menção por parte das autoridades e meios de comunicação social a esta data. Não se trata de qualquer operação de censura, já que o tema, apesar de tudo, tem sido referido nas redes sociais, sobretudo por causa do "silêncio" de Pequim em relação a um acontecimento que levou à morte de milhares de pessoas e fez retroceder o tecido industrial chinês para níveis rudimentares. Mao Tsé-Tung, apelando a uma juventude supostamente liberta dos vícios do passado, eliminou os seus opositores e destruiu aquilo que considerava ser uma estrutura política e ideológica obsoleta. O resultado foi desastroso para o desenvolvimento da China e só teve um fim com a morte do "Grande Timoneiro" em 1976. Este silêncio de hoje por parte das autoridades chineses não é de estranhar, se tivermos em consideração que em 1981 é o próprio Partido Comunista Chinês (PCC) a reconhecer os malefícios da Revolução Cultural.

 

Apontamentos históricos

Alexandre Guerra, 16.05.16

 

"Para bin Laden a traição do povo saudita começou 24 anos antes do seu nascimento, em 1932, quando Abdul Aziz al-Saud proclamou o seu reino. 'O regime [saudita] começou sob a bandeira da aplicação da lei islâmica e sob este lema todo o povo da Arábia Saudita foi ajudar a família Saud a tomar o poder. Mas Abdul Aziz não aplicou a lei islâmica. O país foi organizado para a sua família. Depois da descoberta do petróleo, o regime saudita encontrou um novo apoio: o dinheiro para tornar as pessoas ricas e lhes proporcionar os serviços e a vida que desejavam e as tornar satisfeitas.'" 

 

Citação de Osama bin Laden de uma das três entrevistas que deu ao correspondente de guerra, Robert Fisk, in A Grande Guerra pela Civilização - A conquista do Médio Oriente (Edições 70)

 

Leituras

Alexandre Guerra, 12.05.16

 

Polonia, purga de directivos hasta en los establos é um artigo do El País absolutamente imperdível (e hilariante) sobre a razia que o novo Governo polaco liderado pela senhora Beata Szydlo, do partido ultra conservador Lei e Justiça, está a fazer nas cúpulas das empresas públicas, demitindo os antigos responsáveis para colocar pessoas ligadas àquela formação política, que tem como líder e ideológo, o populista Jaroslaw Kaczynski. Embora este jogo de cadeiras nada tenha de invulgar para os portugueses, a verdade é que o processo que está a decorrer na Polónia consegue assumir contornos únicos. A história da empresa criadora de cavalos árabes e respectivas éguas é exemplo disso. 

 

A sorte dos conservadores britânicos

Alexandre Guerra, 02.05.16

 

No Daily Telegraph alguém escrevia que o Partido Conservador está a arder descontroladamente por causa do referendo sobre a manutenção do Reino Unido na União Europeia, com vários ministros do Executivo de David Cameron e ilustres representantes tories a digladiarem-se na defesa das suas posições, que estão longe de ser comuns. Uns defendem o "sim" à continuidade do seu país na UE, como é, naturalmente, o caso do primeiro-ministro David Cameron, ajudado pelo seu chanceler, George Osborne, mas há outros que vêem no "Brexit" a melhor solução, com o popular e carismático mayor de Londres, Boris Johnson (que se prepara para deixar o cargo), a liderar esse lado da barricada. A estes nomes de primeira linha juntam-se muitos outros que, diariamente, vão esgrimindo os seus argumentos e vão deixando um rasto de destruição no seio do partido conservador, a três dias das eleições locais, onde, entre outras coisas, vai estar em disputa a Câmara de Londres.

 

A sorte dos tories, como se lia nesse mesmo artigo, é que os trabalhistas tem à frente dos seus desígnios um senhor chamado Jeremy Corbyn, um erro de casting histórico e que transformou aquele partido em algo indefinido, sem alma e identidade, uma sombra do que foi o Labour de Tony Blair ou até mesmo de Gordon Brown.

 

Pág. 1/2