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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Leituras

Alexandre Guerra, 26.10.15

 

Para lá das ondas de choque que crises como a da Ucrânia ou da Síria estão a provocar no "arrefecimento" das relações entre a Rússia e os Estados Unidos, levando a que muitos falem no reaparecimento dos saudosos tempos da "Guerra Fria", são notícias como esta, Russian Ships Near Data Cables Are Too Close for U.S. Comfort, publicada no New York Times e assinada pelos prestigiados David E. Sanger e Eric Schmitt, que fazem realmente acreditar que os jogos das sombras parecem estar de volta.

 

Conseguirá Cristina deixar o "Kirchnerismo" como legado?

Alexandre Guerra, 23.10.15

 

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Na Argentina está a chegar ao fim mais uma dinastia política. Depois do "Peronismo" nos anos 40/50 e 70, agora é a vez do "Kirchnerismo" começar a arrumar-se no arquivo da história política daquele país da América do Sul. No próximo Domingo, os argentinos vão às urnas para escolher um novo Presidente, que tomará posse a 10 de Dezembro, o dia em que formalmente Cristina Fernández de Kirchner terminará o seu segundo mandato. Aliás, foi precisamente nesse mesmo dia, mas do ano de 2007, que tomou posse pela primeira vez, após ter vencido as eleições à primeira volta com uma margem considerável. Kirchner tornava-se na primeira mulher a ser eleita para a presidência, mas desde 2003 que estava habituada aos corredores do poder, na qualidade de Primeira Dama do já falecido Presidente Néstor Kirchner, que ocupou a chefia do Estado entre 2003 e 2007.

 

Durante 12 anos os Kirchner dominaram a política da Argentina e a verdade é que, provavelmente, se Cristina Fernández pudesse constitucionalmente concorrer a um terceiro mandato, o mais certo seria vencer. Tal como aconteceu com o "Peronismo", personificado em Juán Perón e potenciado pela endeusada Evita, também Cristina Fernández quer deixar o seu legado político e do falecido marido. O "Kirchenismo" é já um conceito aceite pela imprensa e elites, mas talvez ainda seja cedo para se prognosticar a sua longevidade e influência no futuro político da Argentina.

 

Um fim prematuramente anunciado

Alexandre Guerra, 21.10.15

 

Quando há uns anos se prognosticou o fim das reservas mundiais de petróleo, ninguém diria que nos dias que correm alguns países teriam excedentes nos seus stocks acima do que seria expectável, consequência de uma oferta maior que a procura. É precisamente isso que está a acontecer nos Estados Unidos, com as suas reservas armazenadas a aumentarem nos últimos tempos e a ficarem muito próximas dos valores mais altos em 80 anos. 

 

Krugman

Alexandre Guerra, 19.10.15

 

Muitos concordam e outros tantos discordam dele, mas é inegável que Paul Krugman, Nobel da Economia, colunista do New York Times e, sobretudo, figura mediática, tem sido uma das vozes mais sensatas e esclarecedoras na descodificação das complexidades do Velho Continente aos olhos dos americanos. A coluna que assina hoje no NYT é exemplo disso. 

 

A solução do mal menor à vista de todos

Alexandre Guerra, 12.10.15

 

Nestas coisas da Política (leia-se a arte de governar) é preciso habilidade, alguma criatividade e até mesmo ousadia, porque, normalmente, as possibilidades de escolha com que um governante (ou aspirante a tal) se depara são (quase que por definição) males menores. Na verdade, raras são as vezes em que o decisor pode optar pela solução (quase) perfeita, já que esta não se enquadra no quadro normal da Política. Aliás, se um qualquer governante tivesse pela frente opções virtuosas óbvias e inequívocas, o seu papel estaria de tal forma facilitado que poderia ser desempenhado por qualquer um, assente num critério meramente técnico. 

 

Como disse um antigo pensador da Antiguidade, se todos fôssemos anjos, então a Política não seria necessária. Mas, a realidade é que vivemos no reino dos homens e cabe ao político governá-los, normalmente, em cenários adversos quando se trata do processo de decisão. E quando todas as vias se esgotam, a decisão do político poderá implicar a escolha de um caminho menos ortodoxo, para lá das regras estabelecidas nos manuais ou, até mesmo, da prática política. 

 

Este pensamento vem a propósito do mais recente quadro pós-eleitoral em Portugal, marcado por um impasse na formação de Governo, no qual muitos políticos, analistas e comentadores têm dissertado, mas sem que qualquer um deles tenha visto o óbvio: é preciso ir à procura da solução do mal menor e ela está à vista de todos, sendo uma mistura de política pura e dura com aritmética básica. 

 

Actualmente, a coligação PSD-CDS tem 104 lugares na Assembleia da República, precisando de 12, e apenas 12, para ter a maioria absoluta no Parlamento. Ou seja, não precisa de mais deputados além desses. Perante a dificuldade que se vislumbra, pelo menos até ao momento, num acordo com o principal partido da oposição (que até ameaça coligar-se com outras forças de esquerda para formar Governo, embora não tenha sido o partido mais votado) , os estrategos da coligação governamental deviam focar-se antes na forma de como arranjar mais 12 deputados para poderem viabilizar os principais diplomas na Assembleia nos próximos quatro anos.

 

Refira-se, aliás, que isso já foi feito em Portugal com um Governo de minoria, liderado na altura por António Guterres, embora na altura tenha apenas precisado de "arranjar" só mais um deputado da Assembleia para aprovar os orçamentos de 2001 e 2002. Neste caso em concreto, Guterres foi à bancada do CDS-PP negociar com o deputado Daniel Campelo que, na defesa dos interesses da sua região (tinha sido eleito pelo círculo de Viana do Castelo), chegou a acordo com o primeiro-ministro. Diga-se que o negócio foi proveitoso para ambos: Guterres conseguiu manter o seu Governo em funções e Campelo tornou-se o exemplo de um deputado e autarca que colocou os interesses da sua região acima das lógicas partidárias. 

 

O "negócio" que Guterres e Campelo fizeram é uma prática bastante comum, por exemplo, no Congresso norte-americano, sendo usual ver-se congressistas democratas a viabilizarem legislação republicana e vice-versa, e isto não implica necessariamente acordos alargados entre as cúpulas dos dois partidos. Tudo depende do que se negoceia. Ora, os homens que estão nos bastidores da coligação não parecem ter esta noção e parecem querer insistir numa solução idílica (coligação com PS), esquecendo-se que na Política às vezes as soluções possíveis são aquelas que resulta do pragmatismo, da dureza e até mesmo do cinismo. 

 

Assim de repente, o Diplomata identifica três ou quatro nomes do PS que, certamente, estariam abertos a viabilizar os orçamentos da coligação na Assembleia da República, por estarem descontentes com o rumo que António Costa estar a dar a todo este processo. Seguramente, que, com jeitinho, seria possível encontrar-se mais alguns "descontentes" na bancada do PS e que estariam dispostos, em nome da Pátria, de sustentar a actual coligação no Governo em vez de virem o seu partido a coligar-se com o PCP ou BE.

 

Premonitório

Alexandre Guerra, 09.10.15

 

Sempre atento às novidades editoriais em Portugal (e não só), o Rui Calafate já me tinha falado em Abril último de um grande livro chamado "O Fim do Homem Soviético - Um tempo de desencanto", editado recentemente pela Porto Editora. Fiquei com muito interesse de o ler, mas até ao momento ainda não o fiz. Ontem, fiquei a saber que a sua autora é a nova Prémio Nobel da Literatura, Svetlana Alexievich. É caso para dizer que o Rui foi premonitório.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 05.10.15

 

"Considero que qualquer resultado será bom e deve ser respeitado por todos nós. Isso decorre do facto crucial de as eleições terem decorrido em total liberdade ordeira, sem violência, sem perseguições e sem ameaças. Isso significa que cada eleitor pôde votar de acordo com a sua consciência."

 

Bem a propósito este princípio que o conservador João Carlos Espada lembra hoje no seu artigo do Público, porque muitos comentadores, analistas e líder políticos parecem esquecer-se da essência da democracia nas noites eleitorais. Para quem acredita verdadeiramente na Democracia, qualquer resultado que assente naquele princípio é de facto sempre um bom resultado.